Pular para o conteúdo principal

BRASIL SOFRE ILUSÕES PIORES DO QUE NA VÉSPERA DO GOLPE DE 1964




Acreditar que o futuro do nosso país está nas mãos de um idoso doente de 80 anos de idade, cruzar os braços, bebemorar e dormir tranquilos com isso é muito insano e perigoso. A ideia de que, desta vez, o Brasil “finalmente chegará no Primeiro Mundo como a nação socialista desenvolvida” é uma fantasia que, no entanto, é compartilhada e defendida com mãos de ferro por muita gente nas redes sociais.

São narrativas persistentes, por serem organizadas, produzindo um sentido, grande apoio do público e tendo uma facilidade de farta argumentação. Portanto, é uma narrativa com sabor artificial de “realidade”, com todo o aparato de lógica e coerência que soam verídicas, mas não são, embora as contradições e inconsistências sejam mais sutis e difíceis de serem identificadas pelos desavisados de plantão.

O Brasil vive ilusões doentias e tóxicas e mesmo quando nossa realidade está no clima do “vai ou não vai”, o atual cenário político, comandado pelo presidente Lula, insiste na narrativa dominante do “agora vai, e vai mesmo”, não cabendo questionamentos nem contestações. Caso estas houverem, a máquina argumentista de Gleisi Hoffmann e Sidônio Palmeira vai contrargumentar nas redes sociais com textões, voadoras e invertidas.

E por que o Brasil vive a ilusão doentia de que “finalmente vai dominar o mundo”, ainda mais sob o pretexto de que os EUA estariam na decadência sob o comando do rabugento Donald Trump?

Simples. O Brasil vive fantasias e sonhos muito maiores do que aqueles que tomaram conta do imaginário esquerdista de março de 1964. Com um realismo muito maior do que seis décadas depois, o Brasil mergulhou num golpe militar de cerca de duas décadas.

Acreditava-se que a burguesia nacional iria financiar o Brasil progressista e zelaria pelo mandato de João Goulart. O núcleo ativista e intelectual do CPC da UNE narrava a temática da pobreza de maneira poética mas sem a hipocrisia e o paternalismo demagógico da “campanha contra o preconceito” dos intelectuais pró-brega dos últimos vinte anos, estes mais próximos de um IPES-IBAD pós-tropicalista com tinturas woke.

Para quem não sabe, a dupla IPES-IBAD (com o IPES sendo informalmente apelidado de "ipês", referente ao ipê, tipo de árvore de flores belíssimas que simboliza a vitalidade brasileira) foi um projeto da burguesia brasileira para criar institutos de fachada que, de maneira pretensamente intelectual, pregava a derrubada do governo de João Goulart. A campanha do IPES-IBAD foi crucial para despertar, em 1964, o sentimento golpista na sociedade brasileira.

Arnaldo Jabor, o saudoso cineasta e cronista que integrou o CPC da UNE - que recentemente perdeu outro membro, o também cineasta Cacá Diegues - , se queixava que as esquerdas de 1964 glamourizavam o subdesenvolvimento, através das produções no âmbito do cinema, do teatro e da música.

E olha que, naquela época, as favelas eram vistas como um problema social grave, diferente da glamourização que esses ambientes degradados, subprodutos da exclusão imobiliária, têm hoje, dentro da cosmética do “orgulho de ser pobre” do culturalismo brega-identitário dos últimos tempos.

Essas ilusões ainda eram reforçadas pelo bonapartismo pseudoesquerdista do Cabo Anselmo, que enganou as esquerdas dirante um tempo e ficou “amigo das esquerdas” até 1968, quando, a serviço da CIA, dedurou seus comparsas que, mais tarde, foram mortos pela repressão ditatorial.

Entre 2005 e 2016, outros “Cabos Anselmos” agoram para enganar as esquerdas. Pedro Alexandre Sanches, o menino de ouro de Otávio Frias Filho e uma das crias do anti-esquerdista Projeto Folha, foi fazer proselitismo nas redações da mídia alternativa para pensarem a cultura popular sob os filtros ideológicos do caderno Ilustrada. A mídia alternativa mordeu a isca e se deu mal, abrindo as portas para a direita encampar questionamentos que os esquerdistas se recusatam a fazer.

