Que a rede norte-americana McDonald's - rede de lanchonetes que se autoproclamam "restaurantes" - está em séria crise, isso é verdade. Mas nos EUA, ela torna-se tão preocupante que já causou troca de comando, substituindo o norte-americano Don Thompson pelo britânico Steve Easterbrook, a comandar a companhia do lado oposto do Atlântico que banha sua terra natal.
Símbolo da gordurosa e nociva dieta do fast food - capaz de abreviar em 30 anos a vida daquele que só se servir de seus alimentos-padrão - , a rede McDonald's sofre uma série de propagandas negativas, a partir do documentário Super Size Me, de Morgan Spurlock, lançado em 2004 mas até hoje visto por muitas pessoas.
No Brasil, o que pesa negativamente na rede é que a filial brasileira é marcada por violações graves dos direitos trabalhistas, e dos danos morais que os patrões causam nos funcionários. Uma funcionária foi chamada de "vagabunda" por uma gerente só porque anunciou que estava grávida e precisava de licença-maternidade.
As denúncias envolvem sobretudo exploração de trabalho escravo e malabarismos para driblar obrigações trabalhistas. Um exemplo são as "salas de convívio", que a companhia alega serem ambientes de "recreação" e "convívio social", mas que são usadas para reduzir os custos da folha de pagamento dos funcionários.
E o McDonald's tornou-se também um símbolo negativo da chamada "cultura pop", com uma ideia associada ao consumismo, ao entretenimento inútil, personificando o que há de mais descartável e nocivo relacionado aos chamados "bens culturais" trazidos pela grande mídia e pelo mercadão do entretenimento.
Mas como no Brasil as armadilhas da "cultura pop" não são reconhecidas, e o "pop" é visto como se fosse ainda a "tábua de salvação" para a mesmice cultural brasileira, então a pedida é transferir a receita do McDonald's para a cultura popular, através do ideal da "cultura transbrasileira", com uma ideia na mão e um sâmpler na cabeça (ou será o contrário?).
Aqui nossa intelectualidade precocemente envelhecida, apostando num "caetanismo sem Caetano", elege agora o "funk" como "valor máximo do folclore (sic) transbrasileiro", e há quem, pasmem vocês, ache que o ritmo é "de raiz", o que dá o tom de desinformação dessa elite pensante da qual detalharemos em outra oportunidade.
E tudo isso com aquela choradeira de que o "funk" é a "cultura das periferias", "vítima do preconceito" e outras desculpas lacrimosas que já perderam a validade mas continuam sendo pregadas como se fossem "ideias novas", de parte de uma intelectualidade "moderníssima" que na verdade adotam abordagens etnográficas, ativistas e tecnológicas de 25 anos atrás.
É aquele mesmo papo de "civerativismo", "cultura transbrasileira" e "periferias" que, embora servido de bandeja nas mídias de esquerda, cheira a neoliberalismo escancarado (o mesmo da TV Globo, de Beto Richa e Aécio Neves, só para citar os vilões da temporada) que lembram mais aqueles clichês da globalização, da filantropia e dos avanços tecnológicos da euforia pós-queda do comunismo.
Aqui os intelectuais pregam leis de livre-mercado na mídia de esquerda e tentam dar a impressão de que estão promovendo a "reforma agrária na MPB". Onde, meus caros? Só se for a "reforma agrária" udenista, com indenização dada ao coronelismo, que nos planos do mercado e do entretenimento, é o mesmo que mata agricultores e missionárias mas financia a dita "cultura das periferias" endeusada pela intelligentzia "mais legal do país".
Então, se a moda é endeusar o "funk", é bom prestar atenção nas iniciais MC de seus porta-vozes. MC de McDonald's, de transformar a cultura popular em fast food hiperconectado da "cultura transbrasileira" que finge não ter qualquer associação com a Rede Globo, Folha de São Paulo e com o PSDB cujos governantes promovem "batidão" em cima dos professores em greve.
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