Antes de irmos a este texto, um aviso. Esqueçamos os Archies e os Monkees, bandas de proveta que, no fundo, eram muito boas. Principalmente os Monkees, dos quais resta vivo o baterista e cantor Micky Dolenz, também dublador de desenhos animados da Hanna-Barbera (também função original de Mark Hamill, antes da saga Guerra nas Estrelas).
Essa parcela do suposto “rock de mentira” até que é admirável, despretensiosa e suas músicas são muito legais e bem feitas. E esqueçamos também o eclético grupo Gorillaz, influenciado por hip hop, dub e funk autêntico, porque na prática é um projeto solo de Damon Albarn, do Blur, com vários convidados.
Aqui falaremos de bandas farsantes mesmo, sejam bandas de empresários da Faria Lima, como havíamos descrito antes, seja o recente fenômeno do Velvet Sundown, grupo de hard rock gerado totalmente pela Inteligência Artificial.
O Velvet Sundown é um quarteto imaginário que foi gerado pela combinação de algoritmos que produziram todos os elementos da banda, desde as biografias, montadas com a desenvoltura de um artigo de um Chat GPT, até o som, irregular no estilo e até nos timbres vocais, embora focado num hard rock pretensamente melódico.
Até as capas dos dois álbuns, ambos lançados este ano, soam paródias das capas que a empresa de design Hygpnosis fazia para os discos de rock progressivo, com aqueles olhos soltos em alguma plataforma instalada no deserto.
O imaginário grupo segue aqueles clichês vazios de rebeldia roqueira que de tão postiça mais parecem evocar uma repaginação daquele “rock papai e mamãe” que Raul Seixas acusava dos irmãos Tony e Celly Campello, hoje voltada para o padrão Rock In Rio.
Trata-se daquele amontoado de simbologias roqueiras postiças, que soam estereótipos e em nada representam da essência original do rock, pois tudo é aparência, visual, clichês musicaise atitudes convencionais. Nada que tivesse um significado musical autêntico, soando mais como aqueles testaurantes temáticos de rock bem ao gosto do farialimeiro cheio de grana para comprar um combo caríssimo para o seu lanche.
É tudo feito para um público mais preocupado em botar a língua para fora, fazer o sinal do capeta com as mãos e vestir jaqueta de couro sem contexto, pouco importando se o Deep Purple é mais do que “Smock on the Water” ou o AC/DC mais do que “Back in Black” ou se o título de uma canção do Creedence Clearwater Revival é “Proud Mary” e não “Uouin’ At the Ribo”.
É constrangedor que a cultura rock lá de fora venha com tais armações, facilmente acolhidas por yuppies fantasiados de roqueiros, comandando um mercado e uma mídia que, a pretexto de viabilizarem economicamente a difusão do rock, domesticam e sufocam qualquer expressão genuína do gênero.
E o Brasil, devido ao cenário de devastação cultural, é um mercado próspero para armações que só servem para esse pastiche de cultura rock sem um pingo do espírito roqueiro autêntico. Daí a palhaçada do pretenso Dia Mundial do Rock, a ser lembrado amanhã somente no Brasil através dos "roqueiros da Faria Lima".
Daí que essa pretensa “cultura rock”, que cheira mais ao perfume importado dos escritórios da Faria Lima, age mais contra o rock do que a favor dele, de vez em quando armando falsos projetos que soam como uma chacota, sejam grupos de empresários brincando de fazer rock clássico, sejam bandas criadas pela Inteligência Artificial. Para as “rádios rock” que tratam o público roqueiro como se fosse um bando de bebês, isso é um prato cheio.
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