Outros que desempenharam o papel do finado militar da “Revolta dos Sargentos” foram ligados ao “funk carioca”. O “funk” foi a “Revolta dos Sargentos” da Era Lula de 2003-2010, com o mesmo discurso vitimista metido a libertário. E se o golpe civil-militar foi motivado pela anistia de Jango a Anselmo e companhia, o golpe jurídico -parlamemtar de 2016 foi motivado pelo evento quinta-coluna do “baile funk” de Copacabana naquele 17 de abril de 2016.

O “baile funk” enganou as esquerdas, anestesiadas pelo falso ativismo que permitiu a votação sossegada do impeachment, enquanto os esquerdistas, iludidos, se achavam “vitoriosos”. O DJ Rômulo Costa, membro da Bancada da Bíblia e, na época, sogro da golpista radical Antônia Fontenelle, viveu seus quinze minutos de fama como um falso esquerdista, para depois comemorar escondido a derrubada de Dilma Rousseff com os golpistas.

Outros “Cabos Anselmos” do “funk”, MC Leonardo e Bruno Ramos, presidentes da APAFUNK e Liga do Funk, também faziam jogo duplo, principalmente se aliando com as Organizações Globo. Ramos chegava a ter um modo zangado e um discurso militante muito parecido com o de Cabo Anselmo em 1963-1964.

As esquerdas se iludem tanto nas últimas décadas que, no âmbito religioso e filantrópico, chegaram a manifestar admiração por um “médium espírita” de Uberaba que era defensor radical da ditadura militar e era uma espécie de Jair Bolsonaro do Cristianismo, além de, no fim da vida, ter manifesto admiração recíproca por Aécio Neves.

Se nossas esquerdas se rendem facilmente a tais ingenuidades, levando ao paroxismo a glamourização da pobreza e a credulidade em prol da burguesia nacional, com o perigoso agravante de apostar num idoso para a conduta do país no futuro, tudo indica que essa “certeza absoluta” pelo triunfalismo brasileiro será, mais uma vez, uma miragem. E isso não é pessimismo, mas realismo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

BRASIL PASSOU POR SEIS DÉCADAS DE RETROCESSOS SOCIOCULTURAIS

ANTES RECONHECIDA COMO SÉRIO PROBLEMA HABITACIONAL, A FAVELA (NA FOTO, A ROCINHA NO RIO DE JANEIRO) TORNOU-SE OBJETO DA GLAMOURIZAÇÃO DA POBREZA FEITA PELAS ELITES INTELECTUAIS BRASILEIRAS. A ideia, desagradável para muitos, de que o Brasil não tem condições para se tornar um país desenvolvido está na deterioração sociocultural que atingiu o Brasil a partir de 1964. O próprio fato de muitos brasileiros se sentirem mal acostumados com essa deterioração de valores não significa que possamos entrar no clube de países prósperos diante dessa resignação compartilhada por milhares de pessoas. Não existe essa tese de o Brasil primeiro chegar ao Primeiro Mundo e depois “arrumar a casa”, como também se tornou inútil gourmetizar a decadência cultural sob a desculpa de “combater o preconceito”. Botar a sujeira debaixo do tapete não limpa o ambiente. Nosso país discrimina o senso crítico, abrindo caminho para os “novos normais” que acumulamos, precarizando nosso cotidiano na medida em que nos resig...

“GALERA”: OUTRA GÍRIA BEM AO GOSTO DA FARIA LIMA

Além da gíria “balada” - uma gíria que é uma droga, tanto no sentido literal como no sentido figurado - , outra gíria estúpida com pretensões de ser “acima dos tempos e das tribos” é “galera”, uma expressão que chega a complicar até a nossa língua coloquial. A origem da palavra “galera” está no pavimento principal de um navio. Em seguida, tornou-se um termo ligado à tripulação de um navio, geralmente gente que, entre outras atividades, faz a faxina no convés. Em seguida, o termo passou a ser adotado pelo jornalismo esportivo porque o formato dos estádios se assemelhava ao de navios. A expressão passou a ser usada, também no jornalismo esportivo, para definir o conjunto de torcedores de futebol, sendo praticamente sinônimo de “torcida”. Depois o termo passou a ser usado pelo vocabulário bicho-grilo brasileiro, numa época em que havia, também, as sessões de cinema mostrando notícias do futebol pelo Canal 100 e também a espetacularização dos campeonatos regionais de futebol que preparavam...

