A bregalização e a precarização de outros valores socioculturais no Brasil estão sendo cobertos por um véu que impede que as investigações e questionamentos se tornem mais conhecidos.
A ideologia do “Jornalismo da OTAN” e seu conceito de “culturalismo sem cultura”, no qual o termo “cultura” é um eufemismo para propaganda de manipulação política, faz com que, no Brasil, a mediocridade e a precarização cultural sejam vistas como um processo tão natural quanto o ar que respiramos e que, supostamente, reflete as vivências e sentimentos da população de cada região.
A mídia de esquerda mordeu a isca e abriu caminho para o golpismo político de 2016, ao cair na falácia do “combate ao preconceito” da bregalização. A imprensa progressista quase faliu por adotar a mesma agenda cultural da mídia hegemônica, iludida com os sorrisos desavisados da plateia que, feito gado, era teleguiada pelo modismo popularesco da ocasião.
A coisa ainda não se resolveu como um todo, apesar da mídia progressista ter que adotar uma agenda cultural mais condizente às suas preocupações sociais. A adesão de ídolos brega-popularescos ao bolsonarismo representou uma desilusão e sinalizou o fracasso do “combate ao preconceito”, fazendo com que os antigos ideólogos sumissem de cena ou mudassem de assunto.
Isso porque o culturalismo da Faria Lima ainda persiste, com seu “vocabulário do poder” (do original words of power), em impor seu poder sobre a população, sob o verniz do hedonismo e do entretenimento. Gírias como “balada” e “galera”, expressões que de forma subliminar manifestam o poder de empresários de casas noturnas e dirigentes esportivos, são o símbolo deste fenômeno analisado pelo falecido jornalista inglês Robert Fisk.
O cenário cultural brasileiro está deteriorado, não por falta da cultura de qualidade. Esta existe, mas fica limitada às suas bolhas, pequenos nichos que se tornam insuficientes para alegar que "tudo está bem". A cultura de péssima qualidade é que prevalece, com a imbecilização gratuita e, de certa forma, tirânica - vide os "tribunais de Internet", por exemplo - , que se torna expressão hegemônica e introduzida no inconsciente coletivo como se fossem hábitos permanentes.
Nunca o empresariado interferiu tanto na cultura popular como hoje em dia. E isso a ponto de ideias aberrantes como a glamourização das favelas, agora convertidas em paisagens de consumo, cenários pós-modernos e habitats naturais do povo pobre, narrativa que tem cerca de 25 anos.
O "culturalismo sem cultura", que é a narrativa que reduz as "guerras culturais" ao âmbito político, governamental e estritamente institucional, favorece o abafamento da verdadeira percepção do problema, quando o entretenimento e a arte são contaminados, no Brasil, por um processo de precarização, imbecilização e deterioração.
O que é feito para abafar essa percepção é que o culturalismo que deteriora o Brasil é marcado sempre por uma simbologia "positiva", seja ela sagrada ou profana, voltada ao hedonismo, ao conforto emocional, à alegria e à paz, o que faz com que quase ninguém seja capaz de entender a gravidade dessa armadilha toda.
O "Jornalismo da OTAN", ou seja, o padrão de narrativas jornalísticas trazido pela imprensa de países integrantes da OTAN - Organização Tratado do Atlântico Norte - , a partir dos EUA, dita a forma de perceber a realidade e acreditar no "culturalismo sem cultura", em que as ferramentas de manipulação incluem Publicidade e Propaganda, Pedagogia e Psicologia, mas sem considerar fenômenos da cultura, da arte e do entretenimento.
Estes entes, cultura, arte e entretenimento no Brasil, tornam-se entes "imaculados" e, supostamente, incapazes de serem objetos de alguma trama traiçoeira do poder dominante. Mesmo rádios popularescas controladas por poderosos fazendeiros aparecem "invisíveis" no discurso intelectual do "combate ao preconceito", enquanto os gerentes artísticos dessas rádios são vistos como "guerrilheiros combatentes", ocultando a verdadeira função de jagunços eletrônicos.
O sistema de valores brasileiro está decadente e algo precisa ser feito. A situação não pode ficar como está e não podemos aceitar que pessoas com algum esclarecimento fiquem passando pano em fenômenos popularescos, no obscurantismo religioso de instituições como o Espiritismo brasileiro - que, na prática, é apenas um "rótulo" para o velho Catolicismo medieval português do período colonial - e em gírias privadas da Faria Lima, como "balada".
Não se pode usar a espiral do silêncio para embarcar no bonde para o precipício das ondas do momento, achando que tudo isso reflete os "viveres e sentires (sic) da população brasileira", enquanto, por trás disso tudo, ricos empresários da Faria Lima manipulam o inconsciente coletivo a ponto de valores planejados nos escritórios empresariais sejam introduzidos no cotidiano comum das pessoas.
Ver o Brasil se tornando um quintal do rico empresariado brasileiro, com executivos de sapatênis ditando o que o povo deve acreditar, curtir, falar e gostar, é uma grande catástrofe. E ainda tem gente achando que o nosso país vai para o Primeiro Mundo. Dessa forma, isso é plenamente impossível.
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