Pular para o conteúdo principal

A PANTOMIMA DE LULA NO PRETENSO PROTAGONISMO INTERNACIONAL DO BRASIL


O "fogo de palha" que se tornou o discurso de Lula na abertura da Assembleia da ONU, com palavras até muito bem intencionadas e corretas, mas óbvias, mostra o quanto é supérflua a necessidade do Brasil ter protagonismo mundial. Nosso país está culturalmente sucateado e a reconstrução propriamente dita ainda não começou, embora os lulistas deem como terminada. Terminada sem começar.

A pantomima discursiva de Lula, que parece atuar como um competidor de gincana, como se a História fosse uma olimpíada escolar, empolgou até a mídia corporativa, já que a elite que domina as narrativas nas redes sociais sonha com o empoderamento mundial, uns 30% de brasileiros que já têm o restante dos compatriotas na palma de suas mãos e que está esperançosa em transformar o planeta Terra numa bolinha de gude para suas vaidades de elite supostamente esclarecida.

Como um grande pelego político, Lula tenta maquiar suas viagens ao mundo com a "mundialização" de suas propostas políticas. Falemos propostas políticas, pois Lula não foi eleito através de um programa de governo. Lula preferiu acreditar no carisma pessoal e apostar naquilo que o jargão cultural define como "deitar na cama depois da fama". Daí que Lula quer, agora, criar um programa "mundial" de combate à fome, um programa "trabalhista", do qual descreveremos a seguir, e em breve teremos, a reboque do tal "Sul Global", um "Bolsa Família mundial".

Tendo jogado o esquerdismo no lixo e apostado numa "democracia de um homem só", indo contra o próprio compromisso democrático da competitividade eleitoral, Lula cometeu erros diversos da campanha presidencial para cá. E, se ele acertou, aparentemente, no discurso da ONU, foi porque seus seguidores e até mesmo alguns opositores, esperançosos em ver sua elite tendo cartaz mundial, viram no "comício mundial" da ONU uma chance do viralatismo brasileiro se impor ao mundo.

Na música, vimos um tecladista de Bruno Mars, Joe Fossit, tocando a horrenda "Evidências", sucesso da música brega consagrado pelos intragáveis Chitãozinho & Xororó. Vimos Luísa Sonza, ícone do ultracomercialismo brasileiro atual, fazer dueto com Demi Lovato. Já se anuncia um show em dueto entre Rod Stewart e a canastrona Ivete Sangalo. E a geração Tik Tok/Instagram já tem um "Tom Jobim" para chamar de seu, o medíocre Michael Sullivan.

Se só com essa amostra do quadro culturalmente deplorável em que vive o Brasil, do qual é inútil transformar em algo melhor com chuva de dinheiro do Ministério da Cultura, é até preocupante essa ostentação do nosso país ao resto do mundo, imagine com os velhos entulhos acumulados desde a Era Geisel e que são falsamente creditados como "relíquias nostálgicas". Como o nosso país irá comandar o mundo sendo culturalmente tão deteriorado?

E aí vemos Lula insistindo na sua megalomania, na sua grandiloquência, num desempenho aquém dos dois mandatos anteriores. Os benefícios dos brasileiros são apenas mornos e relativos, não se viu ainda aquele progresso socioeconômico que esperávamos. Quem vive a plenitude do momento atual é a classe média abastada, enquanto os verdadeiros pobres, os verdadeiros proletários, camponeses e lúmpens, estão a ver navios.

Depois do discurso da ONU, Lula foi discutir o "trabalho digno" com Joe Biden, presidente dos EUA, a maior nação capitalista do planeta, e uma das mecas do neoliberalismo que Lula havia criticado no festejado discurso. 

O enunciado parece bom na teoria, mas bastante vago e genérico, e tratando os trabalhadores como se fosse um gado uniforme. Fico desconfiado de que a "valorização dos sindicatos" por Lula e Biden não seria uma maneira de submeter o proletariado à burocracia patronal e às diretrizes do peleguismo.

