O contexto da “democracia de um homem só” de Lula e da elite do bom atraso que o apoia leva muitos a perguntar sobre essa “diversidade de miniatura” comandada por uma classe sedenta em dominar o mundo e que tem no petista seu fiador para a realização de sua ambição em se impor como um modelo de humanidade a ser seguido pelo resto do planeta.
Afinal, todos adoram brega? Todos seguem ou são simpatizantes da religião “espírita”? Todos são fanáticos por futebol? Todos são fumantes? Todos bebem cerveja? Todos apoiaram o golpe militar de 1964? Todos são fãs de subcelebridades? Todos renegam ou superestimam os medalhões da MPB?
É claro que não, mas há um padrão comum nessa elite bronzeada que faz com que ela se defina como uma classe relativamente heterogênea, voltada a desenvolver sua minidemocracia para inglês ver. Precisam parecer culturalmente versáteis e forçadamente originais, dentro do seu viralatismo com pedigree.
As afinidades giram em torno de valores que os tataranetos das velhas oligarquias difundem e consolidam. Falam portinglês, usam a gíria “balada” (jargão da Faria Lima), supervalorizam o cantor Michael Jackson, acham que os “médiuns” são um misto de sábios e altruístas, apesar de serem obscurantistas religiosos e exploradores do sofrimento humano.
Aliás, apesar das diferenças entre funqueiros e “médiuns” quanto ao aspecto do hedonismo, os dois, “funk” e Espiritismo brasileiro, ambos adorados pela elite do bom atraso, se igualam no trato do povo pobre da vida real, visto como subserviente e socialmente inferiorizado, sendo precariamente atendido sem a emancipação necessária nessa sociedade de lutas de classes muito mal disfarçadas.
A elite do bom atraso transita entre o médio empresariado ligado ao entretenimento e subordinado ao grande empresariado dos mesmos setores e os ex-pobres que se enriqueceram às custas de loterias, promoções de mercadorias e outras benesses. Inclui também a comunidade woke, as celebridades e subcelebridades.
Uns descendem de defensores do golpe militar de 1964 e que atuaram em think tanks como os institutos de fechada IPES-IBAD. Outros descendem das gerações do desbunde pós-Tropicalismo. Outros vieram de setores da militância esquerdista que incluiu o movimento estudantil e as guerrilhas dos anos de chumbo.
Por isso, a elite do bom atraso consegue aglutinar uma frente ampla que, no âmbito político, vai de José Sarney, que nos tempos de João Goulart era da chamada “Bossa Nova da UDN” - apelido dado a nomes emergentes do partido direitista da época - a Guilherme Boulos, psolista que se lançou a partir do vínculo com os movimentos sociais, principalmente os trabalhadores sem-teto.
Portanto, o atual quadro envolve um espectro de descendentes que vai desde os ideólogos do IPES-IBAD até os guerrilheiros dos primórdios do AI-5. Atualmente considerada “esquerda democrática” ou “de centro-esquerda”, a elite do bom atraso busca uma hegemonia mundial, aproveitando o contexto decadente dos EUA governados por Donald Trump.
Às vezes, os membros dessa “boa” sociedade se dizem apenas “democráticos”. Atualmente há a identificação deles com Lula, compensando o fato, quase nunca aceito pelos lulistas, de que seu líder perdeu o apoio das bases populares, estas excluídas da sociedade mais influente nas redes sociais.
Essa diversidade aparente pode até demonstrar o caráter variado dessa elite, mas não a isenta de, por outro lado, manifestar o aspecto de classe. E dentro desse estado de espírito em que o lulismo vive um êxtase de sensação triunfalista, essa classe se acha no direito de se achar “mais povo que o povo”, enquanto quem está fora da folia lulista tem que fazer papel de triste figurante a receber as migalhas desse bacanal.
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