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O QUE O GADO ZEBU TEM A VER COM O CORONELISMO E A RELIGIÃO?


Uma pessoa vai, feliz da vida, entrar na sua conta nas redes sociais. Se lembra daquele "médium" obscurantista mas cujas palavras parecem tão dóceis que acabam sendo publicadas pela pessoa devota desse religioso ultraconservador, em alguma postagem nas redes sociais, para "alegrar o dia". Depois, a pessoa vai logo pegando carona no falso vintage, vendo a reprise da novela A Viagem e, depois, assistir a um filme "espírita" com aquelas lições de moralismo meritocrático cheirando a mofo tóxico.

Essa pessoa não entende o quanto o "médium da peruca e dos pés de gelo", ao qual está associada a "maldição dos filhos mortos" - há casos de devotos desse "médium" que viram, depois, seus filhos morrerem prematuramente em incidentes surgidos "do nada" - e à defesa radical da ditadura militar (a ponto da Escola Superior de Guerra homenagear o religioso em 1972), tem relação com o gado zebu do Triângulo Mineiro.

O Triângulo Mineiro, espécie de "triângulo das bermudas" brasileiro, é erroneamente tido como uma região evoluída, supostamente associada à qualidade de vida e que, de maneira tendenciosa, mentirosa e demagógica, vende uma de suas principais cidades, Uberaba, como "quarta cidade mais barata do país", mentira que não possui fundamento nem sustentação lógica e é propagada, com persistência, por páginas de imprensa, entretenimento e curiosidades que flertam com fake news de vez em quando.

Não devemos acreditar nessa lorota, até porque os latifundiários do gado zebu não são o primor de generosidade humana e eles exercem um poder tão violento quanto em outras regiões coronelistas conhecidas por seus "banhos de sangue", como o interior da Bahia e a Região Norte brasileira.

Os fazendeiros do Triângulo Mineiro, como toda força marcada pelo poder político-econômico, querem ter lucro e eles não vão transformar Uberaba numa cidade realmente barata, apenas armando um factoide para atrair mão-de-obra de Goiás, Minas Gerais e oeste paulista, que, acreditando que vai comer picanha zebu com preço de espetinho de rua, cairá na pindaíba a ponto de achar um "banquete" comprar um salgadinho de trigo de 70 gramas a dois reais.

Devemos lembrar que o latifúndio do gado zebu é, em boa parte, sustentador do Espiritismo brasileiro, a religião da elite do atraso e cujas instituições são suspeitas de receber lavagem financeira de empresários e "coronéis", a exemplo do que ocorre, também, com a Legião da Boa Vontade (LBV). As duas instituições religiosas, marcadas pela máscara da retórica dócil e da suposta gratuidade de suas ações, são dois polos de obscurantismo religioso marcado por uma pretensa filantropia que nunca combateu de verdade a pobreza, servindo mais para promover os pretensos líderes humanitários.

O próprio "médium da peruca" era inspetor do gado zebu e ele mesmo era um sujeito ultraconservador, apesar de toda a síndrome de Estocolmo que parte da comunidade LGBTQIA+, das esquerdas, dos roqueiros (mesmo fãs de rock pesado) e até de atrizes sensuais, segmentos sociais hostilizados pelo próprio "médium", mas que manifestam uma preocupante admiração a azarenta figura do religioso.

A trajetória do "médium" é tão macabra que ele, embora não tenha tido envolvimento direto, está associado a uma morte suspeita do sobrinho Amauri Pena, em 1961, possivelmente a mando de um outro dirigente "espírita" e executado por algum assistente, em episódio que merecia investigação, se nosso país não fosse o paraíso da complacência e das passagens de pano de todo dia. A morte de Amauri faz o caso da neopentecostal Flordelis parecer chanchada da Atlântida.

A gente até observa o quanto houve de exagero na campanha contra as religiões neopentecostais, que de fato cometeram os erros e abusos dos quais foram denunciados, mas nota-se que as "esquerdas médias" e o "mundo democrático" brasileiro exageraram na dose, passando a chutar cachorros mortos e alegar que os males da fé obscurantista se reduzem às histerias hidrófobas de Silas Malafaia e Valdomiro Santiago.

Esquecem que o "bondoso médium" que é tido como "símbolo da paz" - mas que aceita ser condecorado por uma instituição-chave da ditadura militar com "guerra" no nome, homenagem que faria Brilhante Ustra ficar de queixo caído - já cometeu suas hidrofobias, ofendendo os amigos de um engenheiro, Jair Presente, que desconfiavam das "psicografias" atribuídas ao amigo morto. Com uma rispidez que seus adeptos julgam "inconcebível", o "bom médium" chamou essa desconfiança de "bobagem da grossa".

O "médium" também ofendeu o povo de Niterói e São Gonçalo, que inocentemente foi assistir a um famoso espetáculo circense que terminou tragicamente com um incêndio criminoso, a uma semana do Natal de 1961. O "médium" foi premiado, com tamanha atrocidade, pelo nome de uma "avenida de ciclovia" de Piratininga, que mais parece uma decadente estrada carroçável e sem asfalto, "paraíso" para criminosos em fuga montarem suas residências de praia.

Usando, falsamente, o nome de Humberto de Campos, o "médium" acusou as humildes pessoas de terem sido "gauleses sanguinários" num livro de 1966, uma acusação sem fundamento e marcada pelo mais cruel e impiedoso juízo de valor, combinado com o falso testemunho de usar o nome de outra pessoa para não render processo criminal contra o "médium".

Sim, são episódios macabros que deveriam causar vergonha àqueles que admiram o "médium", que mais parece uma versão live action daqueles vilões do desenho do Scooby-Doo, ajudantes de fazendeiros acusados de usar falsos fantasmas para assustar um grupo de jovens investigadores acompanhados de um cachorro. Como é que os desenhistas Joe Ruby e Ken Spears, ambos na "pátria espiritual", perceberam aquilo que os brasileiros se recusam, com preocupante e obsessiva teimosia, em admitir?

Pois só um "médium" reacionário, farsante e mistificador - cujos "indiscutíveis atos de amor" incluem humilhar pessoas miseráveis em filas longas para pegar uns poucos e precários mantimentos e iludir famílias com psicografakes de supostos parentes mortos - , para se identificar com os "coronéis" do Triângulo Mineiro, que levam a fama de "bonzinhos", quando, durante a ditadura, exterminavam líderes camponeses que atuavam contra os interesses dos "donos da Terra".

É triste ver que, no Brasil, temos que colocar a fantasia acima da realidade. Nosso país está degradado, e mais degradado ainda se torna quando as pessoas fecham os olhos para o senso crítico porque ele apresenta fatos considerados desagradáveis. 

É preocupante ver que as pessoas preferem a mentira que conforta do que a verdade que fere. E, depois que publicam as "lindas frases do médium" para "alegrar o dia", vão para as ruas contar piadas com os amigos sobre as vidas particulares, rindo histericamente como se achassem que serão os últimos a dar risadas. Nada disso. Eles são os primeiros a rir, e, por isso, não rirão melhor. Pelo contrário, é com tanta fantasia e risos que o Brasil mergulhará em surpreendentes desilusão e tristezas.

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