Tudo parece fácil, tudo parece sonho, pois Lula acha que pode fazer esquerdismo se aliando com gente antagônica a ele. Lula, na prática, nem é tão esquerdista assim, mas ele depende do esquerdismo para construir seu carisma, ele vive do cadáver simbólico do antigo líder sindical que desapareceu para sempre.

Prefiro ser realista e cético. Não sou pessimista. Sou uma das pessoas em busca de esperança, mas ilusão não é esperança. Sou mais esquerdista que muito lulista de carteirinha, por isso fico muito preocupado com esse mundo do "esquerdismo fácil", em que o golpe político de 2016 ocorreu há pouco tempo e parte de seus artífices agora está de mãos dadas com um Lula que finge ser um leão mas que mais parece um ursinho de pelúcia dos neoliberais.

Não gostaria de ver o Brasil "voltando ao mundo" agora, com a casa desarrumada. Precisamos remover os entulhos socioculturais de 50 anos atrás, muita breguice, muito obscurantismo religioso, muito fanatismo etílico-esportivo, muita coisa que tenta inverter a lógica do produto ruim que, com o tempo, apodrece e perde a validade que supostamente tinha. Daí que se insiste em creditar o perecível como se fosse perene, invertendo a deterioração como se o podre virasse ouro. Só que não.

Lula realizando política externa como um astro pop, buscando a projeção mundial e se ostentando nos noticiários, só empolga a elite do atraso, de esquerda ou da direita moderada, que tem tempo para sentar-se no sofá, com cervejinha na mão, para ouvir todo o discurso de Lula.

Os trabalhadores, agora uma entidade "amorfa" que Lula, hoje, já não se reconhece mais nela, não têm tempo para ouvir o pomposo discurso do presidente brasileiro, ocupados em ter que acordar cedo e buscar alternativas de geração de renda, pois os R$ 2.025 (salário mínimo de R$ 1.320 mais Bolsa Família de R$ 705) são insuficientes para ter um padrão de vida perto da dignidade, ou seja, diferente da visão de "pobreza linda" que a "boa" sociedade lulista, no seu juízo de valor, define as classes populares.

Gostaria de ver o Brasil na verdadeira reconstrução, quieto diante do mundo. Sua ostentação no chamado concerto das nações não contribui, em si, para melhorar a vida dos brasileiros, só empolgando a elite que monopoliza as narrativas nas redes sociais, que adora espetáculos, que pouco se importa se o Brasil acabou se ser reconstruído ou começará a se reconstruir. Não satisfeita em se julgar "dona" do povo brasileiro, a elite do bom atraso, através de Lula, quer se promover a "dona do mundo".

Festejando loucamente, a elite do bom atraso pensa que Lula falando é o mesmo que Lula fazendo e que ele pode ser esquerdista se aliando a um neoliberal para criar um programa "mundial" supostamente em favor dos trabalhadores. Enquanto isso, ao meu redor eu vejo um monte de pessoas pobres no seu ceticismo dramático em relação ao atual governo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

A PRISÃO DE MC POZE E O VELHO VITIMISMO DO “FUNK”

A prisão do funqueiro e um dos precursores do trap brasileiro, o carioca MC Poze do Rodo, na madrugada de ontem no Rio de Janeiro, reativou mais uma vez o discurso vitimista que o “funk” utiliza para se promover. O funqueiro, cujo nome de batismo é Marlon Brandon Coelho Couto Silva, e que já deixou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes para ir a um presídio no bairro carioca de Benfica, tem entre o público da Geração Z e das esquerdas identitárias a reputação que Renato Russo teve entre o público de rock dos anos 1980, embora o MC não tenha 0,000001% do talento, pois se envolve em um ritmo marcado pela mais profunda precarização artístico-cultural. No entanto, MC Poze do Rodo foi detido por acusações de apologia ao crime organizado, ao porte ilegal de armas e à violência. Em várias vezes, Poze aparecia com armas nas fotos das redes sociais, o que poderia sugerir um funqueiro bolsonarista em potencial. A polícia do Rio de Janeiro enviou o seguinte comunicado:: “De acordo com as inves...

