Pular para o conteúdo principal

A DECADÊNCIA DA GLOBO E FOLHA, VITRINES DO CULTURALISMO BREGA


Vitrines do culturalismo brega e artífices da campanha pela bregalização cultural, os grupos Globo e Folha estão associados a episódios de profunda decadência, ocorridos nas últimas semanas, demonstrando que os tempos da mídia corporativa, se estão longe de acabar, já não vivem os grandes tempos de anos atrás.

O Grupo Globo, que já "enxugou" as redações da imprensa escrita, unificando as equipes dos jornais Globo e Extra, causou profunda revolta quando demitiu mais de 50 profissionais da Rede Globo e da Globo News, sob desculpa de "reestruturação" e "corte de grandes salários". O Dia do Jornalista, 07 de abril último, foi celebrado em grande clima de luto.

Já a Folha de São Paulo, que escondeu seu tenebroso passado de auxiliar da repressão ditatorial, com suas viaturas, que normalmente distribuem jornais, transportando presos políticos, entre os anos 1990 e 2002 parecia quase vanguardista, soando uma dondoca reacionária mas relativamente culta e culturalmente populista. Mas nos últimos meses a FSP queria soar mais careta do que o Estadão, que, por ironia, está mais contido no seu conservadorismo, embora esta postura fosse mantida de certo modo.

Essa decadência, pontuada com a atitude da CNN Brasil, franquia agora "dirigida" por João Camargo - o magnata da Faria Lima que queria os roqueiros sentados no seu colo através da canastrona 89 FM - , de contratar os anti-jornalistas Janaína Paschoal e Caio Coppolla, na contramão das demissões de profissionais competentes da Rede Globo / Globo News, mostra o quanto a situação do Brasil está difícil.

As esquerdas que apoiam Lula é que mudaram, quando se observa a saudade de seus comentaristas de um país neoliberal e a solidariedade dada aos neoliberais e direitistas moderados em geral que tratam o atual presidente da República de maneira amistosa. Fernando Henrique Cardoso, José Sarney, Pedro Malan e Armínio Fraga agora são "amigos de infância" dos lulistas e até o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, tem uma reputação entre os lulistas comparável à de André Janones.

Nossas esquerdas são de classe média e nem tão revolucionárias assim. São pequeno-burguesas, para lembrar de um jargão do sindicalismo de esquerda, hoje menosprezado. Nota-se que as esquerdas dos últimos 20 anos não são muito exigentes em seus princípios, desejando viver num Brasil de direita, porém sem raiva nem intolerância. As esquerdas não querem um Brasil socialista, mas um Brasil neoliberal que soe como um "milagre brasileiro" sem generais ditadores nem órgãos de tortura e censura.

Os "brinquedos culturais", que em parte foram empurrados para a classe média através da Rede Globo e da Folha de São Paulo, ilustram esse conservadorismo light das esquerdas médias, as esquerdas mainstream que tomam as rédeas do que oficialmente é considerado "pensamento de esquerda", antes conhecido como "centro-esquerda", agora definido como "democracia".

Foi a Rede Globo e a Folha de São Paulo que importaram o culturalismo brega de "médiuns" e "bispos", funqueiros, mulheres-objetos, ídolos cafonas mais antigos, breganejos etc, que integravam o "baixo clero" do culturalismo midiático que envolvia uma mídia mais populista, embora secundária no status mercadológico. 

Uma TV Tupi decadente e uma Última Hora controlada por empreiteiros (lembra uma parte da imprensa da Era Michel Temer, vendida para grupos administradores de shoppings ou empreiteiras), nos anos 1970, se juntavam aos embriões do SBT e da atual Record TV, da imprensa policialesca audiovisual ou impressa, das revistas de fofocas e das rádios popularescas em geral. 

Esse era o "mundo bisonho" do culturalismo popularesco que, mais tarde, foi ressignificado com a ajuda do apelo popular, porém relativamente refinado, da Rede Globo, e do intelectualismo tendencioso da Folha de São Paulo. 

