Pular para o conteúdo principal

A ELITE DO BOM ATRASO E OS "DONOS DOS POBRES"

 
A "boa" sociedade brasileira, a que se empoderou sob o governo Lula 3.0, se acha dona de tudo. Dona do mundo, do futuro, da verdade, do povo pobre, de tudo. É um pessoal que acha que vai dominar o mundo e pensa que o Brasil virará país desenvolvido se tornando apenas um parque de diversões para a moçada hedonista que só quer festa e consumismo.

É gente que fala um estranho idioma que é um português brasileiro cheio de erros de plural, disfarçado por um "sofisticado" portinglês (assimilando palavras em inglês como dog, bike e body, esta a "nova" denominação para maiô) e incluindo gírias estranhas como "balada" (a "gíria do Terceiro Reich, ou melhor, da Jovem Pan, que se recusa a ter a efemeridade e o caráter grupal de uma gíria de verdade, tentando resistir ao tempo a todo custo (claro, a gíria "balada" é hoje "administrada" por um grupo de publicitários).

Da mesma forma, são pessoas dotadas de hábitos estranhos: compram um pratarrão de comida para, depois de algumas garfadas, jogar o resto de comida no lixo. Ouvem música popularesca achando que ela é o suprassumo da "música popular de verdade". Fingem abominar os super-ricos, mas só querem mudar a dinastia dos que acumulam dinheiro demais por nada, reservando as grandes fortunas para alguns privilegiados dos grupos identitários.

Essa "boa" sociedade superestima o hit-parade e tudo o que for sucesso vindo dos EUA. Quando lê livros, dá preferência aos romances que lembram seriados da Netflix. Seus indivíduos abominam o senso crítico e se acham a "sociedade mais legal do planeta", e por isso aplaudem as supérfluas viagens internacionais de Lula na esperança da elite do bom atraso poder dominar o mundo.

Uma elite narcisista é a que temos no Brasil, uma elite camuflada em "pessoas comuns", que impõe seus valores privativos como se fossem públicos. Vide a questão do público versus privado, na qual uma minoria de bem nascidos, só porque tem dinheiro demais na conta para gastar com o desnecessário e, às vezes, o nocivo (como o cigarro), acha que pode julgar os outros conforme suas impressões pessoais, inclusive se achando no direito de esculhambar o mundo desenvolvido.

Enquanto, na mente dessa "boa" sociedade, a elite do atraso convertida em fã-clube do Lula convertido em mascote da Faria Lima, seus umbigos são o centro do universo, em torno dos quais o resto gira em órbita, quem está fora dessa bolha festiva e não adere aos seus desígnios sofre cancelamento e humilhação, e isso vale tanto para os músicos da Bossa Nova original quanto os camponeses do MST.

Um aspecto que vemos dessa "boa" sociedade, e que apenas representa uma leve repaginação de seus preconceitos elitistas, agora mascarados pelo "combate ao preconceito" (ver Esses Intelectuais Pertinentes), é que esses tataranetos da Casa Grande escravista agora posam não só de pretensos amigos do povo, mas se julgam "mais povo que o povo".

"Tadinho. O povo não tem instrução nem tempo disponível para definir seus desejos e vontades, mas nós, gente esclarecida e bacana, temos a capacidade (sic) de julgar o que o povo merece de melhor", diz a intelectualidade "bacana" que é porta-voz dessa elite do bom atraso.

E aí temos a síndrome dos "donos dos pobres", que une principalmente "médiuns espiritas" e funqueiros, todos defendendo a imagem nunca formalmente assumida do "pobre de cativeiro". Aquele pobre domesticado pelo "sistema", tornado ao mesmo tempo resignado, infantilizado e quase debiloide, obediente para receber a "caridade paliativa" que serve de carteirada para "médiuns" e outros dublês de assistentes sociais que buscam autopromoção e louvores da burguesia paternalista.

Cria-se uma ilusão de que essa "boa" elite dos "donos dos pobres" - acrescentando, no caso "espírita", o fato dos "médiuns" serem os "donos dos mortos", se achando que podem falar pelos falecidos - é "verdadeiramente solidária" aos mais necessitados, através de atividades como produzir monografias sobre o "funk" e dar pacotes de pequenas e efêmeras cestas básicas" a pobres que, de maneira constrangedora e humilhante, se acumulam em longas filas.

Mas como no Brasil cada vez mais temos a supremacia das visões oficiais, nem sempre comprometidas com a verdade dos fatos - e isso vale também na seara lulista - , o juízo de valor da classe média abastada vale muito mais do que o cotidiano vivido pelos pobres da vida real (diferentes do perfil festivo da "pobreza" do discurso intelectual e midiático que inspira comédias e novelas).

Fora da bolha social dominante, quem não é o pobre festivo de comédias de TV e cinema, ou dos comícios espetaculares de Lula, não pode ser considerado "gente", mas um bando de "animais selvagens" que precisa do "socorro" da "generosa" elite do bom atraso. Tudo às custas de paliativos, para uma sociedade que não tem dinheiro para ajudar o próximo mas tem muita grana para comprar o carrão do ano.

O drama do povo pobre da vida real é diferente do discurso fantasioso que faz a classe média abastada dormir tranquila às quatro da madrugada, após uma noitada em que beberam cerveja até cair no chão. O povo pobre real, que não aparece nos núcleos pobres de novelas da Rede Globo, nos filmes apologistas da Conspiração Filmes ou nas monografias que glamourizam a pobreza, sofre o drama de não terem a quem recorrer, e tanto na boa-fé quanto na necessidade de sobrevivência só aderem parcialmente e de forma condicionada aos mecanismos sociais do paternalismo elitista.

