Vejam só. O presidente Michel Temer fez um discurso ontem, em Itu, no interior de São Paulo, preocupado com a ameaça de autoritarismo.
Foi durante o evento de comemoração da Proclamação da República, promovido pela prefeitura da cidade paulista.
Foi em Itu que se realizou, em 1873, a primeira convenção republicana, que criou as bases do atual sistema político do Brasil.
"Se nós não prestigiarmos certos princípios constitucionais, a nossa tendência é sempre caminhar para o autoritarismo, para uma certa centralização. Nós até, o povo brasileiro, temos até, digamos, uma certa tendência para a centralização", disse o presidente.
Olhe só quem fala.
Se Temer está temendo (olha o trocadilho) movimentos autoritários em ascensão no Brasil, ele deveria se considerar responsável por isso.
Ele mesmo realizou o golpe político e empurrou com a barriga toda tentativa de tirá-lo do poder.
Temer governa às costas do povo e apenas finge que governa "em favor do povo brasileiro".
Ele desmonta os direitos trabalhistas, vende o patrimônio nacional, restringe drasticamente os investimentos públicos, sobretudo para a Educação e Saúde, e dificulta a melhoria de vida das classes populares.
Em seu discurso, ele ainda foi cínico, dizendo que os governos autoritários existiram porque "o povo quis".
Sabemos que havia o lobby de imprensa, empresariado e outras forças elitistas que fizeram de tudo para que a ditadura militar não só se instalasse como também se prolongasse.
No caso do Estado Novo, creio ser ato falho de Getúlio Vargas, movido por um modismo de governos fascistas que se multiplicavam no mundo.
Mesmo assim, Vargas realizou muitas medidas em favor do povo, mesmo dentro desse período. A Consolidação das Leis Trabalhistas, por exemplo, é de 1943, dentro do período do Estado Novo.
Quanto à República, é irônico que o líder do Acorda Brasil, Luiz Phillippe de Orleans e Bragança, tenha colaborado com a queda de Dilma Rousseff e apoia o governo Temer.
O Acorda Brasil foi um dos vários grupos que organizaram passeatas do "Fora Dilma", como o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua.
Por ironia, a República também surgiu por um golpe de Estado, com os republicanos convidando um marechal, Deodoro da Fonseca, que, por outra ironia, era monarquista e estava doente e cansado.
O Brasil da suposta cordialidade alardeada por Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Hollanda era na verdade um país marcado por movimentos políticos autoritários.
O governo Temer é apenas mais dissimulado do que a ditadura militar, mas ele demonstrou autoritarismo em suas decisões.
Só recuava quando suas decisões tinham alguma repercussão negativa ou para afastar a ameaça de algum processo judicial contra o presidente.
Sua falta de representatividade popular é tanta que o publicitário Nizan Guanaes, manchando sua trajetória antes admirável, insiste em dizer para Temer não ligar para impopularidade e governar conforme suas convicções.
Enquanto isso, a acomodação de muitos brasileiros e a impotência de setores das esquerdas, que estão longe de representar uma poderosa força de oposição, preocupa.
No Grande Rio de Janeiro, a despreocupação das pessoas é preocupante. A ilusão de uns poucos de que os tempos atuais são melhores é de causar apreensão e tristeza.
Em Itu, durante o discurso do presidente Temer, manifestantes do PT e PSOL protestavam contra seu governo.
Mas esses protestos, como os protestos contra a reforma trabalhista do último dia 10, são manifestações pontuais e sem muito efeito concreto.
Elas são feitas mais para dizer que uma parcela dos brasileiros discorda das arbitrariedades do governo Temer do que para reagir contra as mesmas.
Enquanto não houver alguma manifestação de impacto, o governo Temer se arrasta, com ele rindo do povo brasileiro, já que é impopular e não é tirado do poder.
A título de comparação, João Goulart, muito mais popular, foi tirado do poder em 1964. E as reformas que ele propunha eram a favor do povo, não contra ele.
A plutocracia está feliz e prepara um candidato à altura de seus interesses.
Nos preparemos para um 2018 bastante ensandecido no nosso país.
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