HUMBERTO DE CAMPOS, OLAVO BILAC E RAUL SEIXAS - Exemplos mais vergonhosos do que oficialmente se define como "psicografias".
É vergonhosa a tentativa de reabilitação do Espiritismo brasileiro, a pior religião de todas mas que se deixa prevalecer pelo pretenso sabor melífluo de suas pregações, tal qual uma mancenilheira institucional. Além da patética novela A Viagem - amaldiçoada tanto na versão da TV Tupi quanto da Rede Globo - , temos mais um filme da franquia "Nosso Lar" que só agrada mesmo a setores místicos e paternalistas da elite do bom atraso, a "bolha" que impulsiona o sucesso "fogo de palha" dos filmes "espíritas".
Pois bem, eu, que fui "espírita" durante 28 anos, entre 1984 e 2012, tendo que largar a religião durante um fase terrível de minha vida particular, posso garantir que o Espiritismo brasileiro é muito pior do que as seitas neopentecostais no sentido de que, pelo menos, os "neopentecostais" possuem honestidade doutrinária, algo que os docemente hipócritas do dito "kardecismo" não têm.
Em primeiro lugar, porque o "kardecismo" é apenas um eufemismo para as traições infinitas, constantes e da mais extrema gravidade, que os chamados "espíritas" brasileiros cometem sem um pingo de escrúpulo e de maneira nunca assumida.
No Espiritismo brasileiro, o que prevalece é sempre o estigma equivocado e fora da lógica de culpar o bom professor pela delinquência e vandalismo de maus alunos. A turma do fundo da sala da Escolinha do Professor Rivail, com direito a um Rolando Lero de Pau da Lima, como havia sido um "médium" recém-falecido, tenta se livrar da responsabilidade pelas atrocidades doutrinárias que põem na conta do educador Allan Kardec, pseudônimo de Hippolyte Rivail, discípulo de Pestalozzi na defesa da educação infantil.
Até o colunista do Brasil 247, Ricardo Neggo Tom - que preferiu ver negritude na aristocrática e esbranquiçada Beyoncé Knowles do que na modesta e autenticamente negra Tracy Chapman, que segue carreira sem ser submissa ao mercado - , mordeu a isca e, com seu dedo acusador, descontextualizou certas posições de Kardec que parecem "racistas" hoje, ignorando que o "médium da peruca" de Uberaba era racista e machista por conta de valores de sua formação religiosa e social, fincadas no Catolicismo jesuíta medieval.
Ninguém investiga o Espiritismo brasileiro porque três forças sociais não deixam. E que forças sociais são essas? O povo pobre, a Teologia da Libertação e os movimentos guevaristas bolivarianos, como imaginam as esquerdas médias?
Nada disso. O Espiritismo brasileiro nada tem a ver com o povo ou com movimentos libertários. Tem a ver com as elites conservadoras que se fantasiam de "democráticas", depois que, organizando golpes e implantando ditaduras ou governos de direita (tipo Temer ou Bolsonaro), lavam as mãos e se escondem sob os paletós azuis de Lula, um ex-líder popular que hoje se tornou um grande pelego que, após beijar na boca e fazer amor com as elites da Faria Lima, tenta reconquistar as classes populares em vão.
Quem apoia o Espiritismo brasileiro, um "kardecismo" que trai tanto Kardec que faz a traição de Judas Iscariotes contra Jesus Cristo ser uma manifestação de fidelidade canina, são três forças da pesada: a própria Faria Lima, que apresenta a "iluminada" doutrina para a elite do bom atraso, a mídia empresarial - a partir das Organizações Globo e do Grupo Folha - e, principalmente, o poderoso e perverso coronelismo do Triângulo Mineiro. Ainda vamos falar mais sobre esse cenário.
A "bondosa" religião da qual "todo mundo gosta" e que, aparentemente, é "só elogios" nas redes sociais e na mídia dita "imparcial" , mas ela se sustenta pela caridade fajuta que só oferece poucos donativos a famílias pobres que, desconfiadas, recebem esses mantimentos que se esgotam em dois dias sem manifestar alegria profunda, além de ter que esperar horas para pegar esses "benefícios" que mais parecem propaganda de promoção pessoal de "médiuns" charlatães.
Essa religião de ideias neomedievais - fundamentadas na Teologia do Sofrimento da Idade Média, porém mascaradas de "espiritualismo futurista" para enganar os incautos - também se vale pelo sensacionalismo barato das "psicografias", mensagens creditadas a mortos que são produzidas pelas próprias mentes dos autoproclamados "médiuns", com base em fontes bibliográficas e, no caso de mortos não-famosos, também pela leitura fria, que é a interpretação subliminar de gestos e depoimentos de vivos que conviveram com os finados.
É assustador como essas "psicografias" são legitimadas pela "boa" sociedade brasileira, como se os mortos perdessem o controle de si mesmos e os "médiuns" de julgassem "donos" de seus espíritos. Chega-se ao cinismo de permitir que se "acredite ou não" das pretensas identidades espirituais, como se a "liberdade de fé" permitisse essa desfaçatez, de "poder ou não" acreditar que o suposto morto teria escrito ou não a tal mensagem. Isso é uma grande ofensa aos mortos e uma permissão à violação da memória individual de cada pessoa.
