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LULA NÃO É O CENTRO DO MUNDO

LULA FAZ REVISTA À TROPA DURANTE VISITA AOS EMIRADOS ÁRABES UNIDOS.

Pode ser desagradável a muita gente eu escrever que Lula não deveria viajar para o exterior agora. Em primeiro lugar, porque Lula descumpriu a promessa de priorizar a chamada "reconstrução do Brasil" e o combate à fome, que o fez desperdiçar lágrimas durante a campanha. Em segundo lugar, porque tem gente na sua equipe de governo que pode muito bem fazer acordos por lá.

Enquanto Lula se torna o astro pop da politica internacional, figurando na lista das 100 personalidades mais influentes no mundo, com uma popularidade que fez o presidente, feio e preocupantemente envelhecido, até forçar a barra se comparando a Brad Pitt, o Brasil continua vivendo as mesmas tensões sociais dos tempos de Temer e Bolsonaro e os representantes do governo Lula não conseguem obter apoio do Congresso Nacional, predominantemente conservador.

Já se fala que o Salário Mínimo só vai aumentar, no próximo ano, para R$ 1.389, sem ganho real. Isso parece coisa do governo Bolsonaro, mas é o governo Lula, e o presidente foi se pavonear na China e nos Emirados Árabes, quando poderia aproveitar seu carisma e seu talento de negociador para mexer com as coisas daqui.

Mesmo as parcerias econômicas com a China e os Emirados ÁrabesUnidos, relacionadas à nossa Economia, podem muito bem serem negociadas pelo trio de técnicos que Lula se dispõe para a missão: o vice e ministro do Desenvolvimento Econômico, Geraldo Alckmin, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Aloízio Mercadante. 

Os três, submetidos à orientação de Lula, poderiam muito bem negociar com os governantes chineses e emiráticos parcerias quanto a investimentos financeiros e de infra-estrutura, incluindo indústrias, sem prejuízo para os interesses do presidente. E a extradição do empresário Thiago Brennand, acusado de estupro e agressão e foragido nos Emirados Árabes, poderia muito bem ser feita pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, junto ao ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.

Lula não precisava viajar para o exterior. Tem representantes dispostos e com habilidade suficiente para uma negociação satisfatória. Mas Lula quis viajar porque ele queria ser o fetiche político, pois era ele o espetáculo da personalidade política que se ostenta para o mundo, e infelizmente a "boa" sociedade brasileira, pelo menos desde a eleição de Jânio Quadros em 1960, prefere o espetáculo político, não a execução de tarefas técnicas.

Lula não pode ser o centro do mundo. Ele não é o presidente da Organização das Nações Unidas (ONU) para articular a paz entre Rússia e Ucrânia. Não é, da mesma forma, o diplomata a ficar falando com autoridades estrangeiras, enquanto os brasileiros pedem para que o presidente fique presente em território nacional para cuidar das pessoas.

Sua obsessão em viajar e discursar fez até com que Lula causasse mal-entendidos sem necessidade, como em comentários criticando a supremacia do dólar e a obsessão dos EUA pela guerra contra a Rússia. A obsessão de Lula por uma frente ampla, nacional e internacional, faz com que o presidente se perca nas tentativas de pender de um lado para outro, da centro-direita e da esquerda.

É por isso que Lula teve uma vitória eleitoral apertada e está perdendo apoio. Só a classe média abastada, os 30% que votaram em Lula no ano passado, é que estão satisfeitas. Elas não são pobres, vivem de considerável conforto, embora sejam uma minoria com um complexo de superioridade bastante doentio, se achando "dona" da verdade, do mundo, do povo pobre, do Saber que ignoram (síndrome de Dunning-Kruger) e agindo como se fossem "bolsonaristas do bem".

Mas, fora disso, vemos os miseráveis da cracolândia saqueando mercados e farmácias, pelo desespero de pegar remédios e alimentos. Vemos o Jacarezinho, no Rio de Janeiro, e Valéria, em Salvador, com violência sem fim. Vemos pobres, sejam trabalhadores ou desempregados, sejam favelados ou sem-teto, se sentindo abandonados e se entristecem porque só recebem benefícios paliativos, que são precários e provisórios.

Enquanto Lula se ostenta pelo mundo afora, o Brasil grita por uma reconstrução que não se vê ocorrer. Não há resultados práticos, só há promessas, propostas e opiniões, ou, quando muito, projetos de ações. Os "40 anos em 4" prometidos por Lula até agora não aconteceram, embora a "boa" sociedade acredite que já ocorrem, confundindo movimentação de fatos políticos com "ações" para o país.

Também, nossa "boa" sociedade, a elite do atraso que não quer ser conhecida desta forma porque senão ela chora, fecha os vidros de seus carros ou já compram automóveis com vidros fumê e ar condicionado para não encarar os miseráveis que pedem uma pequenina esmola. Apesar disso, essa "boa" sociedade ainda vai para as redes sociais dizer que "entende de pobre" e, por outro lado, não é capaz de ouvir os alertas e críticas deste blogue.

Para elas, importa é o Lula popstar, que, apesar de estar mais para o Gandalf do Senhor dos Anéis do que para o Brad Pitt do imaginário feminino, é tido como "galã". Só que não precisamos de presidente que seja visto, erroneamente ou não, como galã. Devemos parar de brincadeira. 

A "boa" sociedade se confunde sem dizer se o Brasil ainda vai ser reconstruído ou se a reconstrução se concluiu da noite para o dia. As tensões sociais dos tempos golpistas de 2015-2022 continuam intensas e preocupantes, mas elas não aparecem no Brasil-Instagram da "gente bem" que aplaude de pé o turismo pop do Lula, queridinho da Faria Lima e da revista Time, que se acha o "centro do mundo".

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