
OS JOVENS DE HOJE NÃO PERCEBEM QUE OS ORGANIZADORES DE FESTIVAIS DE MÚSICA SÃO OS GRANDES EMPRESÁRIOS DO ENTRETENIMENTO, OS NOVOS SUPER-RICOS DA ATUALIDADE.
O movimento Povo Sem Medo fez uma manifestação, ontem, na Avenida Paulista, pedindo a taxação BBB (bancos, bets e bilionários), além do fim da escala 6x1 no mercado de trabalho. Infelizmente, as pautas tinham que ser lançadas pelo presidente Lula, nim contexto em que os protestos das esquerdas são muito brandos e, em certos casos, procrastinadores, como nas passeatas contra Jaír Bolsonaro e, antes, Michel Temer.
Os temas são necessários, mas é preciso uma logística de conquista da opinião pública. Protesto em um dia útil? Não poderia ter sido no feriado de Nove de Julho? Ou então num sábado ou domingo? Protestos a favor da Palestina ocorrem aos sábados. Tudo parece ser feito de uma “ordem superior” pois, se não fosse assim, os protestos ficariam nas zonas de conforto da memecracia das redes sociais.
Lula esperou dois anos para falar do problema da escala 6x1. Lavou as mãos, pedindo um “debate equilibrado”, um eufemismo para não confrontar com os interesses empresariais. O presidente deveria ter revogado essa triste medida, além de proibir o trabalho 100% comissionado - no qual a remuneração é como loteria, grana farta mas incerta - , em vez de se pavonear em viagens ao exterior que foram um desperdício, pois Lula simplesmente não se tornou influente na geopolítica internacional.
Foram erros cruciais para a dramática queda de popularidade do presidente que, idoso, não devia ter deixado o tempo perder, iludido em pensar que o terceiro mandato era um trampolim para o quarto. Querer fazer algo no final do atual mandato só para conseguir ser reeleito é inútil. O povo não se ilude e não aplaude erros. E não tem paciência para esperar que o presidente faça, no segundo ano do quarto mandato, o que prometeu fazer no primeiro ano do terceiro.
Quanto aos super-ricos, o governo Lula terá coragem para taxar os novos bilionários da indústria do entretenimento, ou os magnatas das indústrias de cervejas e cigarros, que lucram em cima do divertimento hedonista da juventude “democrática”? Esses “super-ricos do bem” também exploram o trabalho precário, sonegam impostos e faturam de maneira exorbitante, mas estão associados a “tudo de bom” que os jovens brasileiros contemporâneos consomem sob sorrisos abertos.
E os bilionários “democráticos” que estavam ao lado de Lula e viraram seus “novos amigos de infância”? Eles também serão tacados? Lula vai cobrar impostos de quem lhe ajudou a vencer a eleição de 2022?
São essas questões, mais a alíquota mixuruca de 10% sobre as grandes fortunas - que não impede os bilionários de não apenas recuperar o que perderam com os tributos como aumentar a fortuna que já tinham antes - , que desafiam a opinião pública, que não pode ficar nas zonas de conforto das narrativas lulistas nem na sua forma simétrica que são as narrativas bolsonaristas.
Nosso país é complicado demais para considerar como única visão realista aquela vinda de um senhor nascido em 1945 numa região ainda marcada por um ruralismo de feições coloniais. Por isso, cabe pensarmos num Brasil além de Lula, fora de Lula e depois de Lula. Não queremos voar sobre nuvens, mas ficar com os pés no chão.
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