MARCOS VALÉRIO, PEDRO ALEXANDRE SANCHES, JOTABÊ MEDEIROS E TATI QUEBRA-BARRACO.
Temos que juntar as peças de um quebra-cabeça que, na medida em que é montado, apresenta um desenho que nunca se imaginou que seria formado a partir de peças soltas.
Vejamos a suposta campanha do "combate ao preconceito" que forçou a supremacia absoluta do comercialismo brega-popularesco ou "popular demais" no Brasil.
Até 2005, ela se dava dentro dos quintais da mídia venal. Geralmente a Rede Globo e a Folha de São Paulo davam um verniz mais "perene" para modismos descartáveis que faziam sucesso nas rádios e TVs populares - mas controladas por oligarquias - em todo o Brasil.
O "funk" era apenas um ritmo que se tornou absoluto em tudo quanto era atração e veículo das Organizações Globo.
Revista Quem, canal Futura, Globo News, GNT, Multishow, Revista Época e, acima de tudo, a Rede Globo de Televisão, eram veículos para difundir o "funk" e, da mesma forma, outras tendências popularescas, para públicos das classes de consumo A, B e C.
Programas como Caldeirão do Huck, Globo Esporte, novelas das 21 horas e Central da Periferia eram decisivos na transmissão dessa "cultura" popularesca, vendida como se fosse o "folclore da Rede Globo", com Hermano Vianna brincando de ser "Mário de Andrade", só que um tanto brega.
Para quem não sabe, Mário de Andrade realizou, no meio da década de 1930, viagens de pesquisa sobre manifestações culturais em todo o Brasil.
Hermano, que só coincide com Mário por leve semelhança facial, queria fazer um arremedo caricato disso, mas misturando alhos com bugalhos, juntando "funk" com dança folclórica de imigrantes alemães no Sul do Brasil.
As Organizações Globo empurravam o "funk" e o resto do brega-popularesco para públicos mais abastados. A Folha de São Paulo criava uma narrativa "intelectual" para transformar a dita cultura popularesca numa "exótica fenomenologia".
Era uma clara iniciativa de ampliar mercado para o brega-popularesco, a tal "cultura do povão" oriunda do mercado "cultural" popularesco, controlado por oligarquias empresariais e midiáticas, para transformar o povo pobre numa massa caricata, consumista e resignada.
Pois aí veio o "escândalo do Mensalão", que não foi um fenômeno do Partido dos Trabalhadores, como apressam-se a dizer os anti-lulopetistas de plantão.
Evidentemente, o esquema de propinas comandado pelo publicitário Marcos Valério, que já envolveu o senador tucano Eduardo Azeredo, foi explorado levianamente pela grande mídia.
A mídia venal, pegando carona na delação tendenciosa de Marcos, passou a acusar o então presidente Lula de estar envolvido no "propinoduto" do Mensalão.
Lula gozava de grande popularidade, e aí dois fatos estranhos ocorreram, naquele 2005.
Um é nas redes sociais, onde precursores das milícias digitais promoviam a idiotização cultural, patrulhando quem fosse contra os ídolos popularescos.
Só que os hoje conhecidos bolsomínions (agora, em parte mais enrustidos), em 2005, posavam de pseudo-esquerdistas. Eu os definia como "marx-cartistas", "marxistas" com QI e modus operandi de macartistas.
Mas o principal foi o que ocorreu com o tal discurso do "combate ao preconceito", praticamente privativo às pregações midiáticas dos grupos Globo e Folha, mas com ecos nos grupos Abril e Estadão.
É quando esse discurso se transformou num proselitismo nas mídias de esquerda.
A ideia é contaminar as forças progressistas com um discurso que, apesar da choradeira do "combate ao preconceito", tratava o povo pobre de maneira preconceituosa, embora supostamente positiva.
Era o ideal da "pobreza linda", da "periferia legal", do "orgulho de ser pobre".
Era a gourmetização da prostituição, da moradia em favelas, do subemprego, tarefas ingratas e paliativas que a narrativa "sem preconceitos" definia como "realidade feliz" das "periferias".
É um discurso claramente calcado na Teoria da Dependência de Fernando Henrique Cardoso, mas empurrado goela abaixo na mídia esquerdista.
A ideia de contaminar os movimentos progressistas com esse discurso pró-brega, por meio desse proselitismo na mídia esquerdista, tinha um objetivo estratégico.
O de evitar a mobilização das classes populares. Inventava-se que a pobreza simbólica onde as classes populares viviam já era uma "realidade problemática, mas mesmo assim maravlhosa".
No discurso, bastava apenas alguns ajustes institucionais, medidas de infra-estrutura, injeção de dinheiro e, pronto: as favelas, mesmo ficando como estão, seriam vistas como "paraísos".
