Pouca gente percebe, mas há um poder paralelo do empresariado da Faria Lima, designado a moldar um sistema de valores a ser assimilado “de forma espontânea” por diversos públicos que, desavisados, tom esses valores provados como se fossem seus.
Do “funk” (com seu pseudoativismo brega identitário) ao Espiritismo brasileiro (com o obscurantismo assistencialista dos “médiuns”), da 89 FM à supervalorização de Michael Jackson, do fanatismo gurmê do futebol e da cerveja, do apetite “original” pelas redes sociais, pelo uso da gíria “balada” e dos “dialetos” em portinglês (como “dog”, “body” e “bike”), tudo isso vem das mentes engenhosas das elites empresariais do Itaim Bibi, na Zona Sul paulistana, e de seis parceiros eventuais como o empresariado carnavalesco de Salvador e o coronelismo do Triângulo Mineiro, no caso da religião “espírita”.
E temos a supervalorização de uma banda como Guns N'Roses, que não merece a reputação de "rock clássico" que recebe do público brasileiro. E como não há coisa ruim que não possa piorar, recentemente canções infantis como "Ilariê", "Lua de Cristal", "Superfantástico", "He-Man" e "Não Se Reprima" passaram a ter um estranho status de "canções de protesto", na carona da risível "Xibom Bom Bom", sucesso de axé-music.
Sim, são valores difundidos pela Faria Lima, o que faz muitos internautas metidos a bacaninhas saltarem da cadeira e achar isso “um absurdo”. Daí que a choradeira vem com “pérolas” do tipo “Se minha felicidade é um subproduto da Faria Lima, não sei o que é ser feliz na vida”. E muita gente, pelo efeito manada, vai na carona, apoiando mensagens tolas como estas.
Sim, desde que a ditadura militar passou a ser mal vista devido aos abusos da repressão, a Faria Lima decidiu intervir culturalmente para anestesiar e iludir a população, de forma que possa parecer ao mesmo tempo agradável, confortável e conformador.
A gente percebe o quanto muitos dos valores culturais que hoje estão em evidência no Brasil soam bastante provincianos, matutos e rasteiros, mesmo quando envolve a cultura pop estrangeira, na qual a vassalagem do público brasileiro é gritante. O hit-parade é endeusado de maneira cega e subserviente, como se fosse coisa do outro mundo, a ponto de ídolos em decadência no exterior buscassem no Brasil um mercado auxiliar.
A Faria Lima é viralatista, provinciana, apesar de se situar na cidade considerada a maior da América Latina. E isso reflete no comportamento de uma elite que respalda diretamente os farialimeiros (farialimers), enquanto o povo em geral vai na carona visando a espiral do silêncio. Digamos não o povo pobre da vida real, mas apenas as parcelas relativamente inferiores da pirâmide social, em posição intermediária entre o povo pobre real e o "pobre de novela".
Nota-se nas redes sociais, reflexo de um culturalismo popularesco que durante muitos anos foi difundido pela TV aberta e, agora, tem seu principal reduto no Tik Tok, um caráter de atraso cultural que faz o Brasil desmerecer qualquer chance de estar próximo de algum status de país desenvolvido. Uma cafonice reinante e de tal forma arrogante, que quer se impor ao mundo, demonstrando o complexo de superioridade da burguesia ilustrada que comanda e conduz esse sistema de valores.
Por isso é que o Brasil vive uma fase culturalmente devastada, não por inexistir cultura de qualidade. É porque a cultura de qualidade vive em bolhas, sem obter a visibilidade necessária para ultrapassar os limites de seu seleto público.
Enquanto isso, o empresariado da Faria Lima se confirma como o "Illuminati" brasileiro, exercendo um poder ao mesmo tempo oculto e decisivo, manipulando o sistema de valores a prevalecer no nosso país e que é largamente difundido por uma mídia empresarial solidária.
Tudo tem a aparência de algo fluente, agradável e livre, mas se trata apenas de um viralatismo cultural enrustido, cujo único fim não é o de alegrar e unir a população, mas enriquecer os empresários envolvidos nessas empreitadas. Daí que o Brasil de hoje representa o país dos sonhos da Faria Lima, que mantém secretamente seus privilégios econômicos às custas da boa-fé da população.
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