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QUANDO A "FELICIDADE" TÓXICA PERTURBA O SONO E O SOSEGO

 "BEBE! BEBE! BEBE!".

Vivemos o apogeu de uma velha ordem social dividida entre os liberais ou conservadores funcionais (lulistas e "democráticos isentos") e os conservadores ortodoxos mais os reacionários da direita alternativa (bolsonaristas e derivados), e a pandemia do egoísmo revela que a "sociedade do amor" nada tem de amorosa, pois só se preocupa tão somente no entretenimento hedonista e no consumismo voraz.

A "liberdade" e a "felicidade" tóxicas do atual momento mostram o quanto o "não-raivismo" também mostra seu lado abusivo, que lulistas também são inclinados a uma "cultura do cancelamento", boicotando textos que não estão de acordo com suas convicções. E assim vemos o quanto o Brasil de hoje está mergulhado em crises econômicas que fogem do otimismo fácil dos relatorios e condenado a uma catástrofe climática que pode, pasmem, tornar o nosso país extinto. É sério.

Dito isso, vemos o quanto há festas que ocorrem de madrugada promovendo poluição sonora, perturbando o sono da vizinhança que não tem a quem recorrer, sofrendo a sina de ter que suportar som altíssimo e gente arrogante e violenta consumindo bebidas e entorpecentes e até ameaçando quem impedir essas festas que celebram a morbidez desses animais consumistas que parecem não ver hora para cometer seus abusos instintivos e impulsivos.

Pode ser em Engenhoca ou no Largo do Marrão, em Niterói, na Casa Verde, Itaquera ou Sapopemba, em São Paulo, Paripe ou Vila Rui Barbosa, em Salvador ou Inhaúma, Marechal Hermes ou Bangu, no Rio de Janeiro, ou então na Baixada Fluminense ou na Baixada Santista. Pode ser num posto de gasolina ou no quintal de uma casa, a barulheira ocorre com impunidade preocupante.

Em Belo Horizonte, conforme mostra uma matéria do jornal O Estado de Minas, um "baile funk" atormenta os moradores do bairro Santa Amélia, na região da Pampulha. Patrocinado por um comerciante local, o "baile" ocorre com todos os abusos conhecidos, perturbando os moradores entre sextas e domingos, ocorrendo das 23 horas da véspera às cinco da manhã do dia seguinte. Houve relatos de conflitos e até de mortes no local.

As festas perturbam o sono e o sossego das pessoas. Há idosos entre os moradores. E mesmo em vésperas de feriados e fins de semana, o silêncio noturno é necessário pois não se acorda cedo apenas para trabalhar, mas também para caminhar de manhã ou viajar cedo para visitar um local ou rever os familiares. Mas até na véspera da segunda-feira de trabalho ocorrem esses "bailes funk" que transformam Santa Amélia numa "terra sem lei".

Os moradores tentaram chamar a polícia, mas foi em vão. Quando chega a polícia, os festeiros abaixam o volume até que a viatura tenha ido embora. Depois, voltam à barulheira irritante. Moradores chegaram a botar seus imóveis para venda, mas nem oferecendo preços mais baratos conseguem arrumar um comprador.

Esses dramas sociais são o outro lado da "felicidade" e da "liberdade" da sociedade que pede "mais amor, por favor", mas que não oferece amor e muito menos respeito humano. E o pior é que esses "bailes funk" (que tocam também o trap, franquia do "funk ostentação") cresceram porque foram blindados pela geração de intelectuais "bacanas", que chegaram ao cinismo de comparar esses eventos com as festas das antigas senzalas e quilombos dos antigos negros escravizados do Brasil.

Mas, como diz o ditado: "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa". Não dá para comparar as antigas festas dos sofridos escravos, cujas vidas foram tragédias difíceis de narrar de tão terríveis e traumatizantes, com as de pobres remediados que já se integram a uma parcela "modesta" da elite do bom atraso, já usufruindo de muitos benefícios da atual burguesia heterodoxa.

Por isso, vemos o quanto existe de egoísmo até mesmo nas elites "democráticas" que se empoderaram em janeiro de 2023, alegando que o Brasil passou a viver um período de humanismo e solidariedade. Mas isso não só não ocorreu como a "sociedade do amor" e o "gabinete do ódio" apenas reeditam, com as diferenças de contexto atuais, a antiga dicotomia dos luzias e saquaremas do Segundo Império.

Naqueles tempos, se falava que "nada se assemelhava mais a um saquarema (conservador) do que um luzia (liberal) no poder". E Lula, hoje, está a serviço apenas dessa sociedade que quer apenas consumir e festejar, além de se dar ao luxo de boicotar textos que não atendem a suas convicções.

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