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PABLO MARÇAL É REFLEXO DA ALIENAÇÃO PRAGMÁTICA DO BRASIL DE HOJE


O triste fenômeno do empresário, palestrante e influenciador digital Pablo Marçal, símbolo emergente da extrema-direita pós-bolsonarista, parece sinalizar um desgaste, embora o sujeito, candidato à Prefeitura de São Paulo e virtual aspirante à Presidência da República para 2026, se torne um sério perigo para a saúde política brasileira, que não está das melhores.

Num momento em que Lula se torna mascote da burguesia e esta acaba travando os debates públicos, restringindo a "democracia" brasileira a um mero parque de diversões consumista, nota-se que hoje o cenário sociopolítico é de uma grande polarização política entre lulistas e bolsolavajatistas.

Com o desgaste de Jair Bolsonaro e Sérgio Moro, o bolsolavajatismo tenta ver em Pablo Marçal a esperança de um país reacionário retomar o protagonismo do inverno político de 2016-2022. Mas não é só a herança do golpismo recente que faz de Marçal uma séria ameaça para os brasileiros. Há outros motivos, também.

O próprio protagonismo da sociedade mainstream brasileira, que restringe as agendas temáticas à banalidade do previsível, como se a realidade não existisse fora de um perímetro midiático que vai da Rede TV! aos canais de streaming, cria uma alienação pragmática que aceita o fenômeno decadente dos influenciadores.

Afinal, com a onda do opinionismo - ou seja, o Frankenstein da dita "liberdade de opinião" que as rádios FM venderam como a "salvação da lavoura" e as redes sociais transformaram numa fábrica de fake news - , os influenciadores se projetaram através da "arte" de forjar sentido ao que não faz sentido. Ser influenciador acabou virando um modo de tornar dizível a falta de algo relevante para se dizer.

Junta-se a tolice da alienação pragmática, da fobia ao senso crítico, da indiferença ao que não faz parte do cardápio temática da mesmice reinante, do desprezo àquilo que não corresponde à vida solipsista de uma minoria de "bacanas", e cria-se um combo de vícios e omissões que acaba produzindo figuras problemáticas diversas, tanto podendo ser um Monark quanto um Pablo Marçal, ou uma Deolane Bezerra ou o Whindersson Nunes.

Se a sociedade não aceita ler coisas importantes como o mal de fumar um cigarro ou a irresponsabilidade de jogar comida fora, se a juventude de hoje, na mesma faixa etária dos antigos manifestantes de 1968, se comporta como um bando de crianças de 12 anos num parque de diversões, então estamos num cenário catastrófico, propício para um Pablo Marçal se vender como "a expressão do novo".

O próprio Marçal é uma catástrofe política, num contexto em que a elite do bom atraso limita o debate público, pois essa classe, que se trata da velha burguesia repaginada preocupada em ocultar o passado e esconder a herança de seus opressivos antepassados, em nome de um verniz "democrático" e "moderno", tem pavor de ser desmascarada em praça pública.

Hoje temos apenas uma "democracia" amestrada por essa elite dissimulada, e é por isso que não se luta por um Brasil realmente melhor, pois até agora o que se viu foi uma preocupação com o Brasil "melhor" para uns poucos. Tudo para garantir a cerveja com picanha dos "bacanas", que temperam seus vinagretes de luxo com o agora caríssimo azeite de oliva, enquanto o povo pobre da vida real continua na fila do osso.

A degradação sociocultural, com a precarização da chamada cultura popular, hoje privatizada por uns jagunços modernos da indústria do entretenimento popularesco, criam condições para a alienação pragmática que acaba propiciando a ascensão do fascismo à brasileira.

Já bastou a farsa do "combate ao preconceito" da bregalização ter saído do controle e ter criado condições para a ascensão de Temer e Bolsonaro. O lulismo 3.0, que transforma o Brasil num parque de diversões, faz as esquerdas brasileiras rebaixarem a um infantilismo festivo piegas, hoje cria condições para a reação fascista, dando à polarização política ares ainda mais dramáticos.

O Brasil continua frágil hoje como em 2016. Cabe, portanto, darmos um freio ao fenômeno Pablo Marçal, com o mesmo empenho com que, banindo o X (ex-Twitter), deixamos de fazer o Brasil se tornar uma praia para os projetos gananciosos de Elon Musk.
 

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