Essencialmente, o cenário sociocultural brasileiro, deteriorado e bastante defasado, é uma realidade que os próprios brasileiros não conseguem enxergar. Imaginam que o Brasil não só acertou o relógio com o mundo como pretende comandá-lo, mesmo quando se vê valores extremamente atrasados voltados a cafonice, ao obscurantismo religioso, ao pragmatismo da vida e à vaidade invertida típica de um viralatismo cultural enrustido.
Com tantos "brinquedos culturais" guardados no armário, de "médiuns de peruca" a funqueiras popozudas, as esquerdas médias desistiram de serem esquerdas praticantes e, se limitando a serem apenas esquerdas autoproclamadas, agora fazem um "marxismo à moda da casa" ao som de "Xibom Bom Bom", sucesso de As Meninas, cuja reputação de "hino marxista" é tão ridícula quanto definir "Atirei o Pau no Gato" como hino da guerrilha guevarista-bolivariana latino-americana.
Nosso Brasil está num atraso retumbante, coisa de fazer careca arrancar os cabelos. Subcelebridades, ídolos popularescos, a carteirada por baixo dos que pensam que ser "gente como a gente" é passar pano nos próprios erros e defeitos, o "trauma" da Seleção Brasileira de Futebol não conquistar o "hexa" contrastando com a conformação bovina de um aumento de apenas 90 reais do salário mínimo, isso tudo mostra o quanto nosso país está sofrendo uma catástrofe e ninguém percebe.
Quando percebe, atribui-se de maneira simplória e fácil a responsabilidade única a Jair Bolsonaro e seus séquitos. Mas eles mesmos são um subproduto de um culturalismo vira-lata que não é só raiva nem cara feia. Há muita coisa "legal" que muita gente não percebe que faz parte do mesmo esgoto cultural do qual emergiram Sérgio Moro, Jair Bolsonaro, Carla Zambelli, Roberto Jefferson etc.
Sucessos de "funk", "nudes" de mulheres-frutas, "frases de médiuns" que servem de "filosofia" para quem é ignorante e tem preguiça de encarar os verdadeiros pensadores, e supervalorização de nomes medianos do exterior, seja o seriado Chaves - um humor datado que só é visto como "vanguarda" no Brasil - , seja Michael Jackson, um cantor bem abaixo da reputação que conquistou no Brasil, bem longe do "gênio" que muitos imaginam que ele sempre foi.
Nosso culturalismo é precário, e, para piorar, os "novos ventos" do governo Lula nos convidam a aceitar tudo "como está", apenas eliminando as crostas raivistas associadas ao bolsonarismo. Ou seja, se algo é uma bosta e não está ligado à estética da raiva e à gramática do hidrofobês, é "progressista" ou "democrático", mesmo sendo algo até nocivo à população.
Religioso dizer, com voz suave e um leve sorriso, que "todos devem sofrer calados desgraças sem fim", vira "progressista" porque não tem a boca espumada de raiva de um Silas Malafaia e se esconde sob uma caridade fajuta que nunca ajudou regiões como o Triângulo Mineiro, que em nenhum momento viram cumprir a promessa de um "médium" de transformar a região mineira na Escandinávia brasileira.
Tudo agora virou "democracia", palavra que serve como eufemismo para um país qualquer nota, para um Brasil que só resolverá precariamente seus problemas, com Lula transformado, finalmente, no cosplei de Dom Pedro II, vendendo um neoliberalismo assistencialista como se fosse "socialismo democrático". E isso prometendo fazer muito e demonstrando que fará muito pouco.
Mas, para a "boa" elite do atraso, que não quer ser chamada por este nome porque não quer ser confundida com a horda de raivistas do bolsonarismo, tanto faz um Brasil atrasado mas arrumadinho. Sem debates culturais, sem muito senso crítico, apenas "amor" e "paz", eufemismos para a permissividade da mediocridade sem raiva desse culturalismo retrógrado, que trata a pobreza das classes populares como "identidade" e "ideal de vida" e não como um problema social.
Sendo assim, não dá para o Brasil progredir, com a perspectiva de manter a mesma breguice organizada dos tempos do general Ernesto Geisel, com uma linhagem de "heróis" musicais, religiosos e esportivos que segue os mesmos padrões de 1974-1979. Desejar apenas um "milagre brasileiro" sem violência e sem raiva e manter um Brasil medíocre mas alegre e conformado com sua inferioridade é recusar melhorias reais. Ser ruim sem raiva não é superar os estragos do bolsonarismo, mas reafirmá-los.
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