Brasilzinho surreal, este.
Digito este texto depois de escrever uma matéria sobre a morte de Pete Shelley, líder da banda punk Buzzcocks.
Os Buzzcocks são subestimados no Brasil. Nem a versão do Camisa de Vênus para "I Believe", que virou a conhecida "O Adventista", conseguiu fazer os brasileiros se interessarem pelos Buzzcocks.
Lá fora a banda de Manchester é tão importante quanto Sex Pistols e Clash na história do punk britânico, ou quanto Ramones, para citar uma banda estadunidense.
Pois nem as "rádios rock" se deram conta da triste perda. Os Buzzcocks eram conhecidos pela sua energia no palco e pelas músicas vibrantes.
Nos EUA e Grã-Bretanha, a morte de Pete Shelley fez seu nome estar nos trend topics do Twitter.
E aqui, no Brasil, qual o músico que obteve tal privilégio? Um medíocre reacionário como Eduardo Costa, uma subcelebridade que nunca foi conhecida pela música (por sinal muito ruim), mas por factoides e, recentemente, por mensagens reaça difundidas nas redes sociais.
Faz sentido. E desde que Jair Bolsonaro foi eleito - eu, que não sou lá um religioso, rezei muito para que isso não acontecesse - , tudo virou uma tragicomédia de erros.
Recentemente, Magno Malta, um dos mentores da Escola Sem Partido, sentiu que seria o Olímpio Mourão Filho da vez, com diferença de contexto.
Sabe-se que Olímpio Mourão Filho foi o general que realizou o golpe militar de 1964, mas apesar da façanha nunca obteve um lugar na ditadura que então se instalou.
Magno Malta foi grande apoiador de Jair Bolsonaro e ajudou a impulsionar sua vitória eleitoral, mas não recebeu um cargo ministerial algum, muito menos a sua cobiçada pasta da Defesa.
Magoado, Magno disse que seu apoio ao "mito" se deu até 28 de outubro passado, dia das votações do segundo turno da campanha presidencial.
Os ministérios se costuram e já tem um, intitulado Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que irá, de maneira tímida, acolher a FUNAI (Fundação Nacional do Índio).
Tímida é maneira de dizer. O caráter ultraconservador do governo Bolsonaro será nocivo para as populações indígenas.
Temos a briga, em mensagens nas redes sociais, entre o filho de Jair, Eduardo Bolsonaro, com a jornalista Joice Hasselmann. Ambos são deputados federais do PSL eleitos por São Paulo.
Eduardo começou a briga. Acusou Joice de "atropelar" os colegas de partido, e disse que ela tem "fama de louca".
Joice respondeu que Eduardo escreve "comentários infantis" e disse que ele "deveria crescer".
Mas se isso não foi suficiente, temos o primeiro escândalo de corrupção no governo Bolsonaro que ainda não começou.
O Ministério Público Federal divulgou nota na tarde de ontem confirmando que o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) registrou "movimentações atípicas" de um motorista de outro filho de Jair, o senador do PSL pelo Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro.
De acordo com o MPF, o documento integra a Operação Furna de Onça, que prendeu 10 deputados estaduais do Rio de Janeiro acusados de envolvimento em um esquema de "mensalinho".
O relatório, segundo revelação do jornal O Estado de São Paulo, identificou uma conta bancária do Itaú no nome do policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz, que apontou transações financeiras consideradas suspeitas.
O PM foi motorista de Flávio Bolsonaro. Fabrício movimentou R$ 1,2 milhão durante cerca de treze meses, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.
Uma das contas movimentadas por Fabrício foi um depósito em cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama e madrasta de Flávio, Michelle Bolsonaro.
Maiores detalhes do caso podem ser obtidos aqui.
Muita coisa ainda vai acontecer e, pelo jeito, passada a posse de Jair Bolsonaro, a lua-de-mel com seu eleitorado deve reduzir vertiginosamente.
Nunca se sabe o que vai acontecer, mas tudo sinaliza que Bolsonaro será um Michel Temer piorado, com suas caneladas e recuos. O jeito é esperar para ver o que vai acontecer.
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