
O ARRANJADOR É UMA ESPÉCIE DE "COZINHEIRO MUSICAL", QUE MOLDA A ESTRUTURA DE UMA CANÇÃO.
Nomes da música brega-popularesca que vão de nomes mais antigos como Odair José, passando por nomes relativamente veteranos como Michael Sullivan e Chitãozinho & Xororó e chegando a nomes mais contemporâneos como Alexandre Pires, Daniel, Thiaguinho, Bell Marques e Péricles, sem falar da recente porém falecida Marília Mendonça, só são considerados “música de qualidade” por conta de um poderoso lobby que envolve produtores de TV, empresários do entretenimento, executivos da indústria fonográfica e chefes de Jornalismo da grande imprensa.
São as relações de negócio, estúpido! Nada a ver com “valores verdadeiros” supostamente ocultos, pois os nomes acima citados simbolizam a mediocridade musical que tempera a precarização cultural brasileira. São nomes de um evidente (desculpe o trocadilho) comercialismo musical que tenta parecer preciosista através de um pretensiosismo difundido por narrativas falsamente objetivas e alegadamente imparciais.
Essas narrativas simulam argumentações técnicas, relatos biográficos e análises das letras para dar um verniz mais “autêntico” aos sucessos popularescos tão naturais quanto um chiclete de bola. Tudo para vender esses produtos como algo maior do que realmente é e dentro do típico pretensiosismo que glamouriza frivolidades e banalidades, para não dizer futilidades.
A verdade que o que está em jogo são as relações de aparências feitas para garantir a estabilidade econômica das carreiras envolvidas, dentro do faz-de-conta do suposto reconhecimento artístico. E mesmo o aparato da “música de qualidade” atribuído a estes nomes se deve a uma figura muito conhecida no processo de concepção musical
Essa figura é o arranjador.
Na música popularesca, os cantores geralmente não fazem seus próprios arranjos. Mesmo quando compõem sozinhos, os cantores popularescos, para a execução de suas composições, entregam a tarefa de fazer arranjos para terceiros, geralmente maestros ou músicos de estúdios que se tornaram arranjadores de carreira.
É claro que, na MPB autêntica, há ou houve cantores que têm músicas arranjadas por outros, como Chico Buarque e Belchior, sem falar das cantoras que nunca ou quase nunca compuseram as canções que gravavam ou gravam. Mas isso é outra história e as motivações são muito diferentes.
No brega dos anos 1960 e 1970, os arranjadores geralmente atuavam na antiga canção da Era de Ouro do Rádio, no caso dos primeiros ídolos cafonas, e, no caso da geração pós-1964, os arranjadores eram ligados à Jovem Guarda. Vários destes últimos atuavam ainda no brega e na música popularesca dos anos 1980.
A partir dos anos 1980, os arranjadores eram músicos menos conhecidos da fase pasteurizada da MPB da época. Músicos de estúdio, integrantes de bandas de apoio, passavam a exercer verdadeiras linhas de montagens musicais para tornar os sucessos popularescos mais “agradáveis”. Dos anos 1990 em diante, esses arranjadores foram cruciais para criar uma maquiagem “artística” para esses sucessos comerciais.
No "pagode romântico", por exemplo, isso é ilustrativo. Há um arranjador para uma média de seis conjuntos do gênero, dentro de uma fórmula que imita os clichês comerciais da canção soul dos EUA, mesclada com acordes de instrumentos sambistas.
Mesmo quando músicos de "pagode romântico" vão fazer cursos de violão, eles não o fazem pensando em fazer arranjos, mas em entender a linguagem que os arranjadores estabelecem para os intérpretes do gênero executarem. É apenas para conhecer o "código" que o arranjador criará para seus subordinados fazerem sucesso.
Por isso mesmo, o verdadeiro mérito deve ser dado aos arranjadores que, como "cozinheiros musicais", concebem as estruturas de uma canção ou de um repertório. Os ídolos brega-popularescos nada têm de criadores, apenas concebem linhas de montagem musicais, que o lobby de jornalistas, empresários, executivos, produtores etc precisa defender como supostas preciosidades para, assim, esses ídolos fazerem sucesso por mais tempo.
São as regras do negócio, o papo de "valor artístico" é só conversa para boi dormir. Se o brega parece "legal" e "genial", agradeça ao arranjador que, secretamente, realizou todo esse trabalho e é praticamente o único a receber algum reconhecimento.
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