Pular para o conteúdo principal

NEO-BREGAS NADA CONTRIBUÍRAM PARA RESOLVER A CRISE DA MPB

TIDOS COMO "SOFISTICADOS", ÍDOLOS "SERTANEJOS" COMO ZEZÉ DI CAMARGO, LUAN SANTANA E DANIEL ESTÃO MAIS PREOCUPADOS COM FACTOIDES AMOROSOS.

O que são os neo-bregas? É aquela geração da música brega que tentou alguma aproximação com a ala comercial da MPB, copiando suas caraterísticas mais conhecidas. Mas, como em toda imitação tendenciosa, os neo-bregas não resolveram a crise da MPB causada pela mesmice das tendências comerciais.

Afinal, não bastou o apelo popular para que nomes do "pagode romântico", do "sertanejo" e da axé-music, além de alguns nomes do "forró eletrônico" ou mesmo do "funk melody" que tivessem algum pretensiosismo "artisticamente sério", representasse qualquer diferencial para a música brasileira.

Pelo contrário, se eles se aventuraram em tirar uma casquinha na MPB autêntica, eles não apenas repetiram os mesmos defeitos que fizeram com que a MPB perdesse o apelo popular e o diálogo com o público jovem como essa repetição se deu sem o conhecimento de causa dos emepebistas.

Os neo-bregas - e, em certos casos, os pós-bregas (bregas "moderninhos") que tentam embarcar em algum pretensiosismo "artístico" mais ambicioso - só tinham a seu favor o respaldo da mídia e do mercado, que garantem uma popularização fácil e uma visibilidade plena que os faz se manterem incessantemente em cartaz na grande mídia.

No entanto, na melhor das hipóteses, os neo-bregas não conseguiram de forma alguma acrescentar algo de relevante, Quando muito, eles se reduzem a meros crooners a se autopromoverem às custas de repertório alheio e recorrem a outros arranjadores para embelezar suas músicas, como se nota em Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires e Thiaguinho.

Chitãozinho & Xororó andaram fazendo uma temporada "sinfônica", enquanto Alexandre Pires, depois de uma volta comemorativa para o Só Pra Contrariar, retoma sua carreira solo de crooner para engatar uma turnê com a cantora Alcione (ícone da MPB que peca pela condescendência aos bregas). Thiaguinho virou apresentador de TV, à frente de um programa de "boa música" (sic).

No entanto, há casos em que nem usar o "profissionalismo" para criar um simulacro de "música de qualidade" - mais pela aparência de "sofisticação" do que pelo conteúdo musical, não raro constrangedor - alguns ídolos conseguem fazer sempre.

Daí o exemplo de Zezé di Camargo & Luciano, um caso a pensar diante da blindagem intelectual ao brega-popularesco. Tudo indicava que a dupla goiana poderia entrar de graça no primeiro escalão da MPB e do ativismo progressista depois que a intelectualidade, em unânime dirigismo cultural, aconselhou todo mundo a aceitar a dupla através do filme Os Dois Filhos de Francisco.

Mas, depois do sucesso do filme, a dupla, que nunca foi grande coisa, desandou mais ainda. Seu "sertanejo" já era sem pé nem cabeça, pois mesmo a música "É o Amor" não consegue dizer a que veio, um brega que tenta ser, ao mesmo tempo um bolero, uma balada country e uma moda de viola, sem ser coisa alguma disso. Depois do filme, então, a dupla se desorientou.

A dupla caiu no estrelismo, nos factoides amorosos - apenas Luciano, que se casou, procura ser mais discreto nessa situação - , no conservadorismo político, e Zezé, então, se perdeu ao transformar sua separação da mulher Zilu num verdadeiro reality show.

Mas mesmo o "arrojado" Luan Santana - que um condescendente Caetano Veloso, em ato falho, queria ouvir nas rádios de MPB e que a inteligência "bacana" exaltava como contraponto à campanha de Chico Buarque no caso Procure Saber - e o "requintado" Daniel também se perdem em declarações sobre vida amorosa.

Luan Santana chegou a ser apontado como "novo namorado" de Bruna Marquezine, através dessas fofocas que, de tão fofoqueiras, não seriam levadas a sério. Daniel, um dos jurados do The Voice Brasil, por sua vez, requentou um boato antigo de que teria namorado a atriz Suzana Alves, então conhecida pelo papel televisivo de Tiazinha e hoje casada com o tenista Flávio Saretta.

Enquanto isso, os neo-bregas em geral não conseguiram até agora colocar um "clássico da MPB", depois que eles investiram na sua "MPB de mentirinha" há pouco mais de dez anos. Muito pelo contrário, alimentam sua fama revisitando seus poucos sucessos antigos - quando eles eram assumidamente bregas - em eventos-tributos diversos e sucessivos.