A produção de "psicografias", mesmo partindo dos "médiuns" supostamente gabaritados (na verdade, charlatães blindados a mão de ferro por latifundiários e políticos de Uberaba, Uberlândia e Salvador), segue a lógica farsante dos abusos da inteligência artificial, principalmente quando se "clonam" imagens de pessoas famosas para promover a venda de produtos clandestinos, uma forma "avançada" comparável ao uso de fotos de famosos para vender remédios falsamente milagrosos ou páginas de prostituição.
Nove décadas antes da Inteligência Artificial, o hoje subestimado escritor Humberto de Campos - um neo-parnasiano influenciado pelo Modernismo - , foi usurpado pelo "médium da peruca", o mesmo que a elite do bom atraso, hoje, tenta vender como "profeta", "adivinho" e, pasmem, até como "dramaturgo", sobretudo nessa hedionda franquia "Nosso Lar".
Através dessa apropriação indevida, que quase botou o suposto "lápis de Deus" na cadeia (o que deveria ter ocorrido, se o Brasil fosse menos ingênuo e injusto), Humberto passou a figurar como "autor" de mensagens que fugiam do estilo pessoal do escritor maranhense, criando um perigosíssimo precedente do uso abusivo de nomes de mortos para mensagens terrivelmente enganosas que prometem "lindas estórias de amor" para uma sociedade ao mesmo tempo ressentida e megalomaníaca, a mesma que acha a velha música brega dos anos 1970 o "símbolo da felicidade hedonista brasileira".
Se o "telefone toca do lado de lá", eu não vejo diferença essencial entre um criminoso presidiário se passando por um familiar sequestrado, pedindo um alto valor de resgate, com charlatães "prestigiados" como o "médium da peruca", se passando por grandes escritores, ou pela professora Irma de Castro Rocha (ofendida com as psicografias creditadas a seu apelido "Meimei") ou por pessoas comuns, todos fazendo propagandismo religioso medieval.
Tudo é o mesmo golpe, a mesma fraude, o mesmo uso farsante de nomes de outras pessoas, seja para extorquir dinheiro de famílias que ja vivem seus problemas financeiros diversos, seja para iludir pessoas sofridas com a promessa de que, se essas pessoas aguentarem desgraças sem fim por mais tempo, teriam garantido o "paraíso celestial" através da invencionice pseudo-cósmica da colônia "Nosso Lar".
E a Inteligência Artificial também se compara a essas "psicografias", quando o uso é bastante abusivo. Eu não estou falando do uso didático da IA, que mostra como seria o ex-beatle John Lennon hoje ou como seriam algumas imagens recentes da Brittany Murphy. Estou falando no uso abusivo da IA, como também das "psicografias".
E, lá fora, também há mensagens fake da Brittany e o "uso" do espírito dela por pessoas que estabeleceram contato com ela, mas nunca foram amigas íntimas, como as atrizes Jaime Pressly e Taryn Manning, talvez porque estas precisam de algum trampolim para suas carreiras que não conseguem o desejado reconhecimento do público.
Falo do uso leviano, seja pela tecnologia de algoritmos capaz de criar, por exemplo, bandas fictícias como o Velvet Sundown, ou pela "fábrica de psicografias" que ocorre em quartos secretos de instituições "espíritas", das quais se pesquisam fontes bibliográficas para imitar, ainda que de forma bastante falha, os estilos respectivos dos mortos. A lógica farsante é a mesma. Daí que chamo essas "psicografias" de psicografakes.
Vemos casos de supostas mensagens "espirituais" que são claramente farsantes, pois fogem de aspectos fundamentais das personalidades que os falecidos fizeram em vida. Um Olavo Bilac que "perdeu" seu talento de fazer a métrica parnasiana? Um Humberto de Campos igrejista sem a sua escrita fluente? Um Raul Seixas e um Noel Rosa abobalhados? Uma Cássia Eller falando em dragões cuspindo fogo no umbral? Um Eça de Queiroz sem sua narrativa movimentada? Isso mostra o quanto tais obras soam farsantes e ofendem as memórias dos mortos.
Essas "psicografias" não são molecagens a serem toleradas. São crimes gravíssimos contra as memórias dos mortos, são apropriações indevidas que só agravam o charlatanismo desses religiosos que são protegidos pelos barões da mídia e por latifundiários poderosíssimos, mas que também recebem passagens de pano generosas das esquerdas médias, cada vez mais decepcionantes e atuando como forças auxiliares das forças golpistas que dizem combater.
E ver que o pessoal ainda vai para o cinema para ver esses filmes "espíritas" horrorosos e que soam como velhos dramalhões piegas dos anos 1940 é constrangedor, assim como a adesão aberta de atores que deveriam fugir dessa dramaturgia medieval. Assim o nosso Brasil não vai se tornar desenvolvido, entregue a esse traiçoeiro obscurantismo religioso servido como água com açúcar. Com esse atraso mental, é impossível o ingresso ao Primeiro Mundo. Favor não insistir em tese contrária, pois é inútil brigar com os fatos, mesmo que seja em nome da "fé raciocinada".
Comentários
Postar um comentário