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A FALÁCIA DO "EFEITO LULA"

LULA TIRANDO ONDA, SURFANDO NA MAROLINHA.

Como falamos, infelizmente temos que brigar com os fatos para conquistar lacração. A ordem social que hoje prevalece no Brasil não quer saber do verdadeiro jornalismo e o pensamento crítico, que normalmente é aceito nos círculos culturais da Europa, aqui é visto como "frescura distópico-existencialista".

Dotada de complexo de superioridade crônico, a elite do bom atraso, que agora domina as narrativas das redes sociais, consequência da "conquista do topo" desde que seus antepassados mais recentes derrubaram João Goulart em 1964, quer nos fazer crer que "atingiu o paraíso", não cabendo, portanto, questionamentos nem qualquer contestação ao que é estabelecido.

Até mesmo o projeto político de Jango já foi "revisto" por essa burguesia de chinelos. Lula até tentou reeditar o projeto original de Jango em 2003, ainda que de maneira bastante moderada, mas no atual mandato o petista, agora a serviço das elites que antes representaram o tucanato clássico, o antigo projeto janguista foi reduzido a quase nada.

O que se vê no governo Lula, hoje, é apenas a aplicação do mínimo denominador comum do que as elites do atraso aceitam e permitem fazer a respeito de projetos sociais. Notemos que, embora a "boa" sociedade não admita, os relatórios falam mais em relação do que poderia ser feito do que realmente foi feito.

Fora da bolha lulista, não se observam as "revolucionárias realizações" do governo Lula, que de tão rápidas, fáceis e grandiosas demais inspiram desconfiança, pois tudo parece feito da noite para o dia, como as ações de uma fada-madrinha com sua varinha de condão num conto de fadas.

Eu tenho que ser realista. Não vou divulgar mentiras agradáveis só para obter lacração e tapinhas nas costas da sociedade "bacana". Me recuso a transformar meu blogue num diário de ilusões, numa redação de mentiras, só para obter mais leitores que parecem desejar que textos informativos lhes sejam como cantigas de ninar, feitas para a criançada dormir tranquila.

Fui educado para não receber as notícias assim de bandeja. Preciso conferir primeiro. Não vou dormir tranquilo só porque os relatórios falam que Lula realizou a façanha X e a façanha Y em tempo recorde, se no dia seguinte eu vejo os preços caros, o desemprego ainda muito alto, o desenvolvimento industrial quase parado, o analfabetismo funcional em alta, os sem-teto se multiplicando nas ruas das cidades.

Eu observo as coisas. Saio de casa, vejo as ruas, frequento supermercados, vou para a feira livre. Na minha vida já percorri favelas, e, como um catarinense com sangue baiano e criado em Niterói, posso ver a realidade com um mínimo de transparência possível. Não tenho a obrigação de escrever textos agradáveis, se a realidade não é agradável.

Não vou aqui deixar de informar e passar a escrever piadas, poemas "espiritualistas" e descrever um suposto otimismo do qual não consigo ver, por mais que eu amanheça sorrindo para a vida (sim, eu também não sou um pessimista rabugento). Já basta os comediantes estarem invadindo cargos de jornalistas, não serei um jornalista fazendo papel de comediante.

Por isso não estou acreditando no tal "efeito Lula". Os "recordes históricos" que mais parecem relatos fantasiosos, feitos por um persistente balé de palavras, números e gráficos, não aparecem na vida real. Paciência, a vida real não é agradável, mas eu já fui ridicularizado quando falei que procuro conhecer a realidade.

Infelizmente, nas redes sociais, o que impera é o reino da fantasia. É criar uma narrativa agradável e ela ser compartilhada por milhares de pessoas. É fazer o jogo do poder midiático e fingir que odeia esse mesmo poder. É falar a gíria "balada", do "consórcio" Faria Lima-Jovem Pan-Rede Globo e fingir que esse jargão se propagou através do ar que respiramos.

Será que eu tenho que mentir sobre, por exemplo, os preços dos alimentos? O azeite de oliva, que tempera as saladas tão necessárias para a nutrição dos brasileiros, triplicou os preços e, se eu colocar isso no blogue, ninguém vai ler? Tenho que mentir e dizer que os preços baixaram, só porque isso soa agradável para os leitores?

Acompanho o desempenho político de Lula e vejo que ele, na verdade, se distanciou de sua essência original. Mas mesmo quando se admite uma postura moderada em relação ao antigo líder sindical, Lula anda decepcionando, porque mesmo o mais suave esquerdismo ele deixou de exercer, e eu escrevo isso com base em fatos, não em opiniões minhas. Lula hoje surfa em marolinhas, com seu governo reduzido a um remix de governo FHC com governo Sarney.

É fácil criticar o petismo estando sob a sombra do bolsonarismo, do lavajatismo e, agora, do marçalismo. É muito cômodo, muito confortável, dentro de uma perspectiva de polarização que mobiliza corações e mentes nas redes sociais.

Difícil é mostrar a complexidade da vida para quem vive do ativismo de sofá, sempre esperando textos agradáveis, como se a vida fosse um permanente rodízio da água com açúcar. E a arrogância de quem odeia ver críticas ao presidente Lula, pelos erros reais e não pelas xingações infantis dos antigos antipetistas, pode fazer a realidade cobrar caro de quem não aceita o pensamento crítico, já que quem sonha demais voando alto nas nuvens, se recusando a ter os pés no chão, sofrerá um tombo muito grande. 

Um tombo que nenhum textão isentão e lacrador irá prevenir.

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