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LULA 3.0 NÃO REPRESENTOU RUPTURAS NEM TRANSFORMAÇÕES


O governo Lula, no seu atual mandato, tornou-se frustrante porque o presidente não realizou qualquer tipo de ruptura ou transformação, agindo apenas no âmbito das aparências e quase nunca fazendo atos significativos. O que ele realizou no governo esteve dentro da média que qualquer governo medíocre de centro-direita faria, inclusive nas medidas sociais.

Daí que Lula pode ter saído vencedor nas redes sociais, na sua campanha contra os super-ricos, mas sua popularidade continua baixa. O povo pobre não confia mais em Lula. O presidente se perdeu falando demais e trabalhando menos, e o excesso de expectativas de que seu terceiro mandato seria muito melhor do que os dois anteriores foi para o ralo.

E aí vemos o quanto Lula demonstrou ser impotente para combater o legado do golpe político de 2016, sem enfrentar o legado maligno de Michel Temer. O intelectual Vladimir Safatle lembra muito bem que nenhuma das leis relacionadas ao pacote de maldades de Temer foi revogada e isso teria sido um dos primeiros atos do atual mandato de Lula.

Mas Lula foi viajar antes de trabalhar. Os lulistas acharam acertada a ênfase na política externa, mas isso não convenceu. E a desculpa de atrair milhares de investimentos estrangeiros ruiu porque nada refletou concretamente no aumento de reserva financeira do governo pois, se tivesse refletido, o governo não teria sequer pensado no corte de recursos visando o tal arcabouço fiscal.

A política externa também não fez de Lula uma figura influente no cenário internacional. Foi uma grande perda de tempo para um governante que, na campanha presidencial, chorou pedindo votos pelo combate à fome e, depois de eleito, foi primeiro viajar para o exterior. A ênfase inicial da política externa se revelou um erro grosseiro que fez o povo se sentir traído ao ver o presidente viajando usando o dinheiro dos contribuintes.

Lula pode ter sido sempre um político moderadíssimo, muito castiço para os padrões de um líder de esquerda. E sua "Carta aos brasileiros" foi uma espécie de acalanto para os barões do poder econômico. Mas se via, antes, Lula mais empenhado por alguma transformação social, por mais limitada que seja. Hoje, nem isso ocorre, pois Lula levou essa moderação aos limites extremos, de tal forma que ele anulou o que ele tinha de algum progressismo. Hoje Lula está mais para uma mistura de Sarney com FHC.

Além do mais, Lula também levou ao paroxismo seu instinto de negociação com o empresariado, preferindo ouvir divergentes do que escutar os afins. Também levou ao extremo sua capacidade de discursar, investindo em gafes através de comentários grosseiros. Com isso, se os dois mandatos anteriores eram o primor de moderação, hoje o governo Lula demonstra ser mais conservador, embora agradável a setores das esquerdas médias, consideradas "modernas".

Por isso, Lula criou expectativas demais para o terceiro mandato e a baixa popularidade, que destoa da euforia triunfalista nas redes sociais, ocorre em função de que o presidente prometeu demais e cumpriu muito pouco. E Lula, em vez de se reinventar como governante, ficou na zona de conforto das antigas realizações e teve preguiça de criar um programa de governo atualizado e preparado para os desafios atuais do Brasil.

Com isso, Lula tem que se contentar com o marketing, transformando seu atual mandato em trampolim para o tão sonhado quarto mandato que, no entanto, não está 100% garantido. A coisa não está fácil para Lula, temos que reconhecer.

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