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FÁCIL OPINAR E COMENTAR, DIFÍCIL É AGIR


É muito fácil divulgar relatórios, fazer comentários, dar opiniões e fazer promessas. É muito confortável, no conforto de seus sofás, julgar o mundo e a realidade sem sair de casa e sem ver as pessoas em sua volta. Pode parecer um absurdo, mas existe gente assim, o juízo de valor é um hábito dessa elite que, só por se achar legal, ter dinheiro e muitos seguidores nas redes sociais, pode ter, senão a posse oficial da verdade, pelo menos a prerrogativa de tentar ficar com a palavra final sobre tudo.

Dito isso, vemos o quanto o presidente Lula está fazendo um jogo de cena quanto aos juros altos da dívida pública pelo Banco Central do Brasil, na gestão de Roberto Campos Neto, que pelo nome é neto de um conhecido economista e ex-ministro da ditadura militar.

De que adianta Lula se esbravejar com os juros altos, lançar um comentário lacrador contra tamanho abuso econômico, se ele nunca age para expulsar Campos Neto do cargo nem baixar drasticamente os juros? Falar, opinar e comentar é muito fácil, difícil é agir, mesmo sob o silêncio das palavras compensado pela robustez e visceralidade dos atos.

Sabemos, por exemplo, que Lula não vai reestatizar a Eletrobras. Não é da índole de Lula agir como agiu Leonel Brizola. Sei que isso desagrada os lulistas, que hoje se acham "donos" do brizolismo, acreditando que Lula vai devolver a Eletrobras ao aparelho estatal, mas até o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que o governo não vai reestatizar empresas. O que foi privatizado que permaneça assim e é vida que segue.

Lula afirmou, depois de eleito, que não tiraria Roberto Campos Neto da presidência do Banco Central por causa da "democracia". Uma estranha "democracia", diga-se de passagem. Uma palavra que Lula sabotou na campanha eleitoral, chegando a se ausentar de debates que poderiam furar a bolha do apoio relativamente alto, mas a cada dia decrescente, que o petista possui.

Neste sentido, é constrangedor ver Lula elogiando Sílvio Santos no dia em que o empresário e animador de TV faleceu, pois em 2022 o petista não apareceu no debate do SBT que iria lhe ajudar a ter uma vantagem substancial de votos, enfrentando candidatos da chamada "terceira via" (nome dado a todo aquele que se destacaria politicamente fora da polarização Lula versus Bolsonaro). Preferiu uma entrevista de véspera com Ratinho para falar somente para os "convertidos".

Lula, como um fanático por futebol e corintiano fervoroso, deveria perceber que um artilheiro tem mais chances de fazer gol se for para o campo adversário e enfrentar os jogadores do time rival, fazendo dribles e enfrentando o goleiro na hora de jogar a bola para dentro da rede e marcar o desejado ponto. Mas no debate político o petista amarelou e havia marcado, de propósito, comícios em horários que chocariam com os encontros com adversários no programa de TV.

E aí Lula se acha o "dono" da democracia de tal forma que, para compensar as crises de popularidade - realidade que os lulistas se recusam a reconhecer - , quer agora liderar um "movimento internacional de defesa contra a democracia", sob o pretexto de "lutar contra os extremismos", iniciativa respaldada por governos de países europeus como França e Espanha.

Essa atitude grandiloquente foi motivada por episódios como as queimadas que provocam o colapso climático no Brasil e por fracassos como a possibilidade da carne ficar fora da cesta básica e da cobrança de impostos para os super-ricos, mesmo sendo inócua de tão branda, não ser posta em prática. E, fora da bolha lulista, as classes trabalhadoras, traídas, já chamam o Lula de "cabeça branca", em alusão ao reacionário político Antônio Carlos Magalhães, ex-governador da Bahia e ex-senador.

Mas Lula, ainda que no seu projeto político seja um governante tão moderado que hoje ele faz tão somente um neoliberalismo assistencialista, é, mesmo assim, ser considerado um "extremista", nem tanto pelas ideias ou objetivos, mas pela simbologia que, por mais fantasiada que seja, é carregada de muito sentido.

Ou seja, de certa forma, Lula e Jair Bolsonaro (com seus associados simbólicos, como Sérgio Moro e Pablo Marçal, ainda que este fosse hostilizado por bolsonaristas-raiz) são dois extremos de um Fla-Flu político, e nota-se que a paz social brasileira só seria conquistada se Lula renunciar ao mandato ou, então, desistisse de se reeleger para um novo mandato, o que seria até bom, pois o presidente anda muito velho e doente.

O nosso país está em crise, mas o mais assustador é que, nas redes sociais e na blogosfera, as narrativas que têm que prevalecer são aquelas que partem de juízos de valor de uma classe de abastados que mal sai de casa, isolada em seus carrões SUV com vidros fumê, para ir aos bares da moda.

E aí temos que nos submeter aos pensamentos dessa elite do bom atraso, se quisermos lacrar. E isso mostra o quanto nossa elite "democrática" nunca perdeu o DNA golpista. Vai que se divulga uma visão que vai contra as convicções dessa "galera", e ela não gosta. Por isso, até quando se fala em fazer jornalismo autêntico, o que essa classe espera é que troquemos os fatos pelos contos de fadas. Triste.

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