BARES EM NITERÓI ESTÃO SE VIRANDO PARA TOCAR ROCK EM MP3 GRAVADOS EM PEN-DRIVES.
O radialismo rock está em crise. O que pouca gente consegue compreender com profundidade é que as rádios que se dizem "de rock" que prevalecem no mercado não passam de rádios pop com vitrolão que, em tese, é voltado ao rock, mas tanto pode incluir o soul de Amy Winehouse ou o techno do Prodigy.
Quando a 89 FM e a Rádio Cidade voltaram com a mesma pasmaceira que eram em 2006, sem mexer em time que havia perdido, a maioria dos roqueiros se comportou como um rebanho de carneirinhos comportados. Nada menos roqueiro, nada menos rebelde do que isso.
Muitos, mesmo sem concordar, se resignaram de ouvir aquela mesma gororoba radiofônica, em que a programação diária só tem besteirol, com programas que são claramente cópias descaradas do Pânico da Pan, sem tirar nem pôr (a não ser o vitrolão "roqueiro", claro; Nirvana no lugar de Madonna, por exemplo).
Claro, tudo pelo "roquenrol", pela vinda de grandes bandas, blablablá, blablablá. Mas nos tornamos reféns desse mercado de locutores engraçadinhos, sucessos comerciais, além dos arrogantes ouvintes e produtores que não entendem de rock mas se acham os donos da "verdade roqueira" e usam as mídias sociais para ficarem ofendendo ou ridicularizando as pessoas.
Desde 1990 que os roqueiros têm ameaçado o direito de usar os microfones dos estúdios de rádio. A incômoda intermediação por locutores pop, que se vangloriavam em se transformar em "profissionais de rock", fazia com que a qualidade da programação caísse drasticamente, porque esses locutores expressariam preconceitos diversos contra a natureza do rock.
Em princípio, esses radialistas esperavam que fileiras de roqueiros fizessem plantão nos corredores da emissora para dizer o que os locutores deveriam fazer, o que as emissoras deveriam fazer e elas mediam os pontos do Ibope para pensar se adotavam alguma mudança ou não.
Muito chato. Imagine forçar um locutor com aquela dicção animada de "gostosão pop" ter que falar tranquilo e adotar o timbre de um radialista roqueiro de verdade. Um Zé Luís iria falar como o Leopoldo Rey? Nunca! A voz do locutor engraçadinho, infelizmente, torna-se sua marca permanente.
Ter que obrigar a rádio a tocar mais do que aqueles 40 sucessos repetidos de quatro em quatro meses, dizer que tocar músicas mais difíceis, o chamado "lado B", é mais vantajoso, que falar em cima das músicas afasta os ouvintes etc é dose para leão para roqueiros que precisam negociar com gerentes artísticos que não se envolvem naturalmente com rock.
Só que nada fica espontâneo. No começo, as rádios comerciais "de rock" pareciam estar dispostas a tudo para parecerem algo próximo ao das rádios de rock de verdade, mas não havia como. Muitas caraterísticas dessas rádios eram estranhas, a mentalidade era pop do mesmo jeito, locutores animadinhos eram as principais estrelas e tudo o mais.
Por isso é que desanima. As rádios condicionavam posições no Ibope para reformularem a programação, e o resultado final ficava sempre aquém, por mais que se insiram nomes como Lou Reed ou Sonic Youth na programação diária.
Também a coisa não melhoraria se tais rádios criassem zilhões de programas que incluam de rock alternativo a progressivo. Até porque uma rádio comercial "de rock" nunca teria um programa exclusivo de progressivo, ele apareceria num programa de "rock antigo" (classic rock), disputando espaço com Beatles, Bill Haley, Surfaris, Little Richard e Deep Purple.
Com o tempo, os roqueiros desistiram de fazer esse papel constrangedor de fazer as rádios comerciais "de rock" se aproximarem da performance das rádios de rock originais. Era negociação demais para um resultado incerto e insatisfatório. E, com o tempo, essas rádios comerciais pioraram mais ainda, embora no fundo sempre foram canastronas, mesmo nos momentos "mais alternativos".
