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89 FM RETOMA AO PONTO DE SEU DESGASTE

DESDE QUANDO NANY PEOPLE TEM A VER COM CULTURA ROCK, AINDA QUE DE FORMA INDIRETA?

Não adiantou o retorno "triunfal" da 89 FM e seus comentários exagerados tipo "a maior rádio rock do mundo", "a verdadeira rádio rock" e outras lorotas vergonhosas. A rádio retornou ao ponto que havia parado em 2005, quando sofreu um sério desgaste e ainda foi "queimada" pelo reacionarismo extremo de seus adeptos e produtores.

Pois a rádio retomou seus piores defeitos: programação hit-parade, locutores "engraçadinhos", programas de besteirol e até debates sobre futebol (cortesia do mesmo DNA político de um dos donos da 89 FM com o ainda presidente da CBF, José Maria Marín, ambos "criados" pelo malufismo).

Enquanto isso, a rádio estabelece seu esquema de publicidade enganosa, a exemplo do que também ocorre, no Rio de Janeiro, com a Rádio Cidade, quando as duas rádios tentam entrar na ciranda das rádios de rock sérias, mas na prática se comportam como se fossem rádios pop das mais convencionais.

Teria sido melhor as duas rádios não terem voltado, até porque elas até agora não contribuíram em coisa alguma na renovação da cultura rock e, do contrário que alardeavam seus adeptos e os radiófilos em geral no Facebook, o rock não se tornou o ritmo mais popular entre os jovens do Eixo Rio-São Paulo.

O que aconteceu, quando muito, foi apenas uma migração dos ouvintes de rádios pop como Mix FM, Jovem Pan 2 e Energia 97 FM ou mesmo bregas como Nativa FM, Beat 98 e Band FM, para as duas rádios ditas "roqueiras". Mas a adesão do público roqueiro autêntico foi praticamente nula, enquanto esse público dá preferência à Kiss FM.

DESCULPA DE "VIABILIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA" NÃO PROCEDE

Toda rádio comercial que se diz "de rock" sempre arruma uma desculpa para deturpações de perfil pop. Viabilização de audiência é a principal delas. Desde 1990, quando eu conheci o caso vergonhoso da 96 FM (Rádio Aratu), em Salvador (Bahia), essa desculpa rola.

O pretexto é que a linguagem pop serviria para viabilizar audiência e verbas publicitárias, e que a longo prazo fossem feitas mudanças graduais para o público ir acostumando e a emissora rumar para um perfil roqueiro mais próximo do autêntico, como "prêmio" de pontos conquistados no Ibope.

Essa desculpa, embora comercialmente viável e que deslumbra os radiófilos em geral, encontra sérias dificuldades, como o fato dessas mudanças tenderem a ser muito demoradas e lentas, não bastasse o fato de que, uma vez adotando linguagens pop, as supostas "rádios de rock" comerciais já ficam desmoralizadas diante de seu tão sonhado público-alvo, os roqueiros.

Além disso, até quando rádios assim vão virar rádios de rock de perfil próximo ao autêntico? Quando aquele ouvinte de 16 anos se tornar um pai de um (a) adolescente de 16 anos? É muito tempo para um jovem esperar que uma rádio comercial se aproxime gradualmente da conduta personalizada das autênticas rádios de rock.

Além disso, dói nos ouvidos sair de um repertório mais correto - digamos um módulo com Violeta de Outono, Smiths e Velvet Underground - para entrar uma voz de locutor que anima festinhas infantis, com aquela voz enjoada e o irritante comentário tipo "Demais, não?". Isso para não dizer outras tantas gafes, erros de informação, programas e promoções sem conexão real com a cultura rock etc etc.

E AS PERSONALIDADES NÃO ROQUEIRAS?

Aqui nada se tem pessoalmente contra as pessoas não-roqueiras. Mas, com todo o respeito que se possa dar a personalidades que vão de Celso Portiolli a Nany People, que relação eles têm com a cultura rock, ainda que de forma indireta? Nenhuma, mesmo num contexto mais flexível.

A derrapada das duas "rádios rock", 89 FM e Rádio Cidade, não bastasse as duas estarem completamente fora da órbita da cultura rock do mundo inteiro - que exige referenciais mais abrangentes e relevantes, fora da mesmice comercialoide - , já começa a comprometer as duas rádios, cuja boa audiência nada se relaciona com a adesão do público roqueiro, que é nenhuma.

As duas emissoras apenas "existem", não se sabe até quando. Elas só permanecem porque os grandes proprietários de rádio, ao lado de anunciantes e outros empresários parceiros, querem trabalhar uma visão de "cultura rock" completamente fora da realidade. É o que eles entendem como "rock", que eles justificam com números, cifrões e estatísticas, mas nunca com valores genuínos.

Por isso, não se sabe até quando as duas rádios ficarão em pé. Pelo interesse empresarial, elas duram para sempre. Mas a realidade não é tão simples assim e as duas rádios parecem mofadas e impotentes para representar a verdadeira cultura rock. O mundo gira e elas não têm mais o contexto de supremacia midiática que as protegia há 15 anos atrás.

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