Ou seja, se o pobre ouve a música popularesca, é o que tem de disponível nas rádios. Se o pobre recebe os pequenos e efêmeros pacotes de mantimentos dados por uma instituição religiosa não-raivista, é por considerar que é melhor ter quase nada do que nada, embora isso não seja um argumento que traga mérito para os pretensos altruístas de ocasião, pois estes medem a ajuda ao próximo na métrica de sua promoção pessoal.

Com isso, vemos que, mesmo sob o governo Lula 3.0, as desigualdades sociais não só permanecem como elas são até mantidas, porque a elite do bom atraso só acha o povo pobre admirável quando ele é infantilizado, resignado e submisso. Mas se é o MST e os movimentos sindicais não-pelegos, aí é que a "boa" sociedade se relembra da herança escravocrata e golpista que escondem debaixo do tapete.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

ESQUERDAS CORTEJANDO UMA CANTORA IDENTITARISTA... MAS CAPITALISTA

CARTAZ DA BOITEMPO JUNTANDO KARL MARX E MADONNA NO MESMO BALAIO. O Brasil está tendo uma aula gratuita do que é peleguismo, com Lula fazendo duplo jogo político enganando o povo pobre e se aliando com os ricos, e do que é pequena burguesia, com uma elite de classe média abastada que aoosta num esquerdismo infantilizado, identitarista e indiferente aos verdadeiros problemas das classes trabalhadoras. As esquerdas mainstream do Brasil, as esquerdas médias, são a tradução local da pequena burguesia falada pela teoria marxista. Uma esquerda que quer soar pop e que, através dos “brinquedos culturais” que fazem do Brasil a versão vida real da novela das 21 horas da Rede Globo, quer o mundo da direita moderada convertido num pretenso patrimônio esquerdista. Isso faz as esquerdas soarem patéticas em muitos momentos. Como se observa tanto na complacência do jornalista Julinho Bittencourt, da Revista Fórum, com o fato da apresentação de Madonna em Copacabana, no Rio de Janeiro, não ter músicos e

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

O PESADELO GAÚCHO QUE DESAFIA O "SONHO BRASILEIRO"

O CENTRO DE PORTO ALEGRE COM ÁGUA QUE ATINGIU CINCO METROS DE ALAGAMENTO. Não há como sonhar grande. O risco de cair da cama é total. A terrível tragédia do temporal no Rio Grande do Sul é algo que nos faz parar para pensar. Isso é normal para um país próspero? Falta alguma consciência ambiental no nosso país? Até o fechamento deste texto, 56 pessoas morreram e vários estão entre feridos, desabrigados e desaparecidos. Porto Alegre, Caxias do Sul e Gramado estão entre as inúmeras cidades atingidas por chuvas intensas, vendavais, trovoadas e transborda de rios, entre eles o Guaíba. E nós manifestamos pesar sobre essa traumatizante ocorrência e solidariedade às vítimas. A situação é muito triste, mas não deixa de ser lamentável o oportunismo das subcelebridades, aspirantes a super-ricos, de oferecer doações milionárias para as vítimas das enchentes. Uma sociedade que, em condições naturais, quer demais para si e, egoísta, não quer abrir mão do supérfluo para ajudar o próximo a ter o neces

BRASIL NO APOGEU DO EGOÍSMO HUMANO

A "SOCIEDADE DO AMOR" E SEU APETITE VORAZ DE CONSUMIR O DINHEIRO EM EXCESSO QUE TEM. Nunca o egoísmo esteve tão em moda no Brasil. Pessoas com mão-de-vaca consumindo que nem loucos mas se recusando a ajudar o próximo. Poucos ajudam os miseráveis, poucos dão dinheiro para quem precisa. Muitos, porém, dizem não ter dinheiro para ajudar o próximo, e declaram isso com falsa gentileza, mal escondendo sua irritação. Mas são essas mesmas pessoas que têm muito dinheiro para comprar cigarros e cervejas, esses dois venenos cancerígenos que a "boa" sociedade consome em dimensões bíblicas, achando que vão viver até os 100 anos com essa verdadeira dieta do mal à base de muita nicotina e muito álcool. A dita "sociedade do amor", sem medo e sem amor, que é a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, está consumindo feito animais vorazes o que seus instintos veem como algo prazeroso. Pessoas transformadas em bichos, dominadas apenas por seus instin

FLUMINENSE FM E O RADIALISMO ROCK QUE QUASE NÃO EXISTE MAIS

É vergonhoso ver como a cultura rock e seu mercado radiofônico se reduziram hoje em dia, num verdadeiro lixo que só serve para alimentar fortunas do empresariado do entretenimento, de promotoras de eventos, de anunciantes, da mídia associada, às custas de produtos caros que vendem para jovens desavisados em eventos musicais.  São os novos super-ricos a arrancar cada vez mais o dinheiro, o couro e até os rins de quem consome música em geral, e o rock, hoje reduzido a um teatro de marionetes e um picadeiro da Faria Lima, se tornou uma grande piada, mergulhada na mesmice do hit-parade . Ninguém mais garimpa grandes canções, conformada com os mesmos sucessos de sempre, esperando que Stranger Things e Velozes e Furiosos façam alguma canção obscura se popularizar. Nos anos 1980, houve uma rádio muito brilhante, que até hoje não deixou sucessora à altura, seja pelos critérios de programação, pelo leque amplo de músicas tocadas e pela linguagem própria de seus locutores, seja pelo alcance do s