A desinformação da população, por causa do veneno midiático que é despejado nos lares, estabelecimentos comerciais e de outra natureza e nos ambientes de trabalho, permitiu que a abusiva trajetória da Operação Lava Jato pudesse ser levada adiante.
Sérgio Moro, então juiz, os agentes da Polícia Federal e os procuradores do Ministério Público simplesmente não tiveram o menor escrúpulo de esconder a relação promíscua de suas funções.
O fato de que os cidadãos comuns não eram esclarecidos dos limites de relação dessas funções permitiu a Moro agir não como o juiz imparcial que ele fingia ser, mas como uma mistura de juiz, tira de seriado de TV, delegado de província e dublê de investigador, entre outras atribuições.
As pessoas assimilavam isso tudo pela cobertura da mídia hegemônica. E aceitavam numa boa, criando combustível para o ódio cego a Luís Inácio Lula da Silva.
O caso do triplex do Guarujá é uma narrativa tão confusa que mais parece uma grotesca fofoca de televisão. Mas foi suficiente para jogar o ex-presidente Lula na prisão.
O culturalismo conservador de que fala o sociólogo Jessé Souza permitiu às elites indignadas em ver um operário comandando o Brasil virarem o jogo.
A combinação de atribuições confusas numa promiscuidade ideológica permite que surjam abusos dos mais diversos, desnorteando, iludindo e enganando a população.
A Constituição é rasgada, a lógica e o bom senso são jogados no lixo, a transparência só existe a do telhado de vidro e a tecnocracia é apenas uma "capa" para pessoas dotadas de um aparato técnico fazerem o que quiserem contra a população.
Explorando o culturalismo num enfoque diferente ao de Jessé, mas dialogando com sua linha de raciocínio, vemos o quanto a promiscuidade ideológica.
Os próprios ônibus com pintura padronizada seguem uma confusão semelhante ao da Lava Jato.
As empresas, ao adotar uma mesma pintura - o que confunde os passageiros no processo de ir e vir, sobrecarregando suas mentes já cheias de compromissos sérios - , demonstram que se submetem à imagem das prefeituras ou governos estaduais, numa encampação sutil.
Os governantes é que determinam se a empresa de ônibus vai ou não renovar sua frota. Antes da pintura padronizada no Rio de Janeiro, por exemplo, a Viação Acari renovava sua frota entre um prazo de três a cinco de fabricação. Depois da padronização, aumentou o prazo para dez.
Ninguém entende isso, acha que pintura padronizada é só pintura, e os busólogos do Rio de Janeiro, que eram bolsomínions antes de todo mundo, achavam que tudo continuava como antes, e reagiam com brutalidade e arrogância à qualquer discordância de outrem.
Dá para perceber que a ênfase do logotipo "Cidade do Rio de Janeiro" demonstrava que a SMTR, nessa época (2010 a 2016) é que adotava poderes informais de administradora das empresas de ônibus, em vez de ser apenas fiscalizadora.
As pessoas embolam as coisas e ainda não conseguem discernir acento com assento.
Quando o assunto é um aparente pacifismo, "médiuns espíritas" (cuja atribuição de falar com os mortos nunca passou de um blefe) se tornam dublês de ativistas, de filantropos, de pacificadores, através de ideias moralistas retrógradas e um moralismo medieval travestido de "progressista".
E isso com "médiuns" vendendo a falsa imagem de "filósofos" para espalhar suas lorotas mistificadoras e sua "caridade" tão fajuta quanto os quadros do Caldeirão do Huck.
Quando se trata de feminismo, acredita-se num falso feminismo em que os glúteos têm mais voz, e a "liberdade do corpo", que escraviza as mentes de mulheres que "sensualizam em excesso", torna-se um pretexto muito mal compreendido por muita gente.
Um ridículo "feminismo" em que a mulher faz seu papel de mulher-objeto, mas também faz jogo de cena para dizer que é "empoderada", só pelo fato simplório de "não ter namorado".
Há dois problemas. Primeiro, o de que os brasileiros não conseguem ver diferença entre a mulher que se sensualiza de vez em quando e dentro do contexto e a mulher que só sensualiza seu corpo e não dá uma folga para mostrar algo diferente e não-sexual.
Segundo, a falta de discernimento entre um quarto de casa e uma conta no Instagram.