“ROCK PADRÃO 89 FM” PERMITE CULTUAR BANDAS FICTÍCIAS COMO O VELVET SUNDOWN

Antes de irmos a este texto, um aviso. Esqueçamos os Archies e os Monkees, bandas de proveta que, no fundo, eram muito boas. Principalmente os Monkees, dos quais resta vivo o baterista e cantor Micky Dolenz, também dublador de desenhos animados da Hanna-Barbera (também função original de Mark Hamill, antes da saga Guerra nas Estrelas).  Essa parcela do suposto “rock de mentira” até que é admirável, despretensiosa e suas músicas são muito legais e bem feitas. E esqueçamos também o eclético grupo Gorillaz, influenciado por hip hop, dub e funk autêntico, porque na prática é um projeto solo de Damon Albarn, do Blur, com vários convidados. Aqui falaremos de bandas farsantes mesmo, sejam bandas de empresários da Faria Lima, como havíamos descrito antes, seja o recente fenômeno do Velvet Sundown, grupo de hard rock gerado totalmente pela Inteligência Artificial.  O Velvet Sundown é um quarteto imaginário que foi gerado pela combinação de algoritmos que produziram todos os elementos d...

LULA DEVERIA SE APOSENTAR E DESISTIR DA REELEIÇÃO

Com o anúncio recente do ator estadunidense Michael Douglas de que iria se aposentar, com quase 81 anos de idade, eu fico imaginando se não seria a hora do presidente Lula também parar. O marido de Catherine Zeta-Jones ainda está na sua boa saúde física e mental, melhor do que Lula, mas o astro do filme Dia de Fúria (Falling Down) , de 1993, decidiu que só vai voltar a atuar se o roteiro do filme valer realmente a pena  Lula, que apresenta sérios problemas de saúde, com suspeitas de estar enfrentando um câncer, enlouqueceu de vez. Sério. Persegue a consagração pessoal e pensa que o mundo é uma pequena esfera a seus pés. Seu governo parece brincadeira de criança e Lula dá sinais de senilidade quando, ao opinar, comete gafes grotescas. No fim da vida, o empresário e animador Sílvio Santos também cometeu gafes similares. Lula ao menos deveria saber a hora de parar. O atual mandato de Lula foi uma decepção sem fim. Lula apenas vive à sombra dos mandatos anteriores e transforma o seu at...

ATÉ PARECE BRIGUINHA DE ESCOLA

A guerra do tarifaço, o conflito fiscal movido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, leva ao paroxismo a polarização política que aflige principalmente o Brasil e que acaba envolvendo algumas autoridades estrangeiras, diante desse cenário marcado por profundo sensacionalismo ideológico. Com o "ativismo de resultados" pop das esquerdas woke  sequestrando a agenda esquerdista, refém do vício procrastinador das esquerdas médias, que deixam as verdadeiras rupturas para depois - vide a má vontade em protestar contra Michel Temer e Jair Bolsonaro, acreditando que as instituições, em si, iriam tirá-los de cena - , e agora esperam a escala 6x1 desgastar as mentes e os corpos das classes trabalhadoras para depois encerrar com essa triste rotina de trabalho. A procrastinação atinge tanto as esquerdas médias que contagiaram o Lula, ele mesmo pouco agindo no terceiro mandato, a não ser na produção de meros fatos políticos, tão tendenciosos que parecem mais factoides. Lula transforma seu...

