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O BRASIL QUE NÃO CABE NA POSITIVIDADE TÓXICA DO "NOVO PAÍS"

COMUNIDADE TIJOLINHO DA MOOCA, MONTADA DENTRO DE UM GALPÃO DE UMA FÁBRICA ABANDONADA NO FAMOSO BAIRRO DA ZONA LESTE DE SÃO PAULO.

Há um Brasil que não cabe na tal Farofa da G-Kay, que não faz parte da felicidade tóxica de uma classe média brasileira que se acha dona de tudo, não cabe nas narrativas da intelectualidade pró-brega que se diz "sem preconceito", e nem mesmo não aparece com nitidez no imaginário paternalista dos lulistas.

Enquanto a Casa Grande brinca de ser Senzala se achando o Quilombo, a sociedade de verdadeiros excluídos sociais - não os funqueiros que esbanjam coitadismo nos programas de TV - sofre horrores, vivendo uma agonia sem fim.

Há inúmeros casos, dos mais diversos tipos. Tem problemas de mobilidade urbana, que fazem com que cadeirantes tenham que passar por meio da rua, sob o risco de serem atropelados pelos carros, porque as calçadas, irregulares e cheias de degraus entre uma residência e outra, não permitem a acessibilidade de portadores de limitações físicas. Eu mesmo vi um cadeirante, que me cumprimentou, obrigado a encarar esse suplício na Rua Ouro Grosso, na Casa Verde, aqui em São Paulo.

E há os problemas da cracolândia, que é o refúgio nefasto de quem não tem a quem recorrer, e acaba se afundando nas drogas e na violência, encarando um cotidiano cheio de tensões, brigas, crimes e mortes. É um problema nacional, que certamente não são levados muito a sério por religiosos que mais parecem "Pôncios Pilatos disfarçados de Jesus Cristo", como, por exemplo, setores conservadores do Catolicismo e a "nata" do Espiritismo brasileiro, que preferem fazer apologia do sofrimento humano e dizer que "desgraça sem limites é caminho mais curto para o céu".

E temos os problemas das moradias, que só em São Paulo, a capital, mostra um déficit habitacional de 369 mil pessoas, com 12 mil vivendo em prédios antigos e condenados a desabarem de tão frágeis. No entorno do Paissandu, o antigo prédio Wilson Paes de Miranda, em 01º de maio de 2018 - eu ainda morava em Niterói, nessa época - , sofreu um incêndio e desabou, matando sete pessoas. Na Avenida São João, nas proximidades, há edifícios sob o mesmo risco.

Também vi, na Avenida 23 de Maio, um edifício abandonado que foi invadido por sem teto, que criaram um condomínio improvisado. Algo semelhante ao que vi em Niterói, na Avenida Ernâni do Amaral Peixoto, próximo à Rua Luís Leopoldo Fernandes Pinheiro (extensão da Rua Barão do Amazonas), num prédio depois desapropriado e lacrado com blocos de cimento. Os antigos moradores, pelo menos boa parte deles, tiveram que se mudar para um prédio abandonado na Rua Dr. Celestino, na proximidade.

Há gente sem emprego, sem moradia, há um Brasil excluído e realmente excluído. Não são os "excluídos" que fazem festinha nos programas de auditório, esbanjam vitimismo barato, seja no "funk" ou no futebol, mas os excluídos da vida real, aos quais nem mesmo as esquerdas conseguem ver com sincera consideração.

Paciência. Nossa "classe média de Oslo" segue uma linhagem que remete à antiga Casa Grande. Nossa intelectualidade "sem preconceitos" que exalta a cultura brega-popularesca remete aos antigos intelectuais escravistas. Temos uma esquerda intelectual que passa pano na breguice. Tivemos inconfidentes que se diziam "iluministas" mas também eram escravistas.

Temos uma elite que estabelece limites na apreciação do povo mais pobre. Nossa "cultura popular" difundida pela mídia é uma "cultura de cativeiro", que de tão medíocre e hipócrita faz com que o pouco de personalidades de origem humilde se enriquece e passa a integrar a burguesia. Daí as "farofas" que mostram a multidão popularesca vivendo o mesmo luxo vazio e hedonista dos ricaços.

Temos um padrão de "filantropia" que nada resolve de concreto, só servindo como ação paliativa que promove mais o suposto benfeitor, enquanto pouco beneficia os mais necessitados. E isso faz com que as aberrantes figuras dos "médiuns espíritas" se valham do gosmento culto à personalidade, indiferentes ao sofrimento alheio, ao qual chegam mesmo a defender sua manutenção, sob a desculpa de "encurtar o caminho até Deus".

Enfim, esse Brasil precisa ser discutido. Precisamos ver com mais humildade e dedicarmos a assistir de verdade os mais necessitados. O mercado de trabalho, por exemplo, precisa encontrar os profissionais certos, em vez de, em muitos casos, ficar procurando "comediantes de stand up" para os cargos funcionais, ou criar concursos públicos para nível médio com programa de nível universitário.

Da mesma forma, devemos pensar em moradias dignas, em desfavelização, criando políticas maciças de construção de condomínios populares. Devemos pensar a acessibilidade nos bairros populares, para que nossos deficientes, idosos ou outros portadores de limitações físicas não sofram ao saírem de casa. É mais do que urgente pensar nesse país que está fora das mentes espetacularizadas de uma classe média metida a altruísta, que aderiu a um Lula domesticado pela Faria Lima.

Este Brasil excluído de verdade é que é o novo Brasil, um país ainda nascente, que precisa de atenção e medidas de socorro autêntico. É um país fora das festas popularescas e dos assistencialismos espiritualistas, fenômenos que só veem o pobre como se fosse um animalzinho doméstico. 

Esse novo Brasil, doloroso, triste, melancólico, precisa falar, mas talvez seja necessário também evitar os filtros da mídia dominante de hoje. Precisamos repensar o Brasil, este país que a classe média brasileira desconhece por completo.

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