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O PELEGUISMO DE LULA

NUNCA ENGOLI O PROJETO DE JOE BIDEN E LULA "EM DEFESA DOS TRABALHADORES".

As pessoas se esquecem ou desconhecem, mas o jargão sindicalista "pelego" se aplica hoje ao presidente Lula, que desde a campanha presidencial abriu mão de seus princípios para obter vantagens políticas e, por outro lado, faz promessas fabulosas cujos resultados práticos estão longe de serem brilhantes, embora razoavelmente bons.

Lula criou a lorota da "frente ampla", a frente ampla demais que facilitou seu caminho para o Palácio do Planalto. Colocou um neoliberal para vice, e, por sorte, Geraldo Alckmin hoje cumpre um papel mais decorativo, pois na prática Fernando Haddad e Flávio Dino (que pode deixar o governo para ocupar cargo no Supremo Tribunal Federal) é que governam o Brasil na ausência de Lula.

Lula recorreu à elite da Faria Lima para tais fins eleitorais. Como presidente, sacrificou justamente o Ministério do Esporte para buscar aliança com o Centrão, dando fim ao desempenho ao mesmo tempo técnico e de interesse público da ex-jogadora Ana Moser. E Lula faz coisas estranhas, como dando rios de dinheiro para o Congresso Nacional aprovar as emendas, enquanto fica melindroso nos aumentos salariais. Corrupção?

A decepção minha com Lula, que eu admirei até 2020, também é reforçada pelo estranho acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, chefe da maior nação capitalista do mundo, supostamente em defesa dos trabalhadores e a favor do fortalecimento dos sindicatos. Para mim, soa algo bom demais para ser verdade, mesmo quando jornalistas da mídia progressista alegam que Biden é apoiado por líderes sindicais dos EUA.

Bom, considero que Biden não é Franklin Roosevelt, da mesma forma que Lula não é Getúlio Vargas. E Biden havia mexido as peças da geopolítica de dez anos atrás, monitorando o Departamento de Estado dos EUA para articular um golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, que, pelo jeito, está brigada com Lula, pois o presidente não conseguiu convencer da tardia defesa da antiga parceira, depois de hesitar na comemoração de uma absolvição jurídica da governante expulsa do poder em 2016.

Diferente de Dilma, o presidente Lula compactua com uma parcela dos golpistas de 2016, justamente os "cérebros", que agora transferiram a culpa para personagens coadjuvantes, como Michel Temer, Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha, Janaína Pascoal, Carla Zambelli, Silas Malafaia e Kim Kataguiri, entre outros, que na prática foram operadores do inverno golpista de 2015-2022.

Com essas ações que os lulistas alegam serem "estratégicas", Lula nos ensina o que é ser pelego. Ele jura que está governando em favor dos mais pobres, alega fidelidade ao povo do chão de fábrica, mas na prática apenas diminui levemente a agonia dos trabalhadores mas sem impedir que o empresariado mantenha seus privilégios.

A palavra "democracia", antes um pretexto para armar um golpe para derrubar o progressista João Goulart - lembremos que Vargas e Jango eram acusados de peleguismo, mas na prática suas propostas eram bem mais consistentes do que as de Lula no atual mandato - , hoje é um pretexto para o atual presidente da República desviar-se do trajeto progressista apelando para desvarios neoliberais.

Eu acompanhei os movimentos sindicais quando era estudante da UFBA, nos anos 1990. Em Salvador, já vi muitas marchas de sindicalistas, de gente pedindo aumentos salariais com reposição de perdas e manutenção de encargos. Recentemente, aqui em São Paulo, houve uma greve de funcionários do Metrô, da CPTM e da SABESP contra as privatizações das empresas. A greve ocorreu ontem, mas a assembleia decidiu pelo fim do protesto.

Sim, a manifestação tem como alvo o plano de privatização do governador paulista Tarcísio de Freitas, um dos "filhos" do direitismo golpista de 2016. Mas vamos combinar que o golpismo que derrubou Dilma Rousseff se deu, em grande parte, pelo culturalismo brega da intelectualidade "bacana", que com sua retórica de "combate ao preconceito" da bregalização (que gourmetizava a degradação da cultura popular que marcou a ditadura militar), abriu caminho para o "combate à corrupção" da direita raivista.

As lutas sindicais não são o espetáculo que Joe Biden diz apoiar, pois creio que o movimento dos trabalhadores não é para se ostentar na mídia, mas usar a mídia para divulgar sua pauta de reivindicações.

O "fortalecimento" dos sindicatos proposto por Biden e Lula mais parece uma cooptação de sindicalistas pelegos e o fortalecimento, sim, do poder dessas lideranças, enquanto os "direitos dos trabalhadores" são apenas uma formalidade institucional, embora os benefícios sejam menores do que se acredita. O próprio Lula enfatiza as "negociações" entre trabalhadores e empresários, e nós sabemos como isso termina.

O próprio Lula, repetindo a aliança pelega com Joe Biden para domesticar os trabalhadores, resolveu também se aliar com o magnata Jorge Paulo Lemann, o "Rei da Cerveja", para domesticar os alunos da rede pública de ensino com a Internet monitorada pela burocracia acadêmica, buscando ensiná-los evitando estimular o pensamento crítico, antes desencorajando, sob o pretexto de que agora, no Brasil, "tudo está bem".

É compreensível que muita gente torce o nariz para as críticas ao governo Lula, hoje definitivamente a sua performance mais decepcionante e fraca. Mas quem está feliz com o governo Lula é quem ganha dinheiro à toa ou em excesso, para desperdiçar com madrugadas boêmias de muita cerveja, estoques de cigarros, carros SUV, vários aparelhos de TV, canis em seus apartamentos, viagens burocráticas ao exterior, festinhas todo fim de semana e tantas coisas à toa. 

Quem está feliz e não aceita uma vírgula de reclamação contra o governo Lula é quem tem dinheiro de sobra até para botar filhos nas faculdades do exterior, retomando o hábito dos fidalgos do Brasil-colônia.

Mas mesmo nas bolhas esquerdistas a decepção com Lula começa a surgir, porque os resultados práticos são muito pífios para tanto aplauso. O excesso de viagens ao exterior, os fracos aumentos salariais e as fracas reduções de preços, a "velha política" de Lula querer agradar o Centrão, tudo isso mostra o quanto Lula faz a lógica do pelego.

E isso é certo, pois, como um típico pelego, Lula não ouve conselhos, não tem autocrítica, move de acordo com seus impulsos e se rende às conveniências do momento. Isso não é estratégia, não se trata de um jogo de cintura para beneficiar o povo brasileiro, mas uma manobra para Lula obter vantagens pessoais e ficar bem na fita na sua trajetória política.

Apesar de serem apenas dez meses de governo, já se pode definir o governo de Lula como o mais fraco dos três mandatos. Lula não vai mudar daqui em diante, e agirá da forma como agiu até agora e como agiu durante sua campanha presidencial. Enquanto isso, fora da bolha lulista, os pobres da vida real se sentem abandonados pelo presidente e não param de reclamar irritados e enlouquecidos com tanto sofrimento na vida.

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