A atriz Denise Fraga, mesmo de maneira muito bem intencionada, cometeu um erro ao dar uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo para divulgar o filme Livros Restantes, dirigido por Márcia Paraíso, com estreia prevista para 11 de dezembro.
Acreditando soar “moderna” e contemporânea, Denise, na melhor das intenções, cometeu um erro na boa-fé, por conta do uso de uma gíria. “As mulheres estão mais protagonistas das suas vidas. Antes esperavam que aos 60 você estivesse aposentando; hoje estamos indo para a balada com os filhos”.
Denise acteditou que a gíria “balada” é uma expressão da geração Z, voltada a juventude contemporânea, o que é um sério equívoco sem saber, Denise cometeu um grave erro de citar uma gíria ligada ao uso de drogas alucinógenas por uma elite empresarial nos agitos noturnos dos anos 1990.
A gíria “balada” virou o sinônimo do “vocabulário de poder” descrito pelo jornalista britânico Robert Fisk. Também simboliza a “novilíngua” do livro 1984, de George Orwell, no sentido de que empobrece o vocabulário, pois “balada” tanto pode ser uma festa numa boate, uma turnê de um DJ ou um jantar entre amigos.
Os brasileiros acreditam, na sua ingenuidade, que “cultura”, no nosso país, é uma virgem imaculada e incorruptível, tanto que, quando se fala em “guerras culturais”, se aposta no “culturalismo sem cultura”, sendo “cultura” somente um eufemismo para propaganda política, usada por governantes para manipular o inconsciente coletivo.
Só que a Faria Lima constituiu, desde 1974, um poder paralelo e auxiliar ao poder ditatorial, criando um modelo de país que atendesse aos interesses estratégicos da burguesia que apoiou a queda de João Goulart em 1964. Por isso vemos um sistema de valores que parece entranhado no cotidiano das pessoas, mas vem de padrões planejados por publicitários, executivos e intelectuais reunidos nos grandes evscritórios do Itaim Bibi.
Nunca o empresariado paulista investiu tanto para manipular a cultura do Brasil, a ponto de tornar perene o descartável, reciclar o obsoleto e fazer com que a mediocridade não só fosse vista como pretensamente genial como também alvo de modismos falsamente nostálgicos.
Para um país capaz de transformar a medíocre canção “Evidências”, com Chitãozinho & Xororó, em “clássico” e tenta lançar velhas canções do finado Michael Jackson como “novas”, tanto faz lançar uma gíria como “balada”, jargão privado de jovens empresários paulistas para um rodízio de ecstasy nas boates dos anos 1990, em uma expressão “universal e atemporal”. Mas vamos combinar que a gíria “balada” caducou há mais de 20 anos e só a bolha da “boa” sociedade brasileira, que “manda” nas redes sociais, é que não sabe disso.
E aí a Faria Lima monetiza milhões e milhões com sua gíria “balada”, imposta para uma juventude desavisada que vive numa sociedade hipermidiática e hipermercantil. E aí pessoas como Denise Fraga caem na pegadinha achando que “balada” é expressão da geração Z. Nada disso. “Balada” é expressão da Faria Lima e símbolo do “vocabulário de poder” que, lá fora, é usado na guerra política e aqui se utiliza “inocentemente” na cultura para iludir e assediar as massas.
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