E aí, de deturpação em deturpação, o que vemos hoje em dia é uma programação diária que só tem besteirol. E dá pena ver os caras da 89 FM e Rádio Cidade esculhambarem o "rock colorido", enquanto a gente vê o pessoal de programas como Esquenta e Hora dos Perdidos e é difícil não pensar em Restart, Cine ou similares, combinado com o Pânico da Pan.
O que restará do radialismo rock? Essas rádios de "happy rock"? Locutores animadinhos que tratam o roqueiro como se fosse um débil-mental de seis anos de idade? Aceitar que até bobagens como Cake, Smash Mouth e Bloodhound Gang são "clássicos do rock"? Ter que aturar uns hooligans que pensam que futebol é "esporte rock'n'roll"?
A crise do radialismo rock se agravou nos últimos dez anos e só o fato das duas rádios voltarem exatamente como eram em 2006 só fez piorar as coisas. Fingir que tudo está maravilhoso porque terá Rock In Rio, Lollapalooza e Monsters of Rock no próximo ano e o pessoal quer ganhar das duas rádios ingresso de graça para tais eventos é o supra-sumo do comportamento bovino.
O que preocupa é que, passado o impacto do fim da Ipanema FM de Porto Alegre, a se restringir a ser uma webradio que mal consegue ser sintonizada na Internet que "come" créditos nos telefones celulares (você ouve meia-hora de rádio e depois tem que pagar R$ 7 ou mais para uma recarga), os roqueiros voltarão ao comportamento carneirinho de sempre.
E aí o que vamos fazer? Fazer como uma minoria influente de cariocas que, cansada de esperar pelo retorno da Kiss FM, se contenta em ouvir as pasmaceiras da Rádio Cidade e sua linguagem tipo Jovem Pan em troca de uns ralos sucessos de Pearl Jam e Legião Urbana perdidos entre tanto lixo despejado sob o rótulo de rock? Agir assim é igual a ser o mais felpudo dos carneirinhos.
O radialismo rock está em crise. O que pouca gente consegue compreender com profundidade é que as rádios que se dizem "de rock" que prevalecem no mercado não passam de rádios pop com vitrolão que, em tese, é voltado ao rock, mas tanto pode incluir o soul de Amy Winehouse ou o techno do Prodigy.
Quando a 89 FM e a Rádio Cidade voltaram com a mesma pasmaceira que eram em 2006, sem mexer em time que havia perdido, a maioria dos roqueiros se comportou como um rebanho de carneirinhos comportados. Nada menos roqueiro, nada menos rebelde do que isso.
Muitos, mesmo sem concordar, se resignaram de ouvir aquela mesma gororoba radiofônica, em que a programação diária só tem besteirol, com programas que são claramente cópias descaradas do Pânico da Pan, sem tirar nem pôr (a não ser o vitrolão "roqueiro", claro; Nirvana no lugar de Madonna, por exemplo).
Claro, tudo pelo "roquenrol", pela vinda de grandes bandas, blablablá, blablablá. Mas nos tornamos reféns desse mercado de locutores engraçadinhos, sucessos comerciais, além dos arrogantes ouvintes e produtores que não entendem de rock mas se acham os donos da "verdade roqueira" e usam as mídias sociais para ficarem ofendendo ou ridicularizando as pessoas.
Desde 1990 que os roqueiros têm ameaçado o direito de usar os microfones dos estúdios de rádio. A incômoda intermediação por locutores pop, que se vangloriavam em se transformar em "profissionais de rock", fazia com que a qualidade da programação caísse drasticamente, porque esses locutores expressariam preconceitos diversos contra a natureza do rock.
Em princípio, esses radialistas esperavam que fileiras de roqueiros fizessem plantão nos corredores da emissora para dizer o que os locutores deveriam fazer, o que as emissoras deveriam fazer e elas mediam os pontos do Ibope para pensar se adotavam alguma mudança ou não.
