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A DEMOCRACIA PRIVATIZADA NAS MÃOS DE UM ÚNICO HOMEM


LULA, HOJE,SE APROXIMA POLITICAMENTE DE JOSÉ SARNEY, PRESIDENTE DA REDEMOCRATIZAÇÃO.

Infelizmente a democracia sofre ao ser apropriada pelas mãos de um só homem. Lula age como se quisesse a democracia só para si e para mais ninguém, como se o petista fosse o inventor da mesma. Nos 40 anos da redemocratização, soa constrangedor ver que democracia passou a ser dono, como se ele fosse o centro de tudo.

Lula fala tanto em democracia mas sabotou o processo eleitoral, descumpriu a obrigação democrática de enfrentar concorrentes em debates estratégicos e quis transformar a corrida presidencial de 2022 num reles plebiscito, renegando a diversidade de candidaturas que foi o tom da campanha de 1989.

Botar um “rosto”para virtudes humanas já teve resultados infelizes quando se utilizou um reacionário charlatão religioso de Minas Gerais como uma pretensa personificação do amor ao próximo. Sempre a privatização simbólica das qualidades humanas, coisa que vem de uma ordem social carcomida e cheirando a mofo tóxico, a burguesia que derrubou Jango em 1964 e luta para ter, através de um Lula tornado pelego, a única beneficiária real da democracia.

A redemocratização foi negociada pelas mesmas forças políticas civis atuantes no golpe de 1964. Quando não foi mais necessária a tutela militar e a censura, repressão e tortura repercutiram mal a ponto de acirrar a revolta popular, a burguesia resolveu retomar a democracia formal que preservasse o sistema de valores moldado durante a Era Geisel, marcado pela domesticação social de forças sociais potencialmente subversivas, como jovens e pobres.

Tendo dissolvido o projeto progressista para um mínimo denominador comum do atendimento às demandas populares nos limites tolerados pelo neoliberalismo, o atual governo Lula está mais para uma mistura de Fernando Henrique Cardoso com José Sarney. Um governo até pior em certos aspectos, pois Sarney ao menos tentou congelar os preços, enquanto Lula deixou os preços dispararem, e até agora não houve uma ação corajosa de combate à carestia.

Também soa estranho que Lula esteja se gabando tanto do termo “democracia”, como se ele rivesse criado essa ideia. Daí inferirmos que Lula use o termo como um eufemismo para suas guinadas para a direita moderada, além de garantir a sua promoção pessoal às custas de uma falsa grandeza.

Até o cenário sociocultural brasileiro era melhor há 40 anos do que hoje. Se da parte de Sarney o culturalismo envolvia a gourmetização da música brega, através da máquina de destruição da MPB chamada Sullivan & Massadas, o povo e a juventude em particular reagiram com o vigoroso sucesso do Rock Brasil na época. Hoje Michael Sullivan virou um perigoso queridinho da MPB motivada pela Síndrome de Estocolmo, enquanto Renato Russo virou vidraça por parte de um público mais identificado com a imbecilidade cultural do trap, do piseiro e do arrocha, e do já pretensamente tradicional “funk carioca” e derivados.

Nos anos 1980, os movimentos sindicais tinham voz e vez. Havia mais senso crítico transitando entre as pessoas. Hoje o nível de desconfiômetro e o boicote do senso crítico - cortesia dos netos das famílias golpistas de 1964 que agora são "lulistas de carteirinha" - fazem com que se chegue ao ponto de muitos dormirem tranquilos porque deputados recebem cerca de R$ 60 mil por votação a favor de Lula e os trabalhadores têm que se virar com R$ 1,5 mil para comprar alimentos cada vez mais caros.

É certo que José Sarney, com seu DNA udenista - integrante da "Bossa Nova da UDN", Sarney era membro do partido que articulou o golpe militar de 1964 e, portanto, beneficiário da ditadura - , é um "coronel" político do Nordeste, embora brincasse de ser esquerdista nos últimos anos.

Mas pelo menos o Brasil conseguia se sobressair à revelia dele e, hoje, até temos um Brasil que debate, questiona e protesta, mas sua ação é mais clandestina do que nos tempos do "Sir Ney, o Rei do Maranhão", pois o que prevalece é o Brasil de Lula 3.0, onde um único homem decide e seus seguidores apenas dançam, cantam e brincam. Ou seja, recomenda-se viver como se, descontando o bolsonarismo e similares, tivesse que estar de acordo com tudo, uma espécie de AI-SIMco.

Daí a surpreendente reação de um país que não quer Lula nem Bolsonaro - que, mesmo no seu inferno astral, não se sente intimidado, vide a "manifestação pela anistia ao Oito de Janeiro" de Copacabana - e que, com a queda de popularidade do presidente, demonstrou que pretende furar a bolha do Brasil-Instagram, no esforço de evitar que a democracia se torne patrimônio pessoal de um único homem.

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