Completando 78 anos de vida mas parecendo vinte anos mais velho para os padrões de hoje, o presidente Lula compensa a aparência bastante envelhecida com um comportamento de menino mimado da História, perseguindo o prestígio mundial como se estivesse competindo uma gincana.
Antes admirável, Lula tem no seu terceiro mandato uma atuação decepcionante. Enfatizando a frente ampla na sua campanha, o que sinaliza, no seu governo, uma aproximação com o Centrão, Lula sacrificou muitas pautas e princípios de esquerda visando obter vantagens políticas. E prefere também a política externa, dando pouca dedicação nos problemas internos do Brasil.
Recentemente, Lula cometeu novos erros, além dos que já foram aqui noticiados. Demitiu a presidenta da Caixa, Maria Rita Serrano, em mais uma substituição que abriu mão de critérios técnicos para obedecer a interesses políticos. Lula também vai taxar os produtos importados com menos de US$ 50. E até a cobrança dos super-ricos tornou-se branda, a ser feita apenas duas vezes ao ano e com cheiro de seletividade, pois Lula não vai cobrar os super-ricos que o ajudaram a ser eleito e se tornaram parceiros seus.
A "boa" sociedade tornou-se a bolha de apoio de Lula. É até gozado que, em outros momentos, quando Lula fazia algo mais decente e admirável, ele era acusado de ser pelego. Seu primeiro mandato era acusado de não cumprir as promessas de mudança. Quando Lula foi preso por acusações indevidas da Operação Lava Jato, falaram que Lula estava envelhecendo rapidamente.
Mas hoje, quando todos esses problemas realmente acontecem, coloca-se os mesmos debaixo do tapete. Para todo efeito, Lula está fazendo um governo transformador, voltado aos pobres, o presidente parece um jovem garotão e ele está fiel às causas trabalhistas brasileiras até quando fala dos conflitos na Ucrânia e em Israel. Oficialmente falando, temos que acreditar que Lula é o melhor líder político da História da Humanidade e ninguém pode contestar que acaba sendo cancelado.
Para todo efeito, temos que acreditar nesse mundo da fantasia, se quisermos ter alguma repercussão próxima de alguma lacração da Internet. Mas a maior parte dos brasileiros não usa regularmente a Internet, precisa trabalhar para viver, seu perfil é distante até mesmo do "pobre de novela" que aparece também nos eventos pomposos de Lula no Brasil.
Poucos percebem que Lula atua como se fosse um menino mimado da História. Quer que o destino lhe faça todos os favores, e isso se notou desde quando o petista apostou numa estranha "democracia de um homem só", como se Lula fosse autossuficiente para decidir tudo pelo Brasil e pelo mundo. Tentando dar pitacos na política internacional, Lula não consegue realizar tudo o que deseja, mas mesmo assim teima em ser o centro das atenções internacionais, mesmo que, para isso, cometa gafes e cause polêmicas.
Isso não é admissível. Lula não é o centro do universo nem pode monopolizar o poder de decidir, ainda mais quando ele não mede escrúpulos em trair suas raízes esquerdistas e trabalhistas, atuando, sim, como um grande pelego. Não existe democracia de um homem só, e isso tem que ser deixado bem claro para os deslumbrados lulistas que, dentro de suas "bolhas", aplaudem Lula até quando ele erra, usando o termo "estratégia" como eufemismo para os erros obsessivos do presidente brasileiro.
Lula só é adorado dentro de suas "bolhas" sociais que, ultimamente, andam sendo hegemônicas nos ambientes digitais das redes sociais. Fora dessas "bolhas", porém, Lula é muito criticado, recebendo comentários irônicos aqui e ali, por conta de um progresso econômico e social medíocre que, na melhor das hipóteses, só devolveu aos brasileiros um quadro de relativa prosperidade anterior ao golpe de 2016.
O que se percebe é que Lula, na medida em que tenta se engrandecer com sua política internacional e busca o Prêmio Nobel da Paz como um aluno de ensino fundamental competindo numa gincana escolar, se encolhe completamente.
Não. Lula não é maior do que Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Nelson Mandela, Franklin Roosevelt, Winston Churchill e muito menos Getúlio Vargas. Soa risível Lula querer atuar como um Winston Churchill pós-tropicalista querendo fazer acordos de paz para resolver conflitos sem relação direta com o Brasil.
Outro erro de Lula é comprar a realização de seus desejos. Paga o Congresso Nacional para aprovar suas pautas governamentais. Compra a mídia progressista para exaltá-lo de maneira mais fantasiosa possível. Compra os institutos de pesquisa para lançarem supostos levantamentos de ampla aprovação do governo pelos brasileiros. Compra as redes sociais para criar uma realidade paralela que supõe que os pobres e o proletariado estão com Lula, quando a verdade é que eles se sentem abandonados pelo petista.
A situação brasileira está frágil, mas a "boa" sociedade nem está aí, empolgada demais com seu hedonismo desenfreado, com seu apetite consumista que lhe cega os olhos para os problemas que os outros sofrem em suas vidas. Tudo é festa para os lulistas que acham que está tudo fácil. E quando se observa essa sensação dos lulistas, a gente se lembra do velho filme da multidão desprevenida que, em várias vezes, deixou o sonho democrático escapar de suas mãos.
Daí que o zelo da democracia depende muito mais da firmeza das instituições do que do empenho de Lula, que, pelo jeito, perdeu o juízo e, ouvindo apenas a si mesmo, como um "Michel Temer do bem", dificilmente irá recuar de seus erros vergonhosos.
Mas Lula terá que aceitar os presentes amargos de seu aniversário: queda de popularidade e críticas duras. Fora do mundinho cor-de-rosa do Brasil Tik Tok, a coisa está muito complicada e o pessoal está muito decepcionado com Lula, que perde apoios até de quem apostou tudo no seu atual mandato. A História é rigorosa e não vai passar pano num presidente medíocre em busca de falsa grandeza.
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