Muito chato. Imagine forçar um locutor com aquela dicção animada de "gostosão pop" ter que falar tranquilo e adotar o timbre de um radialista roqueiro de verdade. Um Zé Luís iria falar como o Leopoldo Rey? Nunca! A voz do locutor engraçadinho, infelizmente, torna-se sua marca permanente.
Ter que obrigar a rádio a tocar mais do que aqueles 40 sucessos repetidos de quatro em quatro meses, dizer que tocar músicas mais difíceis, o chamado "lado B", é mais vantajoso, que falar em cima das músicas afasta os ouvintes etc é dose para leão para roqueiros que precisam negociar com gerentes artísticos que não se envolvem naturalmente com rock.
Só que nada fica espontâneo. No começo, as rádios comerciais "de rock" pareciam estar dispostas a tudo para parecerem algo próximo ao das rádios de rock de verdade, mas não havia como. Muitas caraterísticas dessas rádios eram estranhas, a mentalidade era pop do mesmo jeito, locutores animadinhos eram as principais estrelas e tudo o mais.
Por isso é que desanima. As rádios condicionavam posições no Ibope para reformularem a programação, e o resultado final ficava sempre aquém, por mais que se insiram nomes como Lou Reed ou Sonic Youth na programação diária.
Também a coisa não melhoraria se tais rádios criassem zilhões de programas que incluam de rock alternativo a progressivo. Até porque uma rádio comercial "de rock" nunca teria um programa exclusivo de progressivo, ele apareceria num programa de "rock antigo" (classic rock), disputando espaço com Beatles, Bill Haley, Surfaris, Little Richard e Deep Purple.
Com o tempo, os roqueiros desistiram de fazer esse papel constrangedor de fazer as rádios comerciais "de rock" se aproximarem da performance das rádios de rock originais. Era negociação demais para um resultado incerto e insatisfatório. E, com o tempo, essas rádios comerciais pioraram mais ainda, embora no fundo sempre foram canastronas, mesmo nos momentos "mais alternativos".
E aí, de deturpação em deturpação, o que vemos hoje em dia é uma programação diária que só tem besteirol. E dá pena ver os caras da 89 FM e Rádio Cidade esculhambarem o "rock colorido", enquanto a gente vê o pessoal de programas como Esquenta e Hora dos Perdidos e é difícil não pensar em Restart, Cine ou similares, combinado com o Pânico da Pan.
O que restará do radialismo rock? Essas rádios de "happy rock"? Locutores animadinhos que tratam o roqueiro como se fosse um débil-mental de seis anos de idade? Aceitar que até bobagens como Cake, Smash Mouth e Bloodhound Gang são "clássicos do rock"? Ter que aturar uns hooligans que pensam que futebol é "esporte rock'n'roll"?
A crise do radialismo rock se agravou nos últimos dez anos e só o fato das duas rádios voltarem exatamente como eram em 2006 só fez piorar as coisas. Fingir que tudo está maravilhoso porque terá Rock In Rio, Lollapalooza e Monsters of Rock no próximo ano e o pessoal quer ganhar das duas rádios ingresso de graça para tais eventos é o supra-sumo do comportamento bovino.
O que preocupa é que, passado o impacto do fim da Ipanema FM de Porto Alegre, a se restringir a ser uma webradio que mal consegue ser sintonizada na Internet que "come" créditos nos telefones celulares (você ouve meia-hora de rádio e depois tem que pagar R$ 7 ou mais para uma recarga), os roqueiros voltarão ao comportamento carneirinho de sempre.
E aí o que vamos fazer? Fazer como uma minoria influente de cariocas que, cansada de esperar pelo retorno da Kiss FM, se contenta em ouvir as pasmaceiras da Rádio Cidade e sua linguagem tipo Jovem Pan em troca de uns ralos sucessos de Pearl Jam e Legião Urbana perdidos entre tanto lixo despejado sob o rótulo de rock? Agir assim é igual a ser o mais felpudo dos carneirinhos.
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