LULA PRECISA SAIR DO PALANQUE, MAS, ANTES DE MAIS NADA, DO PEDESTAL.
Na democracia, não pode haver um único candidato, por melhor que ele se ofereça para o eleitorado. A corrida eleitoral, com base na Constituição, deve mostrar uma igualdade de condições dos candidatos, mesmo o mais fraco em perspectiva de conquista de votos.
Lula fala tanto em democracia, quer ser o maior símbolo democrático da História do Brasil e do mundo, mas descumpre a obrigação maior da democracia que é o enfrentamento da concorrência. Se há mais de dez candidatos competindo com Lula, ele não pode se achar o vantajoso por antecipação. Ele tem que apresentar vantagens só no momento da disputa, mas reconhecendo a capacidade de outros fazerem o mesmo.
Isso é o que determina a democracia. Na disputa eleitoral, o melhor candidato, pelo menos em tese, só consegue ser avaliado no dia da votação, com a avaliação da maioria do eleitorado. Nas normas eleitorais brasileiras, se o candidato favorito a um cargo do Executivo não atinge um patamar de maioria dos votos, ele disputa com o segundo colocado no segundo turno, podendo até depois ser derrotado por este, se assim desejarem os eleitores.
Em reunião com militantes no 16º Congresso do PC do B em Brasília, Lula tentou falar bonito:
"Eu possivelmente serei candidato a presidente outra vez. Mas não sou candidato para mim, é para continuar defendendo políticas como bolsa-família, luz e água para todos (...) Só dá nós para a Presidência. Ou somos campeões ou não somos campeões. Por que essa votação não reflete para deputado e vereador?".
Lula, que afirmou que "tem disposição para concorrer a cinco eleições" mas admitiu que a "decisão final" para 2026 se dará pelo seu "estado de saúde", deixou a modéstia de lado:
"Se eu decidisse ser candidato, obviamente a direção dos partidos que verem, se eu decidisse ser candidato, não é para disputar só, é para a gente ganhar essas eleições".
O presidente sinalizou sua preocupação de voltar a se "comunicar com o povo", desmentindo que estivesse governando "para a Faria Lima", se esquecendo que, em nome da "democracia", Lula esteve mais próximo das elites do que das classes populares, pois, pelego, o petista virou a mascote da Faria Lima, principalmente quando decidiu priorizar a política externa:
"A gente tem que calibrar o discurso para falar com a sociedade brasileira. A gente não tem que dar muita importância para a Faria Lima não, o nosso discurso é para o povo brasileiro, para aqueles que trabalham".
As supostas pesquisas de opinião cometem um erro terrível ao alegar, com muita precipitação, que Lula “vence todos os concorrentes no primeiro ou no segundo turnos”. É criada uma histeria sem necessidade e que vai contra o jogo democrático de permitir uma liberdade de escolha.
O cientista político Antônio Lavareda cometeu um erro ao alimentar essa histeria falando que Lula teria 72% de chances de ser reeleito. Mesmo falando de aparentes sucessos na economia, que mesmo assim são apenas frutos de relatorismos, Lavareda se junta a outras vozes a acenderem a fogueira do fanatismo lulista. E isso, por ironia, na revista Veja, antes um histriônico periódico anti-PT.
Lula foi tão arrogante na campanha de 2022 que ele se deu ao luxo de marcar comícios em horários que chocavam com debates eleitorais no SBT e Record, então redutos bolsonaristas. Como torcedor de futebol e corintiano, Lula deveria ser o primeiro a saber que para vencer tem que entrar no campo do adversário. Ele pagou, com isso, o preço de vencer com menos vantagem que a necessária, e teve que amargar uma indesejada passagem para o segundo turno.
Lula, por isso mesmo, não é competitivo. Se ele foge de debates mais arriscados e só consegue enfrentar um rival por vez, ele não é competitivo. Se ele se impõe como um candidato único, também não pode ser considerado competitivo. O verdadeiro competitivo, em primeiro momento, reconhece a igualdade dos demais concorrentes como legítima e só depois tenta convencer o eleitorado a considerá-lo melhor.
É a regra do jogo. Não dá para despejar supostas pesquisas de opinião, das quais nem sabemos sua existência, e jogar por aí que Lula ganharia todos os cenários. Isso é uma grande trapaça, um puro sensacionalismo eleitoreiro e nada contribui para a verdadeira democracia, uma vez que é um "voto de cabresto" disfarçado de "coisa boa".
Pouco importa se Lula é melhor ou não. Ele é que tem que sair não só do palanque, mas principalmente do pedestal. Na campanha presidencial de 2026, ele será apenas mais um competidor, e terá que enfrentar, com humilde habilidade, os demais concorrentes. Já basta que Lula depende mais dos votos dos ricos e dos abastados do que da classe pobre, que abandonou o petista.
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