A revelação de um incidente, num vídeo de um ano atrás, gerou um escândalo nos bastidores da grande mídia.
Durante os preparativos para a entrada de William Waack na cobertura da vitória eleitoral de Donald Trump nos EUA, no ano passado, descobriu-se um áudio incômodo.
A equipe técnica estava preparando William Waack e seu entrevistado Paulo Sotero, diretor do instituto de geopolítica Wilson Center, quando um barulho de buzinas era ouvido na ocasião.
Waack faz cara de incômodo e, de repente, vira a cara para as costas da câmera e ouve-se uma voz que parece ser do próprio jornalista, âncora do Jornal da Globo, noticiário noturno da Rede Globo e reprisado na Globo News.
"Tá buzinando por quê, seu merda do cacete?", dizia, em tom cínico, o jornalista, tentando se esconder da câmera ao virar o rosto, para não ser visto falando tal baixaria.
Waack continuou. "Deve ser um, com certeza, não vou nem falar de quem, eu sei quem é, sabe o que é", disse Waack, diante do constrangimento do interlocutor.
De repente, Waack sussurra alguma coisa com Paulo Sotero, mantendo seu cinismo, desta vez com um sorriso irônico.
Waack fala algo mais sutil e pouco audível. Mas uma apuração dá indícios de que Waack teria dito. "É preto, né? É coisa de preto, com certeza", dando uma risada jocosa.
Diante do episódio, Waack afirma não se lembrar de ter dito isso e pediu desculpas.
A Globo suspendeu o jornalista da apresentação do Jornal da Globo, sendo substituído pela comentarista da Globo News, Renata Lo Prete.
Em nota, a Globo afirma ser "visceralmente contra o racismo" e diz que "nenhuma circunstância pode servir de atenuante".
A emissora abriu sindicância para analisar o conteúdo do áudio e depois decidir qual providência irá tomar em relação ao caso.
O que se nota é que, nos últimos tempos, a retomada conservadora e os surtos reacionários diversos estão sendo levados às últimas consequências.
Empresários declaram a favor da redução salarial e do aumento da jornada de trabalho.
As redes sociais despejando ódio e manifestando racismo e machismo abertamente.
E isso quando o racismo é considerado crime inafiançável.
O contexto atual fez com que personalidades antes admiráveis, como Lobão, Roger Moreira e Marcelo Madureira, ou medianas, como Alexandre Frota, se tornassem terrivelmente rabugentas.
É um momento no qual as elites se tornaram menos sutis do que antes no seu reacionarismo.
Em 1963-1964, mesmo as mais paranoicas pregações do IPES-IBAD contra o governo João Goulart pareciam perto de alguma elegância, se comparadas a hoje.
As pessoas surtaram diante dos últimos anos de governo do Partido dos Trabalhadores.
Teve até um orador espiritualista fazendo juízo de valor contra refugiados do Oriente Médio, acusando-os de terem sido "tiranos" em vidas passadas, sem apontar provas a respeito.
O mesmo religioso apareceu depois, oferecendo seu evento para homenagear João Dória Jr. e permitir que ele lançasse um projeto alimentar de valor muito duvidoso.
Para piorar, o orador deixou que João Dória Jr., um político decadente exibisse a camiseta com o nome do evento e do referido religioso.
Recentemente, o prefeito de São Paulo foi acusado de violar a Lei de Acesso à Informação, impedindo o acesso de dados de seu governo a jornalistas.
Mais um incidente manchando o prefeito homenageado pelo tal evento "pacifista" que ocorrerá em Salvador em dezembro, para uma plateia cada vez mais vazia, mas sob as bênçãos do prefeito ACM Neto.
Retratos de um conservadorismo social em que o status do dinheiro, do poder, da fé, falam mais do que a ética, o bom senso e o respeito humano, seja para negros, pobres, mulheres ou refugiados do Oriente Médio.
O que poderia ser um momento de algum avanço moral, com todo o conservadorismo de parte da sociedade, tornou-se um reacionarismo aberto e preocupantemente grotesco.
Preconceitos sociais que pareciam desaparecer reapareceram com apetite redobrado.
Pessoas parecendo querer forçar a marcha-a-ré cronológica, como se fosse possível voltar o tempo para trás.
Querem derrubar conquistas sociais e trabalhistas históricas, e vendem o velho, podre e obsoleto como se fosse "futurista", embalsamando velhos cadáveres sócio-político e econômicos como se fossem "novidades".
Em muitos casos, o reacionarismo vai longe demais e mesmo a mídia hegemônica se sente incomodada com isso.
O afastamento de William Waack do Jornal da Globo foi noticiado pelo portal G1 e se tornou o texto mais lido do portal na noite de ontem.
Será William Waack o José Mayer do jornalismo, no sentido de ser reservado à "geladeira"?
O tempo dirá.
Vamos ver se a eleição de um conservador moderado possa esfriar a fúria anti-petista dos reaças de plantão.
Seria melhor que Lula seja de novo presidente da República, mas fico preocupado com o ódio doentio contra ele, semelhante ao que atingiu Getúlio Vargas em 1954 e João Goulart em 1954.
Mas, infelizmente, só um conservador no poder é que vai amansar as crianças mimadas da plutocracia que nos últimos anos se comportam como feras bestiais.
O Brasil irá piorar, mas talvez a plutocracia, retomando definitivamente o poder, possa experimentar o gosto da vitória de Pirro, com a herança das "reformas" do governo Temer.
A crise vai demorar, e muito, a acabar, e cabeças rolarão entre os supostos heróis de 2016.
Já se fala que 2018 será o ano da crise das hierarquias. Será um grande terremoto social que atingirá o Brasil. Que nos seguremos em algum apoio, porque não será fácil.
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