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A MAIS DURA LIÇÃO PARA LULA, NO SEU TERCEIRO MANDATO


A vida, muitas vezes, traz lições amargas para quem acha que pode abusar e não sofrer as consequências. Lula foi fazer do seu mandato o governo da festa e está enfrentando uma queda de popularidade que, através das supostas pesquisas de opinião, é apenas uma leitura suave da grave crise de apoio que assola seu governo.

Foi um balde de água fria nas ambições globais de Lula a informação do periódico britânico The Economist de que o presidente brasileiro é irrelevante e incoerente nas relações internacionais. Parecer uma criança tentando apartar a briga de adultos, Lula quis ser o Senhor da Paz e líder mundial com sua proposta de “Sul Global” , com direito a muita pieguice e jogo de cena, que os efeitos saíram do contrário do que foi desejado.

Sim, porque Lula esperava a consagração como líder mundial, se agigantando como um mito histórico. Lula até caprichou na pose, usando óculos e falando frases de efeito, embora previsíveis, como se fosse um tribuno dos anos 1950.

Mas não deu certo. Lula tornou-se um personagem sem importância na geopolítica mundial e desperdiçou todo o começo do atual mandato para fazer política externa, enquanto deveria ter trocado isso por um hiato de contatos externos para focalizar somente nos problemas nacionais.

Para piorar mais ainda as coisas, Lula comprou produtos caros, para ele e sua Janja, e isso irritou as classes populares. A blindagem dos lulistas a tudo que Lula fez e disse foi intensa, mas o presidente só via sua popularidade se dissolver de maneira dramática.

Lula tornou-se vítima de seus erros. Apostava em números e palavras como substitutas para suas ações. Cono se números e palavras fizessem pelos atos ou fossem os atos em si. E muita gente acreditou nesse balé de números e palavras inventando relatórios fantásticos sobre o tal “Efeito Lula”.

Mas palavras e números não substituem atos e fatos. Podem representá-los, mas não tomar o lugar deles. Daí que Lula apostou na atitude patética de falar para a realidade “conhecer” os atos do governo. Ou seja, Lula se achava no centro de tudo e dizia para a realidade atender aos desígnios do presidente. O povo que tenha que abafar os roncos dos estômagos famintos e acreditar numa fartura que não veem em sua frente.

Mas a verdade vem e os birrentos lulistas têm que se acostumar em admitir que as críticas contra Lula não são exclusivas dos bolsonaristas. Hoje a mais contundente oposição a Lula vem justamente daqueles que mais o apoiaram no passado: os diversos extratos das classes populares, do proletariado aos professores da rede pública, dos indígenas aos sem-teto, do campesinato aos intelectuais autênticos e autenticamente de esquerda.

Ou seja, é a esquerda raiz que está mais revoltada com Lula, bem mais do que os bolsonaristas, diga-se de passagem. Não é porque Lula conquistou um carisma que pode fazer o que quer sem sofrer as devidas consequências. Lula trocou o trabalho pela festa e passou os dois primeiros anos do terceiro mandato festejando e brincando. Não dá para desmentir isso, os fatos registram e mostram.

Agora Lula quer correr contra o tempo e tenta fazer agora o que deveria ter feito no começo. Perdido, Lula ainda utiliza os mesmos apelos da fase festiva de seu governo, como o relatorismo dos "recordes históricos do Efeito Lula". Mas isso não convence sequer um poste de luz, e hoje o presidente Lula vê sua decadência sair do controle, com as chances de sua reeleição reduzirem a cada dia. 

Lula tratou a reconstrução do Brasil como se fosse um assunto secundário. Tratou o assunto dos alimentos caros como se não fosse com ele. Tratou a precarização do trabalho, como a escala 6x1, como se fosse um tema alheio, e lavou as mãos. 

O presidente se esqueceu de cuidar do Brasil, mas estava ansioso para reconstruir a Ucrânia. Temia que o aumento substancial do salário mínimo estouraria o Orçamento da União, mas despejava grandes somas de dinheiro para comprar votos dos deputados federais, as tais "verbas para emendas parlamentares". Lula cuidou de fazer o Festival do Futuro depois da posse, retardando e pulverizando a posse de sua equipe ministerial, que poderia ser tudo, menos equipe.

A vida ensina que não se pode brincar com o destino e a pessoa tem que ter um respeito próprio e com a sociedade. Lula deixou a luta de lado, passou a ser um presidente festeiro, como se assumir o Governo Federal fosse brincadeira de criança. Lula preferiu a autocelebração e se esqueceu de reconstruir de verdade o Brasil. Daí que a consequência desagradável veio e a baixa popularidade é a maior das duras lições que a vida trouxe ao presidente brasileiro. A realidade é implacável.

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