Graças a isso, a MPB tornou-se acéfala e mais acomodada ainda do que naqueles anos 80 que fizeram a juventude trocá-la pelo Rock Brasil. Mas atualmente, em tempos em que até o Rock Brasil está "mais carneirinho", a MPB está perdida em homenagens e tudo que os neo-bregas, supostos salvadores da música brasileira, fizeram foi imitar a MPB "burguesa" nos seus piores aspectos.

Portanto, continua o enorme abismo entre uma música brasileira de qualidade ainda vista com estranheza, ou, quando muito, com simpático distanciamento, pelo grande público, e uma música brasileira de gosto duvidoso que lota plateias mas que nada produz de relevante para nosso patrimônio musical.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

A PRISÃO DE MC POZE E O VELHO VITIMISMO DO “FUNK”

A prisão do funqueiro e um dos precursores do trap brasileiro, o carioca MC Poze do Rodo, na madrugada de ontem no Rio de Janeiro, reativou mais uma vez o discurso vitimista que o “funk” utiliza para se promover. O funqueiro, cujo nome de batismo é Marlon Brandon Coelho Couto Silva, e que já deixou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes para ir a um presídio no bairro carioca de Benfica, tem entre o público da Geração Z e das esquerdas identitárias a reputação que Renato Russo teve entre o público de rock dos anos 1980, embora o MC não tenha 0,000001% do talento, pois se envolve em um ritmo marcado pela mais profunda precarização artístico-cultural. No entanto, MC Poze do Rodo foi detido por acusações de apologia ao crime organizado, ao porte ilegal de armas e à violência. Em várias vezes, Poze aparecia com armas nas fotos das redes sociais, o que poderia sugerir um funqueiro bolsonarista em potencial. A polícia do Rio de Janeiro enviou o seguinte comunicado:: “De acordo com as inves...

O ATRASO CULTURAL OCULTO DA GERAÇÃO Z

Fico pasmo quando leio pessoas passando pano no culturalismo pós-1989, em maioria confuso e extremamente pragmático, como se alguém pudesse ver uma espessa cabeleira em uma casca de um ovo. Não me considero careta e, apesar dos meus 54 anos de idade, prefiro ir a um Lollapalooza do que a um baile de gala. Tenho uma bagagem cultural maior do que mimha idade sugere, pelas visões de mundo que tenho, até parece que sou um cidadão mediano de 66 anos. Mas minha jovialidade, por incrível que pareça, está mais para um rapazinho de 26 anos. Dito isso, me preocupa a existência de ídolos musicais confusos, que atiram para todos os lados, entre um roquinho mais pop e um som dançante mais eroticamente provocativo, e no meio do caminho entre guitarras elétricas e sintetizadores, há momentos pretensamente acústicos. Nem preciso dizer nomes, mas a atual cena pop é confusa, pois é feita por uma geração que ouviu ao mesmo tempo Madonna e AC/DC, Britney Spears e Nirvana, Backstreet Boys e Soundgarden. Da...

LÉO LINS E A DECADÊNCIA DE HUMORISTAS E INFLUENCIADORES

LÉO LINS, CONDENADO A OITO ANOS DE PRISÃO E MULTA DE MAIS DE R$ 300 MIL POR CONTA DE PIADAS OFENSIVAS. Na semana passada, a Justiça Federal, através da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou o humorista Léo Lins a oito anos de prisão, três deles em regime inicialmente fechado, e multa no valor de R$ 306 mil por fazer piadas ofensivas contra grupos minoritários.  Só para sentir a gravidade do caso, uma das piadas sugere uma sutil apologia ao feminicídio: "Feminista boa é feminista calada. Ou morta". Em outra piada machista, Léo disse: "Às vezes, a mulher só entende no tapa. E se não entender, é porque apanhou pouco". Léo também fez piadas agredindo negros, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com HIV, indígenas, evangélicos, pessoas com deficiência, obesos e nordestinos, entre outros. O vídeo que inspirou a elaboração da sentença foi o espetáculo Perturbador, um vídeo gravado em 2022 no qual Léo faz uma série de comentários ofensivos. Os defensores de Léo dizem qu...

ELITE DO BOM ATRASO PIROU NAS REDES SOCIAIS

A BURGUESIA DE CHINELOS NÃO QUER OUTRO CANDIDATO EM 2026. SÓ QUER LULA. A elite do bom atraso, a “frente ampla” social que vai do “pobre de novela” - tipo que explicaremos em outra postagem - ao famoso muito rico, mas que inclui também a pequena burguesia e a parcela “legal” da alta burguesia, enlouqueceu nas redes sociais, exaltando o medíocre governo Lula e somente desejando ele para a Presidência da República na próxima eleição. Preso a estereótipos que deixaram de fazer sentido na realidade, como governar para os pobres e deixar a classe média abastada em segundo plano, Lula na prática expressa um peleguismo que é facilmente reconhecido por proletários, camponeses, sem-teto e servidores públicos, que veem o quanto o presidente “quer, mas não quer muito” trabalhar para o bem-estar dos brasileiros. Lula tem como o maior de seus inúmeros erros o de tratar a reconstrução do Brasil como se fosse uma festa. Esse problema, é claro, não é percebido pela delirante elite do bom atraso que, h...

