O gosto musical do "popular demais" não é livre. Ele é induzido pelo coronelismo midiático local, que determina o que o "povão" deverá ouvir.
É claro que não estamos aqui fazendo "teoria hipodérmica", tendência crítica da Teoria da Comunicação que via na manipulação do poder midiático algo simplório e bruto.
Teorias posteriores revelaram que existem mecanismos de persuasão do receptor de uma mensagem comunicativa, que envolve o conhecimento das fraquezas emotivas do público.
Neste momento de "lavagem de roupa suja" depois do ridículo "combate ao preconceito" brega que só gerou mais preconceitos - que culminaram na eleição de Jair Bolsonaro - , o coronelismo radiofônico deve ser discutido também sob o âmbito do "popular demais".
A "cultura" brega-popularesca que transformou o povo pobre em caricatura de si mesmo e promoveu mais consumismo que cidadania causou estragos diversos na população.
A intelectualidade "bacana" tentou persuadir as esquerdas a assinarem embaixo em favor dessa cilada, que no entanto nada contribuiu para uma cultura mais progressista.
A bregalização só serviu para sugar as verbas da Lei Rouanet e dar um verniz "estatal" para o consumismo privado e mercantilista da música brega-popularesca.
E isso afetou principalmente as mulheres solteiras, que no Brasil eram induzidas a consumir e apreciar canções de valor muito duvidoso, dentro daquela coisa do "quanto pior, melhor".
As solteiras no Brasil foram manipuladas culturalmente pelo coronelismo midiático para se tornarem imbecis e alienadas.
Não é culpa delas. É a péssima educação midiática, trazida sobretudo por rádios FM que, embora "extremamente populares", são controladas por grupos oligárquicos que dominam certas regiões.
A intelectualidade "bacana" fez vista grossa para os gerentes artísticos dessas rádios, dando-lhes os atributos "guevarianos" que estes não tinham, e tratando-os como se esses coordenadores de programação fossem "autônomos divulgadores da cultura das periferias".
Só que esses gerentes ou coordenadores fazem o serviço de "jagunços eletrônicos" do coronelismo midiático regional.
Determinam o que o povo da ralé e da classe batalhadora - reclassificação de Jessé Souza para as classes pobre e média-baixa - devem ouvir e aprender através das abordagens estereotipadas dessas rádios.
Em âmbito nacional, a bregalização teve maior força, dos anos 1970 para cá, pelos programas popularescos da TV Tupi, TV Record, TV Bandeirantes e, mais tarde, TV Studios/SBT. Mais adiante, a Rede TV! engrossou a fileira.
Num caminho paralelo, a Rede Globo deu um "banho de loja" na bregalização, apoiando-a num outro contexto, não menos conservador.
E aí a mulher solteira é a mais afetada, manipulada a ouvir coisas convencionais, piegas, medíocres.
Não há uma mulher solteira que pudesse ouvir músicas de melhor qualidade.
A breguice que reduziu a população pobre a uma baixa auto-estima, com o discurso de "cultura das periferias" disfarçando a realidade do complexo de vira-lata, impôs um gosto musical tosco e uma apreciação de valores confusos.
Esses valores variavam entre o moralismo rígido, a religiosidade piegas e o erotismo vulgar.
Nas mulheres solteiras, a ideia é transformá-las em pessoas submissas, beatas ou pornográficas, falsamente independentes e confusas no que se diz à vida amorosa.
Assim como elas são empurradas à solteirice para que, não se tornando mães, não renovem as classes populares de novos indivíduos, elas também são culturalmente desqualificadas para evitar qualquer tipo de emancipação real.
Fica-se uma emancipação de faz-de-conta, um falso empoderamento cuja simbologia é trazida pelo poder midiático regional das rádios FM, apoiadas no âmbito nacional pelas redes de TV aberta.
Daí que as solteiras acabam sendo marcadas por terem "ouvidos sujos" e "faro atrapalhado".
Elas acabam sendo "culpadas", porque o coronelismo midiático é absolvido pela intelectualidade "bacana" que durante anos fez proselitismo pró-brega na mídia esquerdista.
Daí que a bregalização, ao estar associada "espontaneamente" ao povo pobre, só fez agravar os preconceitos que, em tese, estavam sendo combatidos, dentro da ideia preconceituosa de ver o preconceito só como rejeição.
A aceitação do brega e, sobretudo, do "funk", teve muita carga preconceituosa. Não por acaso, o Rio de Janeiro que produziu o "funk" produziu também bolsonaristas. Difícil ver essa realidade como contrastante, pois o "funk", no fundo, sempre foi conservador.
Progressista e renovadora era a música de qualidade que passava longe das rádios e do comercialismo que atingia até rádios supostamente segmentadas.
A escravidão da breguice e do hit-parade é uma forma de manipular e dominar as pessoas.
E as solteiras eram as mais manipuladas, para evitar que elas sejam como as da Europa, culturalmente mais atuantes e mais fortes.
Em vez disso, o coronelismo midiático queria que elas fossem submissas, embora sob a falsa impressão de serem "emancipadas" e "empoderadas" só por não terem namorados nem maridos.
Isso é para enfraquecer as classes populares e evitar a renovação das gerações, deixando que apenas as elites possam renovar suas populações com novos filhos.
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