NEM SEMPRE OS BACANINHAS TÊM RAZÃO

Nesta suposta recuperação da popularidade de Lula, alimentada pelo pesquisismo e sustentada pelos “pobres de novela” - a parcela “limpinha” de pessoas oriundas de subúrbios, roças e sertões - , o faz-de-conta é o que impera, com o lulismo se demonstrando um absolutismo marcado pela “democracia de um homem só”. Se impondo como candidato único, Lula quer exercer monopólio no jogo político, se recusando a aceitar que a democracia não está dentro dele, mas acima dele. Em um discurso recente, Lula demoniza os concorrentes, dizendo para a população “se preparar” porque “tem um monte de candidato na praça”. Tão “democrático”, o presidente Lula demoniza a concorrência, humilhando e depreciando os rivais. Os lulistas fazem o jogo sujo do valentonismo ( bullying ), agredindo e esnobando os outros, sem respeitar a diversidade democrática. Lula e seus seguidores deixam bem claro que o petista se acha dono da democracia. Não podemos ser reféns do lulismo. Lula decepcionou muito, mas não podemos ape...

A FALSA RECUPERAÇÃO DA POPULARIDADE DE LULA

LULA EMPOLGA A BURGUESIA FANTASIADA DE POVO QUE DITA AS NARRATIVAS NAS REDES SOCIAIS. O título faz ficar revoltado o negacionista factual, voando em nuvens de sonhos do lulismo nas redes sociais. Mas a verdade é que a aparente recuperação da popularidade de Lula foi somente uma jogada de marketing , sem reflexão na realidade concreta do povo brasileiro. A suposta pesquisa Atlas-Bloomberg apontou um crescimento para 49,7%, considerado a "melhor" aprovação do presidente desde outubro de 2024. Vamos questionar as coisas, saindo da euforia do pesquisismo. Em primeiro lugar, devemos pensar nas supostas pesquisas de opinião, levantamentos que parecem objetivos e técnicos e que juram trazer um recorte preciso da sociedade, com pequenas margens de erros. Alguém de fato foi entrevistado por alguma dessas pesquisas? Em segundo lugar, a motivação soa superficial, mais voltada ao espetáculo do que ao realismo. A recuperação da popularidade soa uma farsa por apenas envolver a bolha lulist...

RADIALISMO ROCK: FOMOS ENGANADOS DURANTE 35 ANOS!!

LOCUTORES MAURICINHOS, SEM VIVÊNCIA COM ROCK, DOMINAVAM A PROGRAMAÇÃO DAS DITAS "RÁDIOS ROCK" A PARTIR DOS ANOS 1990. Como o público jovem foi enganado durante três décadas e meia. A onda das “rádios rock” lançada no fim dos anos 1980 e fortalecida nos anos 1990 e 2000, não passou de um grande blefe, de uma grande conversa para búfalos e cavalos doidos dormirem. O que se vendeu durante muito tempo como “rádios rock” não passavam de rádios pop comuns e convencionais, que apenas selecionavam o que havia de rock nas paradas de sucesso e jogavam na programação diária. O estilo de locução, a linguagem e a mentalidade eram iguaizinhos a qualquer rádio que tocasse o mais tolo pop adolescente e o mais gosmento pop dançante. Só mudava o som que era tocado. Não adiantava boa parte dos locutores pop que atuavam nas “rádios rock” ficarem presos aos textos, como era inútil eles terem uma boa pronúncia de inglês. O ranço pop era notório e eles continuavam anunciando bandas como Pearl Jam e...

LÓGICA DAS "PSICOGRAFIAS" É A MESMA DOS ABUSOS DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

HUMBERTO DE CAMPOS, OLAVO BILAC E RAUL SEIXAS - Exemplos mais vergonhosos do que oficialmente se define como "psicografias". É vergonhosa a tentativa de reabilitação do Espiritismo brasileiro, a pior religião de todas mas que se deixa prevalecer pelo pretenso sabor melífluo de suas pregações, tal qual uma mancenilheira institucional. Além da patética novela A Viagem  - amaldiçoada tanto na versão da TV Tupi quanto da Rede Globo - , temos mais um filme da franquia "Nosso Lar" que só agrada mesmo a setores místicos e paternalistas da elite do bom atraso, a "bolha" que impulsiona o sucesso "fogo de palha" dos filmes "espíritas". Pois bem, eu, que fui "espírita" durante 28 anos, entre 1984 e 2012, tendo que largar a religião durante um fase terrível de minha vida particular, posso garantir que o Espiritismo brasileiro é muito pior do que as seitas neopentecostais no sentido de que, pelo menos, os "neopentecostais" possue...