O ATRASO CULTURAL OCULTO DA GERAÇÃO Z

Fico pasmo quando leio pessoas passando pano no culturalismo pós-1989, em maioria confuso e extremamente pragmático, como se alguém pudesse ver uma espessa cabeleira em uma casca de um ovo. Não me considero careta e, apesar dos meus 54 anos de idade, prefiro ir a um Lollapalooza do que a um baile de gala. Tenho uma bagagem cultural maior do que mimha idade sugere, pelas visões de mundo que tenho, até parece que sou um cidadão mediano de 66 anos. Mas minha jovialidade, por incrível que pareça, está mais para um rapazinho de 26 anos. Dito isso, me preocupa a existência de ídolos musicais confusos, que atiram para todos os lados, entre um roquinho mais pop e um som dançante mais eroticamente provocativo, e no meio do caminho entre guitarras elétricas e sintetizadores, há momentos pretensamente acústicos. Nem preciso dizer nomes, mas a atual cena pop é confusa, pois é feita por uma geração que ouviu ao mesmo tempo Madonna e AC/DC, Britney Spears e Nirvana, Backstreet Boys e Soundgarden. Da...

LÉO LINS E A DECADÊNCIA DE HUMORISTAS E INFLUENCIADORES

LÉO LINS, CONDENADO A OITO ANOS DE PRISÃO E MULTA DE MAIS DE R$ 300 MIL POR CONTA DE PIADAS OFENSIVAS. Na semana passada, a Justiça Federal, através da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou o humorista Léo Lins a oito anos de prisão, três deles em regime inicialmente fechado, e multa no valor de R$ 306 mil por fazer piadas ofensivas contra grupos minoritários.  Só para sentir a gravidade do caso, uma das piadas sugere uma sutil apologia ao feminicídio: "Feminista boa é feminista calada. Ou morta". Em outra piada machista, Léo disse: "Às vezes, a mulher só entende no tapa. E se não entender, é porque apanhou pouco". Léo também fez piadas agredindo negros, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com HIV, indígenas, evangélicos, pessoas com deficiência, obesos e nordestinos, entre outros. O vídeo que inspirou a elaboração da sentença foi o espetáculo Perturbador, um vídeo gravado em 2022 no qual Léo faz uma série de comentários ofensivos. Os defensores de Léo dizem qu...

ELITE DO BOM ATRASO PIROU NAS REDES SOCIAIS

A BURGUESIA DE CHINELOS NÃO QUER OUTRO CANDIDATO EM 2026. SÓ QUER LULA. A elite do bom atraso, a “frente ampla” social que vai do “pobre de novela” - tipo que explicaremos em outra postagem - ao famoso muito rico, mas que inclui também a pequena burguesia e a parcela “legal” da alta burguesia, enlouqueceu nas redes sociais, exaltando o medíocre governo Lula e somente desejando ele para a Presidência da República na próxima eleição. Preso a estereótipos que deixaram de fazer sentido na realidade, como governar para os pobres e deixar a classe média abastada em segundo plano, Lula na prática expressa um peleguismo que é facilmente reconhecido por proletários, camponeses, sem-teto e servidores públicos, que veem o quanto o presidente “quer, mas não quer muito” trabalhar para o bem-estar dos brasileiros. Lula tem como o maior de seus inúmeros erros o de tratar a reconstrução do Brasil como se fosse uma festa. Esse problema, é claro, não é percebido pela delirante elite do bom atraso que, h...

