TAGARELA, LULA NÃO SAI DO SEU PALANQUE.
Um grande erro cometido pelo presidente Lula, mais preocupado em falar e festejar do que em trabalhar pela verdadeira reconstrução do Brasil, é querer discursar como se ainda estivesse em campanha. A impressão que se tem é que Lula trabalha o terceiro mandato para pavimentar o caminho para o quarto.
Observando bem as tramas políticas, que estão ocultas sob palavras dissimuladoras e atitudes tendenciosas, Lula tenta uma estratégia que deu certo antes mas que hoje não tem a menor chance de dar certo. É a de achar que, sendo sucessor de si mesmo, terá maior liberdade de ação em um mandato presidencial.
Isso funcionou com algum êxito antes, porque, no primeiro mandato, Lula realizou um governo no qual ele mostrava serviço e lançava medidas que, de algum modo, beneficiaram as classes populares. Os aumentos salariais e mesmo um projeto paliativo como o Bolsa Família pareciam mais significativos do que hoje em dia.
Com essas e outras realizações, Lula pôde ser reeleito em 2006 e fazer do segundo mandato o melhor dos três, pois sendo Lula sucessor de si mesmo no mandato presidencial, ele teve liberdade de ação, pois fez uma gestão benéfica, e acabou herdando os bons resultados que ele havia feito quatro anos antes.
Hoje, porém, não surte o mesmo efeito, pois Lula começou o terceiro mandato sem oferecer uma agenda positiva, perdendo até para um político deplorável como Fernando Collor - que, no começo do mandato, mostrou serviço e tentou lançar propostas em prol dos brasileiros - , o presidente preferiu se pavonear para o resto do mundo, perdendo muito tempo enfatizando a política externa, deixando o Brasil nos mesmos estragos causados por Temer e Bolsonaro.
Lula não fez uma atitude consistente no seu atual governo. Até causou estranheza lançando paliativos, promovendo aumentos salariais pífios, e mesmo a "ambiciosa" cobrança de impostos sobre grandes fortunas permite aos super-ricos recuperar e até aumentar suas fortunas, na folga entre uma e outra cobrança de 2% por semestre proposta.
O triste é ver Lula hoje se tornar uma caricatura de si mesmo que nem o saudoso Bussunda do Casseta & Planeta seria capaz de fazer. E, politicamente cansado e dando indícios de estar com câncer, Lula inventa "doenças" do nada, como uma risível "dor no quadril" que se tornou uma estória mal contada, apesar do esforço de criar uma narrativa que convenceu até mesmo a mídia venal.
Lula virou um arremedo de si mesmo, tentando se vender para todos os públicos na esperança vã de se tornar "unanimidade": o político "democrático que não assusta o empresariado", o "filho de dona Lindu e companheiro dos miseráveis", o "democrata a trabalhar pela grandeza do Brasil" e o "líder mundial empenhado em evitar a Terceira Guerra Mundial". Mesmo havendo contradições entre as diferentes imagens promovidas, Lula tentava obter o apoio dos mais diferentes segmentos sociais, pagando o preço por tamanho ecletismo de pretensões.
O problema é que, diferente do Lula do primeiro mandato, que trabalhou pelo país - embora longe da grandeza revolucionária de Getúlio Vargas - , o Lula do atual mandato celebra a si mesmo, se festeja como um astro pop dotado de muita presunção. Sem realizar um trabalho consistente e firme, que conquistasse a confiança das classes populares, Lula não repetirá, no quarto mandato, a performance que havia obtido no segundo.
Devemos lembrar também que Lula aumentou ainda mais as alianças com a direita moderada, mais do que nos dois primeiros mandatos, quando ele apenas estabeleceu acordos com o baixo-clero da direita e com o então PMDB (hoje MDB). E com a reforma ministerial entregue ao Centrão e aos aliados diretos do presidente, o projeto progressista que já evaporou no atual mandato tenderá a ser apenas um sonho distante, sobretudo quando sabemos do risco do salário mínimo aumentar apenas R$ 30 por ano.
Por isso, é um grande erro Lula tentar fazer do terceiro mandato o preparativo para o quarto mandato. Se perdendo na promoção pessoal através de viagens ao exterior, de discursos em eventos, de excursões pelo país e entrevistas para a imprensa, Lula trabalhou pouco. E, aumentando mais a sua aproximação com a direita neoliberal, o presidente, se tiver a sorte de ser reeleito para o quarto mandato, terá ainda menos a liberdade política que marcou o segundo mandato.
Pelo jeito, aquele Lula progressista acabou para sempre.
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