LULA, HOJE, PREFERE ATUAR COMO UM POPSTAR DA POLÍTICA.
A burguesia ilustrada luta para impor suas narrativas como se fossem verdades indiscutíveis. Tentam jogar à margem narrativas que, mesmo fidedignas aos fatos, contrariam os interesses de grupos poderosos e influentes na sociedade. Por isso, há o negacionista factual, o “isentão” da temporada, que serve de cão de guarda dos “roaring twenties à brasileira” dos últimos tempos.
O negacionista factual é um “isentão” mais organizado e sutil do que os “isentos” do bolsonarismo. Portanto, não é um mentiroso contumaz, mas manipula a verdade conforme seus interesses. E aí vemos o quanto ele se esforçar para manter o antigo mito de Lula nos padrões tendenciosos da elite do bom atraso.
Lula, como sabemos, mudou para pior. Virou um mordomo da burguesia ilustrada e descolada que se acha "a classe social mais legal do planeta". O petista foi escolhido pelas elites porque é mão aberta, financiando as iniciativas das classes abastadas que, mesmo com tradição privatista, de repente passaram a gostar de dinheiro público, que pode patrocinar seus sonhos e projetos.
Lula irou um neoliberal assistencialista e cometeu procedimentos antes inimagináveis à sua pessoa: faltou a debates importantes e adiou até o combate à fome para viajar e se consagrar no exterior. Virou um pelego político ao deixar de lado as pautas trabalhistas e só no final decide retomá-las visando garantir a reeleição. E atua mais como um popstar discursando e fazendo propaganda de si mesmo do que exercer uma discreta função de administrador da nação.
Infelizmente pessoas podem mudar. Ninguém viu que Lula abriu mão de seus princípios e que, sob o pretexto da “democracia”, reduziu o seu projeto progressista a um mínimo denominador comum com o que pede a cartilha neoliberal? Alertamos sobre o peleguismo de Lula e quase ninguém leva isso em consideração, mesmo sendo um fato facílimo de se compreender.
Lula não é um fetiche que inspire sentimentos mágicos pelos quais ele acerta errando e, quando apoia valores e atitudes de direita, os transforma em prática de esquerda. Nada disso. Lula sempre foi moderado, mas no terceiro mandato ele foi longe demais nas suas concessões à centro-direita.
Lula passou a ser querido pela burguesia ilustrada, e isso foi crucial para inverter a situação. Com a ênfase na política externa, Lula perdeu o apoio dos pobres da vida real, que acusaram o presidente de fazer turismo usando o dinheiro público. Com os discursos e as gafes, enquanto Lula divertia a elite do bom atraso, o povo pobre notava um governante precipitado, que fala o que não deve, não passando firmeza para a população.
É insólito que, agora, a burguesia ilustrada apele para o povo pobre apoiar a reeleição de Lula e até inventar que esse apoio já voltou, diante da cosmética do pesquisismo e do relatorismo. Mas o povo pobre da vida real não é ingênuo e não adianta Lula e a Faria Lima fingirem estar em conflito dentro das tretas de mentira de um time contra o outro.
A verdade é que Lula mudou, sedento de poder e domínio, esquecendo o lado gestor que, pelo jeito, ficou no segundo mandato. Hoje Lula quer perpetuar no poder e isso não é bom, apostando numa espécie de caudilhismo gurmê com trejeitos pop para empolgar a PTizada.
A burguesia que controla as narrativas "espontâneas" nas redes sociais, com sua gente bem de vida fingindo ser "pobre" e se achando "mais povo que o povo", é que se empolga com Lula. Para essa classe, como é bom ser, ao mesmo tempo, burguês e cheio de dinheiro e exalar um falso cheiro de povo, juntamente com a comunidade identitarista (woke) e os "pobres de novela" que podem fazer "festas de aniversário" todo fim de semana.
Para essa elite, que nunca foi defensora das múltiplas escolhas eleitorais, tanto faz votar num único candidato para presidente numa disputa polarizada, só com dois candidatos e os demais tratados como fantoches. Essa elite é hipócrita, posa de "gente simples" nas redes sociais mas acha as favelas "coisas lindas de se ver", desprezando os dramas de todo o povo forçado a viver nesses ambientes precários.
Como os avós golpistas de 1964, que ajudaram a derrubar Jango, a implantar o AI-5 e a receber os prêmios em compras e dinheiro com o "milagre brasileiro", "construíram" o Brasil de hoje pedindo para a Faria Lima domesticar proletários, camponeses, estudantes e roqueiros, a atual geração burguesa pode até posar de "esquerda democrática", depois de receber dos antepassados um país "higienizado" pela Era Geisel, que buscou aliviar as tensões sociais e dar relativos benefícios ao povo em troca da proteção dos privilégios das classes dominantes.
E Lula hoje tornou-se um instrumento da burguesia ilustrada e enrustida, a elite que quer "substituir" o povo brasileiro. As coisas, infelizmente, podem mudar para pior e pessoas eventualmente regridem. Hoje Lula representa mais um Brasil de gente abastada sonhando com nosso país transformado em um parque de diversões do mundo, do que um país discretamente justo e igualitário, só adquirindo essas qualidades na superfície, para garantir o sossego da "gente bem" mais descolada.
E temos que aceitar o faz-de-conta de que nossa burguesia descolada, sob pena de sermos vítimas de cancelamento. Tempos difíceis os do Brasil de hoje.
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