O "funk", uma "colcha de retalhos" de valores culturalistas oriundos da ditadura militar, que desenhou um padrão rígido de precarização artístico-cultural, tornou-se esse exemplo ilustrativo da gourmetização via Globo e Folha, com a Globo agregando socialmente o "funk" e a Folha contribuindo para um discurso ideológico mais "intelectualizado".

E o "funk" foi acolhido por esquerdas identitárias que fingem admirar fielmente o movimento operário que antes era raiz do esquerdismo popular. São esquerdas que fazem o maior Carnaval ("baile funk"?) com a redução de apenas UM REAL do preço da carne, achando que basta essa quedinha mixuruca para o povo pobre encher o congelador com estoques de carne de primeira.

Essas esquerdas apenas ficam assustadas com o raivismo. Quando o conservadorismo entra no modo "Mr. Hyde", as esquerdas médias protestam, vendo nelas uma ameaça fascista das mais preocupantes. Mas se o conservadorismo está no modo "Dr. Jekyll", mesmo quando religiosos de vozes melífluas, como os "médiuns espíritas", falam para os aflitos aguentarem e até passarem a gostar de sofrer desgraças, com uma linguagem próxima da calma paternal, as esquerdas aceitam e passam pano.

Os casos da Globo e Folha mostram que os fornecedores de "brinquedos culturais" para as esquerdas "esclarecidas", bem intencionadas mas em dado momento fazendo coro ao culturalismo "sem preconceitos" mas cheio dos piores preconceitos, alertam para a ilusão da direita educada que sempre tratou os esquerdistas como seus bonecos ventríloquos, suas mascotes ou seus pupilos dóceis e quase servis.

Chega um momento e o Dr. Jekyll do culturalismo brega e seus "brinquedos" da direita civilizada se transforma no Mr. Hyde do fascismo tropical. Isso porque boa parte do "bom" culturalismo de ídolos cafonas, "médiuns", mulheres calipígias etc que as esquerdas enganosamente acolhem como "seu patrimônio", são filhos de um culturalismo mais sombrio, difundido durante a Era Geisel e ingenuamente visto pelas crianças e adolescentes que hoje são a nata dos jornalistas de esquerda que respaldam o lulismo domesticado da Faria Lima.

A decadência da Globo e Folha, como a decadência de Roberto Carlos, antes visto como um suposto "modernizador" cultural das esquerdas festivas, mostra o quanto é difícil idealizar, dentro dos quintais o culturalismo brega, um Brasil progressista. É como fazer limonada de uma barra de chumbo. Muito pensamento desejoso que se faz para "esquerdizar" um mundo de direita moderada sempre esbarra nos ovos da serpente dos futuros surtos fascistas. Vide um Zezé di Camargo que as esquerdas pensavam ser um aliado seu e que, mais tarde, tornou-se fiel guardião do bolsonarismo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

BRASIL QUER SER POTÊNCIA COM VIRALATISMO

A "CONQUISTA DO MUNDO" DO BRASIL COMO "POTÊNCIA" É APENAS EXPRESSÃO DE UMA ELITE QUE SE SENTE NO AUGE DO PODER, A BURGUESIA ILUSTRADA. A vitória de uma equipe de ginástica rítmica que se apresentou ao som da tenebrosa canção "Evidências", composição do bolsonarista José Augusto consagrada pela dupla canastrona Chitãozinho & Xororó, mostra o espírito do tempo de um Brasil que, um século depois, vive à sua maneira os "anos loucos" ( roaring twenties ) vividos pelos EUA nos anos 1920. É o contexto em que as redes sociais espalham o rumor de que o Brasil já se tornou "potência mundial" e se "encontra agora entre os países desenvolvidos", sinalizando a suposta decadência do império dos EUA. Essa narrativa, própria de um conto de fadas, já está iludindo muita gente boa e se compara ao mito da "nova classe média" do governo Dilma Rousseff. A histeria coletiva em torno do presidente Lula, que superestima o episódio do ta...

