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BISNETO DE MODERNISTA VIAJA NA MAIONESE E DIZ QUE "FUNK" É "AFRO-BRASILEIRO"

MENO DEL PICCHIA, EM FOTO DE DIVULGAÇÃO.

A todo momento vem um intelectual ou artista bacaninha, bancando o "cara mais legal do mundo", esbanjando coitadismo e prometendo provocatividade, mas uma provocatividade que não provoca e soa banal demais. Como um debate que não se debate, dentro de uma "boa" sociedade que sente alergia a senso crítico, o prato principal de nosso blogue.

Eu já fechei o meu livro Esses Intelectuais Pertinentes..., o substancial livro que muita gente tem medo de adquirir porque desmonta todo aquele mundo cor-de-rosa dos pobres domesticados das comédias de televisão e cinema, dos pobres submissos do imaginário assistencialista religioso. Do pobre que se comporta conforme as regras de etiqueta social que a burguesia determina para a "ralé". Uma pobreza que tem mais a ver com "Vai Que Cola" do que com "Eles Não Usam Black-Tie".

Mas sempre vai aparecer algum bacaninha defendendo o "funk" e sempre repetindo a mesma choradeira de "cultura das periferias". O novo candidato a "intelectual mais legal do Brasil" é o músico e antropólogo Meno Del Picchia, ícone daquela MPB "provocativa" que trata a provocatividade como um fim em si mesmo, o que mostra o quanto o ex-vanguardista Rogério Skylab gerou muitos discípulos.

Meno Del Picchia é bisneto de Menotti Del Picchia, ícone do Modernismo que, juntamente com o amigo Plínio Salgado, fundou o Integralismo. Mas o bisneto passa a anos-luz de distância do horizonte político do bisavô, se alinhando mais para o Lula de hoje, convertido a uma mascote da Faria Lima que quer dar pitaco na geopolítica internacional.

Daí que o estado de espírito do tempo atual volta-se novamente à choradeira do "funk", desta vez com o trabalho de antropólogo de Meno, o curso de extensão da Faculdade Santa Marcelina, aqui em São Paulo, intitulado Arte e Quebrada, Musicares Brasileiros: o Funk e seu Universo Cultural. O curso é o tema abordado em matéria de Carta Capital.

Trata-se de uma sustentação de uma narrativa artificialmente organizada em prol do "funk", um ritmo tão comercial quanto o Banco Safra do qual se brinca de fazer etnografia, com um repertório discursivo altamente persuasivo, convincente, mas sem conexão com a realidade. Mas se até nos EUA o pop comercial brinca de ser "engajado" e "rebelde", fazendo uma "Contracultura de resultados", o "funk" de certa forma faria a mesma coisa.

A falácia de Meno Del Picchia segue o mesmo roteiro dos outros intelectuais "bacanas" mencionados no meu referido livro, e deve soar "objetiva" para o etnocentrismo cordial da elite do bom atraso, já começando com o erro de afirmar que o "funk" é um ritmo originalmente surgido no Rio de Janeiro. Na verdade o que ocorreu é a introdução do miami bass da Flórida no cenário carioca e que, inicialmente, era chamado de "rap" antes do hip hop se destacar no nosso país.

Há dois principais erros na argumentação de Picchia, que repete a já cansativa choradeira do "preconceito". Uma é do "preconceito da mídia de classe média e alta" com o "funk", se esquecendo que a Rede Globo sempre apoiou o "funk", assim como a Folha de São Paulo, a Veja e a Jovem Pan. Lembremos que a Internet também se configura numa grande mídia, esta de caráter internacional, e ninguém vira vanguarda porque viraliza no Twitter, no WhatsApp, no Instagram e muito menos no Tik Tok.

O segundo aspecto dessa questão é de que o "funk" tem "raízes afro-brasileiras", e aí vemos Picchia viajando na maionese com um argumento bastante delirante:

"A clave rítmica central do nosso funk é de origem afro-brasileira. A batida rítmica que, quando ouvimos, imediatamente identificamos como funk está presente em manifestações como maculelê da capoeira e toques de congo do candomblé".

No seu generoso etnocentrismo, Picchia cria, na matéria de Carta Capital, uma narrativa arrumada, cheia de argumentações falsamente lógicas, construindo uma "etnografia de proveta", que esconde juízos de valor e visões idealizadoras, como querer que a imagem de um ritmo comercial e mero entretenimento como o "funk" fosse associada a supostos paradigmas de engajamento, interconectividade etc.

A propósito, se levarmos a sério o raciocínio falacioso de Meno Del Picchia, teríamos que atribuir essa imagem abaixo como a atualização das senzalas dos negros afro-brasileiros. Se até os negros do "funk" se prestam à tarefa mercadológica de serem caricaturas de negritude, imagine os branquinhos do "funk" em tempos pós-ostentação e ligados ao trap, aquele ritmo marcado pela batida com som de lata de ervilha.

Fazer etnografia com o "funk" é até mais irreal do que fazer Filosofia, Sociologia e Antropologia com os heróis da Marvel. Tudo é apenas um monte de palavras arrumadas de uma narrativa bem construída, mas fora da realidade. Mas o mais grave é que os intelectuais pró-brega querem agora não só impor sua narrativa em prol do "funk" como querem manipular futuras gerações a aderir a esse pensamento atrofiado.



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