A narrativa era perfeita: "Com Lula no governo, não precisa sequer lutar por reforma agrária. Vão brincar o brega, o 'funk', que é o seu ativismo de verdade, e as favelas já são sua reforma agrária, seus quilombos, suas sensalas".
A falácia funcionou, forjou consenso entre as esquerdas, e o tal "combate ao preconceito" enganou muita gente, até todo esse blablablá em torno da "cultura das periferias" acabar resultando nos "safáris humanos" de hoje.
Um dos "papas" dessa pregação toda foi Pedro Alexandre Sanches, o "filho da Folha" que caiu na imprensa de esquerda de pára-quedas.
Hoje ele chora o leite derramado da MPB de vanguarda que morre aos poucos, perdendo Belchior e Walter Franco.
Mas Sanches faz isso depois de dizer que Chico Buarque, um grande aliado das forças progressistas e um artista inigualável, era o "coronel da Fazenda Modelo" da música brasileira.
Fico imaginando se, mesmo com toda controvérsia, o Jotabê Medeiros não esteja servindo de "bode expiatório" para os pecados da intelectualidade "bacana" como um todo.
Afinal, no seu novo livro, Jotabê Medeiros expressou apenas uma tímida suspeita contra Raul Seixas, que gerou uma barulheira daquelas nas esquerdas mainstream.
Pedro Alexandre Sanches fez mais contra Chico Buarque e foi poupado. Quem te viu, quem te vê.
O maior propagandista da bregalização nas mídias esquerdistas, vendendo o "peixe chamado Lochte" que ele pegou da Folha de São Paulo, ajudou, mesmo por acidente, a abrir caminho para o golpe político de 2016.
Os "heróis" que Pedro Alexandre Sanches exaltava eram ídolos popularescos que, "por mera coincidência", viravam sucesso na Rede Globo poucas semanas depois.
E, corroborando todo o discurso que foi inserido na época do Mensalão para evitar que o povo pobre se manifestasse em solidariedade a Lula, na primeira tentativa da mídia venal de desmoralizar o petista.
A estratégia não prejudicou a alta popularidade de Lula, mas foi um longo trabalho de proselitismo nas mídias esquerdistas para elas aceitarem a bregalização e o mito da "pobreza linda".
Um trabalho sujo que empurrou o povo pobre para o entretenimento, esvaziando os movimentos progressistas e alimentando as forças de oposição que, depois, organizaram o golpe que ainda vigora.
Temos que juntar as peças de um quebra-cabeça que, na medida em que é montado, apresenta um desenho que nunca se imaginou que seria formado a partir de peças soltas.
Vejamos a suposta campanha do "combate ao preconceito" que forçou a supremacia absoluta do comercialismo brega-popularesco ou "popular demais" no Brasil.
Até 2005, ela se dava dentro dos quintais da mídia venal. Geralmente a Rede Globo e a Folha de São Paulo davam um verniz mais "perene" para modismos descartáveis que faziam sucesso nas rádios e TVs populares - mas controladas por oligarquias - em todo o Brasil.
O "funk" era apenas um ritmo que se tornou absoluto em tudo quanto era atração e veículo das Organizações Globo.
Revista Quem, canal Futura, Globo News, GNT, Multishow, Revista Época e, acima de tudo, a Rede Globo de Televisão, eram veículos para difundir o "funk" e, da mesma forma, outras tendências popularescas, para públicos das classes de consumo A, B e C.
Programas como Caldeirão do Huck, Globo Esporte, novelas das 21 horas e Central da Periferia eram decisivos na transmissão dessa "cultura" popularesca, vendida como se fosse o "folclore da Rede Globo", com Hermano Vianna brincando de ser "Mário de Andrade", só que um tanto brega.
Para quem não sabe, Mário de Andrade realizou, no meio da década de 1930, viagens de pesquisa sobre manifestações culturais em todo o Brasil.
Hermano, que só coincide com Mário por leve semelhança facial, queria fazer um arremedo caricato disso, mas misturando alhos com bugalhos, juntando "funk" com dança folclórica de imigrantes alemães no Sul do Brasil.
As Organizações Globo empurravam o "funk" e o resto do brega-popularesco para públicos mais abastados. A Folha de São Paulo criava uma narrativa "intelectual" para transformar a dita cultura popularesca numa "exótica fenomenologia".
Era uma clara iniciativa de ampliar mercado para o brega-popularesco, a tal "cultura do povão" oriunda do mercado "cultural" popularesco, controlado por oligarquias empresariais e midiáticas, para transformar o povo pobre numa massa caricata, consumista e resignada.
Pois aí veio o "escândalo do Mensalão", que não foi um fenômeno do Partido dos Trabalhadores, como apressam-se a dizer os anti-lulopetistas de plantão.