TEM BRASILEIRO INVESTINDO NO MITO MICHAEL JACKSON

Já prevenimos que o cantor Michael Jackson, que teria feito 67 anos ontem, virou um estranho fenômeno "em alta" no Brasil, como se tivesse sido "ressuscitado" em solo brasileiro. Na verdade, o finado ídolo pop virou um hype  tão sem imaginação que a lembrança do astro se dá somente a sucessos requentados, como "Beat It", "Billie Jean" e "Thriller". Na verdade, essa reabilitação do Rei do Pop, válida somente em território brasileiro, onde o cantor é supervalorizado ao extremo, a ponto de inventar qualidades puramente fake  - como alegar que ele foi roqueiro, pesquisador cultural, ateu, ativista político etc - , é uma armação bem articulada tramada pela Faria Lima, sempre empenhada em ditar os valores culturais que temos que assimilar. De repente Michael Jackson começou a "aparecer" em tudo, não como um fantasma assombrando os cidadãos, mas como um personagem enfiado tendenciosamente em qualquer contexto, como numa estratégia de...

A MIRAGEM DO PROTAGONISMO MUNDIAL BRASILEIRO

A BURGUESIA ILUSTRADA BRASILEIRA ACHA QUE JÁ CONQUISTOU O MUNDO. Podem anotar. Isso parece bastante impossível de ocorrer, mas toda a chance do Brasil virar protagonista mundial, e hoje o país tenta essa façanha testando a coadjuvância no antagonismo político a Donald Trump, será uma grande miragem. Sei que muita gente achará este aviso um “terrível absurdo”, me acusando de fazer fake news ou “ter falta de amor a Deus”, mas eu penso nos fatos. Não faço jornalismo Cinderela, não estou aqui para escrever coisas agradáveis. Jornalismo não é a arte de noticiar o desejado, mas o que está acontecendo. O Brasil não tem condições de virar um país desenvolvido. Conforme foi lembrado aqui, o nosso país passou por retrocessos socioculturais extremos durante seis décadas. Não serão os milagres dos investimentos, a prosperidade e a sustentabilidade na Economia que irão trazer uma cultura melhor e, num estalo, fazer nosso país ter padrões mais elevados do que os países escandinavos, por exemplo....

BEATITUDE VERGONHOSA… E ENVERGONHADA

A idolatria aos chamados “médiuns espíritas” - espécie de “sacerdotes” desse Catolicismo medieval redivivo que no Brasil tem o nome de Espiritismo - é um processo muito estranho. Uma beatitude rápida, de uns poucos minutos ou, se depender do caso, apenas um ou dois dias, manifesta nas redes sociais ou pelo impulso a algum evento da mídia empresarial, principalmente Globo e Folha, mas também refletindo em outros veículos amigos como Estadão, SBT, Band e Abril. Parece novela ruim esse culto à personalidade que blinda esses charlatães da fé dita “raciocinada” - uma ideia sem pé nem cabeça que pressupõe que dogmas religiosos teriam sido “avaliados, testados e aprovados” pela Ciência, por mais patéticos e sem lógica que esses dogmas sejam - , tamanho é o nível de fantasias e ilusões que cercam esses farsantes que exploram o sofrimento humano.  Os “médiuns” foram e são mil vezes mais traiçoeiros que os “bispos” neopentecostais, mas são absolvidos porque conseguem enganar todo mundo com u...

MICHAEL JACKSON: O “NOVO ÍDOLO” DA FARIA LIMA?

MICHAEL JACKSON EM SUA DERRADEIRA APARIÇÃO, EM 24 DE JUNHO DE 2009. O viralatismo cultural enrustido, aquele que ultrapassa os limites do noticiário político que carateriza o “jornalismo da OTAN” - corrente de compreensão político-cultural, fundamentada num “culturalismo sem cultura”, que contamina as esquerdas médias abduzidas pela mídia patronal - , tem desses milagres.  O que a Faria Lima planeja em seus escritórios em Pinheiros e Itaim Bibi (nada contra esses bairros, eu particularmente gosto deles em si, só não curto as ricas elites da grana farta) acaba, com uma logística publicitária engenhosa, fazendo valer não só nas areias do Recreio dos Bandeirantes, mas também nos redutos descolados de Recife, Fortaleza e até Macapá. Vide, por exemplo, a gíria “balada”, jargão de jovens ricos da Faria Lima para uma rodada de drogas alucinógenas. Pois a “novidade” trazida pelos farialimeiros que moldam o comportamento da sociedade brasileira através da burguesia ilustrada, é a “ressurrei...

