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ALEXANDRE GARCIA E A OPINIÃO COMO MERCADORIA


Ontem foi anunciada a saída do jornalista Alexandre Garcia, um dos astros das Organizações Globo (sobretudo Rede Globo e Globo News), depois de 30 anos na emissora.

A saída foi por decisão dele e Ali Kamel, o chefe de jornalismo da empresa, elogiou e agradeceu a contribuição do comentarista.

O motivo da saída não foi divulgado, mas surgem algumas especulações.

A principal delas é que ele pode se tornar assessor de imprensa do presidente Jair Bolsonaro.

Garcia elogiou a figura de Bolsonaro e atribuiu seu programa de governo como uma "revolução de ideias".

O comentário foi divulgado no Twitter do jornalista e o presidente eleito, agradecido, retribuiu com uma mensagem no mesmo portal social.

Alexandre Garcia foi porta-voz do governo João Figueiredo, durante seu governo.

Ele se projetou como um jornalista que mostrava "trapalhadas" de parlamentares do Congresso Nacional, na TV Manchete, e tentou reeditar, sem o mesmo sucesso, o quadro no Fantástico, assim que estreou na Rede Globo.

Ele hoje tem programa de comentários transmitido por rádios em todo o Brasil. Em Salvador, seu programa é transmitido pela Rádio Metrópole, de Mário Kertèsz, por sinal filhote da mesma ditadura militar que Garcia exaltava e colaborava.

Aliás, falando em rádio na Bahia, me lembro da propaganda que a mídia baiana em geral, mas o rádio em particular, faziam de programas de comentaristas políticos.

Era uma propaganda enjoada, que exaltava a "opinião" como uma mercadoria midiática.

Não gosto dessa propaganda, porque ela dá a impressão de que os ouvintes e leitores não têm opinião e só passam a tê-la quando passam a consumir noticiários trazidos por "especialistas".

Não se trata de ver a opinião na sua função social de informar, mas como um produto no qual se exerce o aparente processo de "formar opinião" que, na verdade, tem mais a ver com manipulação ideológica.

Fica um ranço de um mercado de "donos da opinião pública", dos supostos "líderes de opinião" que mais parecem intelectuais frustrados.

Ou seja, esse "mercado da opinião", essa doutrina do opinionismo, que pouco tem a ver com a verdadeira liberdade de opinião, tem mais a ver com a hierarquização da opinião, da verdadeira privatização da opinião pública.

No Sudeste, Alexandre Garcia foi um dos baluartes dessa opinião hierarquizada que culminou nos hidrófobos e urubólogos dos últimos tempos.

Ele foi um dos pioneiros do chamado jornalista-juiz, que posa de profeta e tenta dar a palavra final para os fatos e se achar o juiz final dos tempos futuros.

Esse pessoal foi que espalhou uma série de boatarias que arruinaram a imagem do ex-presidente Lula para uma parcela de brasileiros.

Em Salvador, os "donos da opinião pública" têm trabalho para influenciar o público, num contexto em que a capital baiana se torna aos poucos mais progressista, deixando para trás os tempos coronelistas.

Atualmente, o Rio de Janeiro é que parece viver os tempos coronelistas que a capital da Bahia viveu há até 15 anos atrás.

O próprio Sudeste hoje vive o conservadorismo que o Norte e Nordeste viveram no período ditatorial.

E isso influiu para a vitória eleitoral de Bolsonaro, seus filhos e aliados, ainda apoiados na ilusão de que o Sul e o Sudeste ainda simbolizam o "novo" no Brasil.

Mas nota-se que o Sul e Sudeste envelheceram, pararam no tempo, se acomodaram.

Daí que Alexandre Garcia continua sendo um jornalista influente por essas plagas sulistas e sudestinas. Se virar assessor de Bolsonaro, Garcia poderá ser outro "mito".

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