GOVERNO LULA AGRAVA SUA CRISE

INDICADO POR LULA PARA O BANCO CENTRAL, GABRIEL GALÍPOLO PREFERIU MANTER OS JUROS ALTOS "POR MUITO TEMPO". Enquanto o governo Lula limita gastos mensais com universidades federais, a farra das ONGs nas ditas “emendas parlamentares” é de R$ 274 milhões. Na viagem para a China, Lula é acusado de gastar café com valor equivalente a R$ 56 e de conprar um terno no valor equivalente a R$ 850. Quanto às universidades públicas, a renomada Academia Brasileira de Ciências acusa o governo Lula de desmontar as instituições de ensino superior público através desses cortes financeiros. Lulistas blindam Janja quando ela quebrou o protocolo da conversa entre o marido e o presidente chinês Xi Jinping, para falar de sua preocupação com o Tik Tok. Em compensação, Lula não cumpriu a promessa de implantar o Plano Nacional de Transição Energética, que iria tirar o Brasil da dependência de combustível fóssil. Mas o presidente ainda quer devastar a Amazônia Equatorial para extrair mais petróleo. Lul...

QUANDO A CAPRICHO QUER PARECER A ROCK BRIGADE

Até se admite que o departamento de Jornalismo das rádios comerciais ditas “de rock” é esforçado e tenta mostrar serviço. Mas nem de longe isso pode representar um diferencial para as tais “rádios rock”, por mais que haja alguma competência no trabalho de seus repórteres. A gente vê o contraste que existe nessas rádios. Na programação diária, que ocupa a manhã, a tarde e o começo da noite, elas operam como rádios pop convencionais, por mais que a vinheta estilo “voz de sapo” tente coaxar a palavra “rock”. O repertório é hit-parade, com medalhões ou nomes comerciais, e nem de longe oferecem o básico para o público iniciante de rock. Para piorar, tem aquele papo furado de que as “rádios rock” não tocam só os “clássicos”, mas também as “novidades”. Papo puramente imbecil. É aquela coisa da padaria dizer que não vende somente salgados, mas também os doces. Que diferença isso faz? O endeusamento, ou mesmo as passagens de pano, da imprensa especializada às rádios comerciais “de rock” se deve...

A ILUSÃO DE QUERER PARECER O “MAIS LEGAL DO PLANETA”

Um dos legados do Brasil de Lula 3.0 está na felicidade tóxica de uma parcela de privilegiados. A obsessão de uns poucos bem-nascidos em parecer “gente legal”, em atrair apoio social, os faz até manipular a carteirada para cima e para baixo, entre um sentimento de orgulho aqui e uma falsa modéstia ali, sempre procurando mascarar a hipocrisia que não consegue se ocultar nas mentes dessas pessoas. Com a patrulha dos negacionistas factuais, “isentões” designados para promover o boicote ao pensamento crítico nas redes sociais, a “boa” sociedade que é a elite do bom atraso precisa parecer, aos olhos dos outros, as mais positivas possíveis, daí o esforço desesperado para criar um ambiente de conformidade e até de conformismo, sobretudo pela perigosa ilusão de acreditar que o futuro do Brasil será conduzido por um idoso de 80 anos. Quando ouvimos falar de períodos de supostas regeneração e glorificação do “povo brasileiro”, nos animamos no primeiro momento, achando que agora o Brasil será a n...

APOIO DAS ESQUERDAS AO "FUNK" ABRIU CAMINHO PARA O GOLPE DE 2016

MC POZE DO RODO, COM SEU CARRO LAMBORGHINI AVALIADO EM TRÊS MILHÕES DE REAIS. A choradeira das esquerdas médias diante da prisão de MC Poze do Rodo tenta reviver um hábito contraído há 20 anos, quando o esquerdismo passou a endossar o discurso fabricado pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo para "socializar" o "funk", um dos ritmos do comercialismo brega-popularesco que passou a blindar por uma elite de intelectuais sob inspiração do antigo IPES-IBAD, só que sob uma retórica "pós-tropicalista". A revolta contra a prisão do funqueiro e alegações clichês como "criminalização da cultura" e "realidade da favela" feita por parlamentares e jornalistas da mídia esquerdista se tornam bastante vergonhosas e, em muitos casos, descontextualizada com a real preocupação com as classes pobres da vida real, que em nenhum momento são representadas ou se identificam com o "funk" ou o trap. O "funk" e o trap apenas falam sobre o ...