MÚSICA BREGA-POPULARESCA É UM PRODUTO, UMA MERA MERCADORIA

PROPAGANDA ENGANOSA - EVENTO NO TEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO EXPLORA A FALSA SOFISTICAÇÃO DO CONSTRANGEDOR SUCESSO "EVIDÊNCIAS", COM CHITÃOZINHO & XORORÓ. O Brasil tem o cacoete de gourmetizar modismos e tendências comerciais, como se fossem a oitava maravilha do mundo. Só mesmo em nosso país os produtores e empresários do entretenimento, quando conseguem entender a gramática de um fenômeno pop dos EUA e o reproduzem aqui - como, por exemplo, o Rouge como imitação das Spice Girls e o Maurício Manieri como um arremedo fraco de Rick Astley - , posam de “descobridores da roda”, num narcisismo risível mas preocupantemente arrogante. Daí que há um estigma de que nosso Brasil a música comercial se acha no luxo de se passar por “anti-comercial” usando como desculpa a memória afetiva do público. Mas não vamos nos iludir com essa mentira muito bem construída e muito bem apoiada nas redes sociais. Você ouve, por exemplo, o “pagode romântico”, e acha tudo lindo e amigável. Ouv...

AS DURAS LIÇÕES DA BOLÍVIA PARA O BRASIL

Na Bolívia, nos últimos anos, o esquerdista Evo Morales foi expulso do poder, a reacionária Janine Anez tomou o poder, depois ela encerrou o mandato e em seguida foi presa e o esquerdista mais do que moderado Luís Arce presidiu o país em seguida. E, agora, é a direita que disputa o segundo turno no nosso vizinho, com os políticos Rodrigo Paz, ex-senador, e Jorge Quiroga, ex-presidente, concorrendo à Presidência da República boliviana. São duras lições para o Brasil e um único parágrafo é bastante para descrever o caso da Bolívia num texto que serve mais para o Brasil. Afinal, o governo Lula fracassou no que se refere ao seu projeto político e não convenceram os “recordes históricos” do chamado “Efeito Lula” porque eles eram fáceis, fantásticos e imediatos demais para serem realidade. Devemos insistir que não dá para fazer reconstrução em clima de festa e, muito menos, sem canteiro de obras. Colheita sem plantação? Com o chefe da nação fora do país? E olha que Lula tem um poder de certa...

LULA VIROU O CANDIDATO DA ELITE “LEGAL” QUE CONTROLA AS REDES

JOVENS DESPERDIÇANDO SEU DIREITO DE ESCOLHA APOSTANDO NA "DEMOCRACIA DE UM HOMEM SÓ" DE LULA. Um levantamento do Índice Datrix dos Presidenciáveis divulgou dados de agosto último, apontando a liderança do presidente Lula no engajamento das redes sociais. Lula teve um aumento de 55% em relação a julho e ocupa o primeiro lugar, com 24,39 pontos. Já Michelle Bolsonaro, um dos nomes da direita brasileira, cai 53%< estando com 18,80 pontos. Ciro Gomes foi um dos que mais cresceram, indo do sexto para o segundo lugar (verificar os pontos). Lula tornou-se o candidato predileto da “nação Instagram/Tik Tok”. Virou o político preferido da elite “legal” que domina as narrativas nas redes sociais. E isso acontece num contexto bastante complicado em que uma parcela abastada da sociedade aposta em Lula como fiador de um desejo insano de dominar o mundo. Vemos começar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de envolvimento em um plano de golpe junto a outros militares. E te...