Está na cara que a mulher-objeto se mostra para os outros, mas forja um discurso falso de "ser dona do próprio nariz" e achar que está divulgando fotos do Instagram só para ela mesma ver.
Até quando o assunto é "rádio rock", as pessoas confundem rádios pop com vitrolão roqueiro e rádios de rock com linguagem, perfil e lógica de programação próprias.
Quanta Jovem Pan com guitarras, quanto Celso Portiolli ou Emílio Surita escondido numa jaqueta de couro, ganharam fama e prestígio poluindo os microfones com suas vozes macias e chatas, narrando até heavy metal!
E a confusão ainda envolve a suposta cultura popularesca, o brega-popularesco ou "popular demais" que trata o povo pobre como se fosse uma caricatura idiotizada, e o verdadeiro folclore popular do passado.
O conterrâneo, mas tão cedo radicado em São Paulo, de Sérgio Moro, o também maringaense Pedro Alexandre Sanches, tentou vender o "peixe urbano chamado Lochte" para a mídia esquerdista, na tentativa de enfraquecer os movimentos progressistas pela bregalização.
E a eleição de Jair Bolsonaro, motivado pela mistura confusa de supostas atribuições como populismo, moralismo conservador, disciplina militar e, da parte de Sérgio Moro e Paulo Guedes, um terrível pragmatismo tecnocrático? Reflexo dessa onda de confusão que assola o Brasil.
Quando já se estava guevarizando o reacionário Waldick Soriano, eis que veio Jessé Souza falando do culturalismo conservador.
Assim como quando estavamos divinizando Sérgio Moro, considerado "mensageiro de Deus" pelos "adorados médiuns espíritas", veio o trabalho do estadunidense Glenn Greenwald.
Desde junho passado, a cobertura do The Intercept Brasil mostrou que a Operação Lava Jato transformava as funções, atividades e atribuições do Direito em uma grande lavagem de porco.
Juiz mandando em procuradores e agentes de polícia, juiz e procurador selecionando quem quer ser investigado.
Evitar investigar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi um exemplo antológico, porque FHC apoiava a OLJ.
A Lava Jato adotava medidas truculentas como a condução coercitiva, com policiais invadindo a casa de um suposto suspeito, vasculhando sem piedade seus bens e intimidando familiares.
No caso de Lula, em março de 2016, isso traumatizou a esposa Marisa Letícia Lula da Silva, que acabou morrendo pouco depois.
As arbitrariedades da OLJ ganharam novos capítulos, através de matéria publicada recentemente.
Uma das medidas arrepiantes é que Moro chegou a deferir busca e apreensão de suspeitos sem houver um pedido do Ministério Público, o que é uma ilegalidade.
Luciano Flores, delegado da Polícia Federal atuando na OLJ, em fevereiro de 2016, no grupo Amigo Secreto, do Telegram, despejou um comentário risonho:
"Russo (apelido de Moro entre os procuradores) deferiu uma busca que não foi pedida por ninguém…hahahah. Kkkkk".
Outra delegada da PF, Renata Rodrigues, perguntou a Flores: "Como assim?!".
"Normal… deixa quieto…Vou ajeitar…kkkk", respondeu, ainda risonho, o delegado Flores.
Os procuradores se conformam com as imposições de Moro e atuam de acordo com essa condição.
Chegam mesmo a combinar o grampeamento de telefonemas pessoais de Lula, em e-mails trocados com um destinatário que o Intercept oculta sua identidade, por não ser pessoa de interesse público e que deve ter sua privacidade preservada.
Prestando atenção nos diálogos divulgados desde junho passado, e realizados a partir de 2015, nota-se que são coisas gravíssimas.
Claro que se a pessoa é medíocre e acha que pode viver e ser feliz sem fazer discernimento das coisas, vai achar tudo inócuo e difícil de entender.
Mas quem é bem esclarecido sabe que são coisas preocupantes, mostrando o caráter abusivo da Operação Lava Jato.
É um preço que os brasileiros pagam pelo pragmatismo, essa mania terrível de manter a vida em padrões medíocres de aceitação de retrocessos, prejuízos e até de uma cota de sordidez e desonestidade.
Se muitos consideram o maior símbolo de "paz, fraternidade e dedicação ao próximo" um farsante que produziu literatura fake e, na velhice, foi fazer papel de vitimista, isso significa que o Brasil precisa de uma sacudida e as pessoas deveriam abrir mão de suas ilusões pragmáticas.
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