GOVERNO LULA AGRAVA SUA CRISE

INDICADO POR LULA PARA O BANCO CENTRAL, GABRIEL GALÍPOLO PREFERIU MANTER OS JUROS ALTOS "POR MUITO TEMPO". Enquanto o governo Lula limita gastos mensais com universidades federais, a farra das ONGs nas ditas “emendas parlamentares” é de R$ 274 milhões. Na viagem para a China, Lula é acusado de gastar café com valor equivalente a R$ 56 e de conprar um terno no valor equivalente a R$ 850. Quanto às universidades públicas, a renomada Academia Brasileira de Ciências acusa o governo Lula de desmontar as instituições de ensino superior público através desses cortes financeiros. Lulistas blindam Janja quando ela quebrou o protocolo da conversa entre o marido e o presidente chinês Xi Jinping, para falar de sua preocupação com o Tik Tok. Em compensação, Lula não cumpriu a promessa de implantar o Plano Nacional de Transição Energética, que iria tirar o Brasil da dependência de combustível fóssil. Mas o presidente ainda quer devastar a Amazônia Equatorial para extrair mais petróleo. Lul...

QUANDO A CAPRICHO QUER PARECER A ROCK BRIGADE

Até se admite que o departamento de Jornalismo das rádios comerciais ditas “de rock” é esforçado e tenta mostrar serviço. Mas nem de longe isso pode representar um diferencial para as tais “rádios rock”, por mais que haja alguma competência no trabalho de seus repórteres. A gente vê o contraste que existe nessas rádios. Na programação diária, que ocupa a manhã, a tarde e o começo da noite, elas operam como rádios pop convencionais, por mais que a vinheta estilo “voz de sapo” tente coaxar a palavra “rock”. O repertório é hit-parade, com medalhões ou nomes comerciais, e nem de longe oferecem o básico para o público iniciante de rock. Para piorar, tem aquele papo furado de que as “rádios rock” não tocam só os “clássicos”, mas também as “novidades”. Papo puramente imbecil. É aquela coisa da padaria dizer que não vende somente salgados, mas também os doces. Que diferença isso faz? O endeusamento, ou mesmo as passagens de pano, da imprensa especializada às rádios comerciais “de rock” se deve...

A ILUSÃO DE QUERER PARECER O “MAIS LEGAL DO PLANETA”

Um dos legados do Brasil de Lula 3.0 está na felicidade tóxica de uma parcela de privilegiados. A obsessão de uns poucos bem-nascidos em parecer “gente legal”, em atrair apoio social, os faz até manipular a carteirada para cima e para baixo, entre um sentimento de orgulho aqui e uma falsa modéstia ali, sempre procurando mascarar a hipocrisia que não consegue se ocultar nas mentes dessas pessoas. Com a patrulha dos negacionistas factuais, “isentões” designados para promover o boicote ao pensamento crítico nas redes sociais, a “boa” sociedade que é a elite do bom atraso precisa parecer, aos olhos dos outros, as mais positivas possíveis, daí o esforço desesperado para criar um ambiente de conformidade e até de conformismo, sobretudo pela perigosa ilusão de acreditar que o futuro do Brasil será conduzido por um idoso de 80 anos. Quando ouvimos falar de períodos de supostas regeneração e glorificação do “povo brasileiro”, nos animamos no primeiro momento, achando que agora o Brasil será a n...

APOIO DAS ESQUERDAS AO "FUNK" ABRIU CAMINHO PARA O GOLPE DE 2016

MC POZE DO RODO, COM SEU CARRO LAMBORGHINI AVALIADO EM TRÊS MILHÕES DE REAIS. A choradeira das esquerdas médias diante da prisão de MC Poze do Rodo tenta reviver um hábito contraído há 20 anos, quando o esquerdismo passou a endossar o discurso fabricado pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo para "socializar" o "funk", um dos ritmos do comercialismo brega-popularesco que passou a blindar por uma elite de intelectuais sob inspiração do antigo IPES-IBAD, só que sob uma retórica "pós-tropicalista". A revolta contra a prisão do funqueiro e alegações clichês como "criminalização da cultura" e "realidade da favela" feita por parlamentares e jornalistas da mídia esquerdista se tornam bastante vergonhosas e, em muitos casos, descontextualizada com a real preocupação com as classes pobres da vida real, que em nenhum momento são representadas ou se identificam com o "funk" ou o trap. O "funk" e o trap apenas falam sobre o ...