A elite do bom atraso, ou seja, a classe média abastada que se passa por "gente simples" para mascarar seus privilégios abusivos (embora longe de atingir o patrimônio de um banqueiro, por exemplo), deveria ter vergonha na cara ao idolatrar um suposto "médium espírita" que atuou em Uberaba e que foi pioneiro na literatura fake e apoiou mais a ditadura militar do que muito hidrófobo de carteirinha.
O finado charlatão (cujas iniciais são as consoantes da palavra "caixa") foi um dos maiores farsantes religiosos da História do Brasil, mas ele é blindado até nos seus piores erros, tanto que oficialmente suas psicografakes, cuja maior vítima é o injustiçado escritor Humberto de Campos (cuja obra original hoje está esquecida e desprezada), "não são verdadeiras nem falsas", constatação que mostra o quanto a elite do bom atraso é amiga da hipocrisia e da dissimulação.
É claro que a obra desse farsante reacionário era falsa. Mas quem usa a "caridade" dele como carteirada para abafar as críticas deveria se envergonhar, porque essa "caridade" também não prestava coisa alguma, tendo sido tão ineficiente e oportunista quanto a de Luciano Huck, declarado adepto do "médium".
No auge da ditadura militar, essas ações "caridosas" só empolgavam as elites paternalistas, que sempre viam no povo pobre um bando de animais doentes, a serem domesticados tanto cultural quanto religiosamente. Daí a bregalização cultural, daí o "funk", daí a gourmetização do futebol, daí a "caridade espírita", entre tantas medidas meramente e porcamente paliativas, que nunca resolveram de forma definitiva as desigualdades sociais.
Prestemos atenção nessas "caridades" do farsante de Uberaba. "Cartinhas psicográficas" montadas pelas informações de fontes diversas e pela leitura fria, de diários pessoais dos mortos até jornais comunitários, além das declarações dos parentes vivos e da forma como eles declaram e fornecem informações, tudo isso é claramente farsante, mentiroso, fraudulento. Não tem outro meio de classificar isso, até porque soa cretino ficar na zona de conforto retardada de considerar isso "nem falso nem verdadeiro".
Mas há também a "distribuição de mantimentos", a "caridade verdadeira" que "transforma vidas" (naquela confusão entre "diminuir a dor do sofrimento" e "transformar vidas", duas ideias completamente diferentes entre si), embora nunca se viu essa transformação, pois os miseráveis sempre continuam os mesmos.
Até aí a farsa se mostra. Pobres humilhados formando longas filas, para receberem, por mês, um pacotinho de mantimentos que se esgota em dois dias. Pobres sem nome, sem rosto, apenas formalmente identificados nos cadastros por nomes que se evaporam no esquecimento. Gente desprezada e tratada como desprezível, a fazer o papel subserviente de alimentar a vaidade e a promoção pessoal do "médium" que, tal como um mafioso, ainda recebia a cerimônia do beija-mão de mulheres miseráveis e resignadas.
Até os programas de socorros de bichinhos que passam no YouTube são mais respeitáveis com os animaizinhos. Mas a elite do bom atraso vai dormir tranquila e até manifesta sua pretensa comoção, em choros hipócritas e ensaiados, diante dos pobres atendidos por um ídolo religioso. A comoção fácil, mera masturbação dos olhos, se dirige não aos miseráveis que são meros detalhes do espetáculo religioso, mas ao ídolo religioso, alvo da adoração mais fanática e doentia.
É vergonhoso tudo isso. A "boa" sociedade deveria tomar vergonha na cara, diante desse ritual de adoração a um farsante religioso que nada fez pelo próximo de verdade e até recusava ajudar os oprimidos, pois seus mais de 400 livros são um atestado da mais deplorável perversidade, como se fosse um tirano fascista com a boca e a tinta da caneta cheias de mel.
Pois esses livros sempre pediam aos aflitos aguentarem as piores desgraças, quietos, submissos e conformados, ou então teriam que dar murro em ponta de faca para, na bacia das almas, realizar apenas 1% do que desejam e necessitam na vida.
É por isso que o Brasil se encontra nesse atraso terrível, em que um ídolo religioso patrocinado pela ditadura militar para combater a Teologia da Libertação, o "médium" que, de mãos dadas com "pastores" e "bispos" neopentecostais, promoviam o obscurantismo religioso, se promovendo às custas do sofrimento alheio.
Daí que o nosso país não irá para a frente, preso nesse atoleiro do fanatismo. Sobretudo na dissimulada exploração de um "médium" farsante e charlatão da filantropia oportunista, que soa "altruísta" apenas para aqueles abastados que, no egoísmo de seu conforto semi-nababesco da burguesia de chinelos e balangandãs, usam a adoração a esse picareta da "fé raciocinada" como um meio hipócrita de dizer que "pensa na dor do próximo". De preferência, com os miseráveis sofrendo longe desses lares da opulência abusiva e supérflua.
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