A AXÉ-MUSIC SERVE DE TRILHA SONORA PARA A ALEGRIA E O AMOR TORNADOS MERAS MERCADORIAS DE CONSUMO.
A música brega-popularesca pode fazer sucesso estrondoso nas rádios, lotar plateias e atingir o grande público. Mas, passados seis meses, essas músicas soam velhas e não adianta a blindagem de intelectuais e críticos tentar exumar esses cadáveres sonoros porque o merecimento é inevitável.
A título de comparação, canções da Legião urbana e de Cazuza ainda mantém o frescor de novas. E isso é irônico, pois Cazuza e Renato Russo estão falecidos há, respectivamente, 35 e 29 anos, portanto, muito tempo.
Os ídolos popularescos, no entanto, podem estar vivos e, todavia, seus sucessos perecem rapidamente. Seus primeiros sucessos já soam mais antigos do que parecem e mesmo quem adora essas músicas terá que admitir isso, até pela fugacidade de suas vidas frenéticas. Mas, para quem acha que Chaves é humor de vanguarda vai pensar que os sucessos popularescos são “modernos” e “atemporais”.
A axé-music, que completa 40 anos, está velha e mofada. Envelheceu mal, embora sua estética se encaixe no contexto do hedonismo consumista do Brasil atual. Mas o nosso país vive um contexto sociocultural tão atrasado que muitas coisas antiquadas e velhas se passam por “modernas” e “novas” no imaginário de muia gente boa.
Como um arremedo ruim da antiga Jovem Guarda, somado com pastiches de ritmos caribenhos, a axé-music há tempos não tem sequer uma bastarda relevância, digamos, fenomênica. Porque musicalmente era tão medíocre que suas músicas só foram feitas para durar quatro dias de Carnaval.
O saudosismo em torno da axé-music e o pretenso caráter "novidadeiro" que o público que vive fora de Salvador - é claro, a elite do bom atraso, a burguesia bronzeada fantasiada de "gente simples" - podem fazer do estilo popularesco um atrativo muito forte, mas ele não se deve pela relevância artística ou cultural.
Esse atrativo se dá como se dá nos automóveis em comerciais de TV. Por sorte, a axé-music tem essa simbologia da festividade, a alegria e um simples ato de namorar ou beijar na boca reduzidos a meras "mercadorias", e o ideal de "liberdade" que os avós golpistas de 1964 pediram para os seus netos, que agora fingem serem "esquerdistas" ou "democráticos", jogando no tapete toda a herança atroz dos seus antepassados.
Na axé-music, os descendentes da Casa Grande encontram um "Carnevale" para chamar de seu, podendo assim "inverter" seu caráter aristocrático, pois no Carnaval de Salvador a Casa Grande brinca de ser Senzala, mas achando que é Quilombo. Tudo uma grande hipocrisia ao som de magnatas como Bell Marques, Durval Lélis e Ivete Sangalo, ou de baluartes da positividade tóxica como o É O Tchan.
As músicas do Carnaval de Salvador soam mofadas, como se estivessem confinadas no tempo, na Bahia de 1987-2002, a Bahia do carlismo, da farra das concessões de rádio e TV que montaram um coronelismo de FM, da deterioração sociocultural e socioeconômica, do crescimento da miséria e da pobreza enquanto a burguesia soteropolitana posa de "sociedade mais legal do Brasil", antecipando os desvarios da burguesia de chinelos da atualidade.
No Brasil mergulhado no hedonismo consumista dotado de muito pretensiosismo - em vez das pessoas dizerem que "gostam disso ou daquilo porque é divertido", ficam inventando qualidades que não existem e atribuem genialidade onde não há - , a axé-music apenas se encaixa e funciona no contexto de um Brasil que não é o do povo trabalhador, mas das elites lacradoras que se acham "donas da verdade" nas redes sociais.
Mas essas elites são velhas e ultrapassadas, apenas mantendo sua majestade entre suas centenas de pessoas afins nas mídias sociais, numa bolha que pensa ser o universo inteiro. Mas o complexo de superioridade desses cavernícolas pós-modernos só tem validade no território brasileiro, pois o Primeiro Mundo não é trouxa para aceitar as birras de um bando de presunçosos bem-nascidos e seu viralatismo cultural não assumido.
A axé-music, portanto, só é "novidade" para uma elite megalomaníaca que acha que tudo que ela gosta, defende e acredita é que é "superior". Mas os sucessos da axé-music perecem rapidamente, e isso é vergonhoso se comparados a sucessos de gente que já morreu há muito tempo.
Renato Russo e Cazuza não correram atrás do trio elétrico, mas suas músicas perduram na posteridade com um frescor que não perece. Já os ídolos da axé-music, coitados, precisam de muito marketing para não sucumbirem ao museu da mediocridade condenada ao esquecimento. Por sorte, conseguem se manter na mídia, devido a um país atrasado e vergonhosamente infantilizado que é o Brasil de hoje.
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