Evidentemente, o esquema de propinas comandado pelo publicitário Marcos Valério, que já envolveu o senador tucano Eduardo Azeredo, foi explorado levianamente pela grande mídia.
A mídia venal, pegando carona na delação tendenciosa de Marcos, passou a acusar o então presidente Lula de estar envolvido no "propinoduto" do Mensalão.
Lula gozava de grande popularidade, e aí dois fatos estranhos ocorreram, naquele 2005.
Um é nas redes sociais, onde precursores das milícias digitais promoviam a idiotização cultural, patrulhando quem fosse contra os ídolos popularescos.
Só que os hoje conhecidos bolsomínions (agora, em parte mais enrustidos), em 2005, posavam de pseudo-esquerdistas. Eu os definia como "marx-cartistas", "marxistas" com QI e modus operandi de macartistas.
Mas o principal foi o que ocorreu com o tal discurso do "combate ao preconceito", praticamente privativo às pregações midiáticas dos grupos Globo e Folha, mas com ecos nos grupos Abril e Estadão.
É quando esse discurso se transformou num proselitismo nas mídias de esquerda.
A ideia é contaminar as forças progressistas com um discurso que, apesar da choradeira do "combate ao preconceito", tratava o povo pobre de maneira preconceituosa, embora supostamente positiva.
Era o ideal da "pobreza linda", da "periferia legal", do "orgulho de ser pobre".
Era a gourmetização da prostituição, da moradia em favelas, do subemprego, tarefas ingratas e paliativas que a narrativa "sem preconceitos" definia como "realidade feliz" das "periferias".
É um discurso claramente calcado na Teoria da Dependência de Fernando Henrique Cardoso, mas empurrado goela abaixo na mídia esquerdista.
A ideia de contaminar os movimentos progressistas com esse discurso pró-brega, por meio desse proselitismo na mídia esquerdista, tinha um objetivo estratégico.
O de evitar a mobilização das classes populares. Inventava-se que a pobreza simbólica onde as classes populares viviam já era uma "realidade problemática, mas mesmo assim maravlhosa".
No discurso, bastava apenas alguns ajustes institucionais, medidas de infra-estrutura, injeção de dinheiro e, pronto: as favelas, mesmo ficando como estão, seriam vistas como "paraísos".
A narrativa era perfeita: "Com Lula no governo, não precisa sequer lutar por reforma agrária. Vão brincar o brega, o 'funk', que é o seu ativismo de verdade, e as favelas já são sua reforma agrária, seus quilombos, suas sensalas".
A falácia funcionou, forjou consenso entre as esquerdas, e o tal "combate ao preconceito" enganou muita gente, até todo esse blablablá em torno da "cultura das periferias" acabar resultando nos "safáris humanos" de hoje.
Um dos "papas" dessa pregação toda foi Pedro Alexandre Sanches, o "filho da Folha" que caiu na imprensa de esquerda de pára-quedas.
Hoje ele chora o leite derramado da MPB de vanguarda que morre aos poucos, perdendo Belchior e Walter Franco.
Mas Sanches faz isso depois de dizer que Chico Buarque, um grande aliado das forças progressistas e um artista inigualável, era o "coronel da Fazenda Modelo" da música brasileira.
Fico imaginando se, mesmo com toda controvérsia, o Jotabê Medeiros não esteja servindo de "bode expiatório" para os pecados da intelectualidade "bacana" como um todo.
Afinal, no seu novo livro, Jotabê Medeiros expressou apenas uma tímida suspeita contra Raul Seixas, que gerou uma barulheira daquelas nas esquerdas mainstream.
Pedro Alexandre Sanches fez mais contra Chico Buarque e foi poupado. Quem te viu, quem te vê.
O maior propagandista da bregalização nas mídias esquerdistas, vendendo o "peixe chamado Lochte" que ele pegou da Folha de São Paulo, ajudou, mesmo por acidente, a abrir caminho para o golpe político de 2016.
Os "heróis" que Pedro Alexandre Sanches exaltava eram ídolos popularescos que, "por mera coincidência", viravam sucesso na Rede Globo poucas semanas depois.
E, corroborando todo o discurso que foi inserido na época do Mensalão para evitar que o povo pobre se manifestasse em solidariedade a Lula, na primeira tentativa da mídia venal de desmoralizar o petista.
A estratégia não prejudicou a alta popularidade de Lula, mas foi um longo trabalho de proselitismo nas mídias esquerdistas para elas aceitarem a bregalização e o mito da "pobreza linda".
Um trabalho sujo que empurrou o povo pobre para o entretenimento, esvaziando os movimentos progressistas e alimentando as forças de oposição que, depois, organizaram o golpe que ainda vigora.
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