MÉDICOS E EMPRESÁRIOS DE 60 ANOS PENSAM QUE AINDA VIVEM NOS TEMPOS DE JACINTO DE THORMES (FOTO).
Evidentemente, a meia-idade hoje está em crise. Quase não temos grandes pensadores no começo dos 60 anos de idade, e o que salva uma parcela de sessentões foi o constante convívio juvenil de grêmios estudantis, rádios de rock, poesia marginal, cinema udigrudi, teatro interativo e até mesmo comunidade hippie.
Já entre os chamados "cultos" e "refinados", a coisa virou um desastre. E é até constrangedor que alguns dos empresários e médicos que se casam com mulheres bem mais jovens que eles tentem parecer mais velhos do que realmente são. Presos nos tempos antigos, esses "coroas" já têm filhos crescidos, mas parecem entender muito menos o mundo do que estes.
Eles nasceram entre 1950 e 1955 e parecem ainda viver no tempo de Jacinto de Thormes. Para quem não sabe quem foi ele, um relato rápido: era o pseudônimo do jornalista Maneco Muller que se dedicava ao colunismo social nos anos 1950 e 1960, espécie de espaço jornalístico para mostrar a gente rica, conhecida como "gente bem" e que teve coluna na Última Hora.
Jacinto, no entanto, adotava uma cobertura ortodoxa, depois levemente rompida por Ibrahim Sued, que popularizou o termo "hi-so" (para high society, assim como hi-fi estava para high fidelity) no lugar da "gente bem".
Jacinto ainda por cima adotava o método machista de identificar as dez mulheres mais elegantes de cada semana com o nome do respectivo marido precedido pelo vocativo "Srª.". Por exemplo, se havia um empresário chamado Gumercindo Soares Elzebier (exemplo fictício, por favor), e sua esposa é Tereza dos Santos Elzebier, ela aparecia apenas como a Srª Gumercindo Soares Elzebier.
Vejo homens de cabelos brancos viciados em ternos e sapatos de verniz, que mesmo com suas esposas mais novas (com idades de terem vivido a adolescência ouvindo Rock Brasil e vendo programas de clipes pré-MTV Brasil) que pensam que, só por terem nascido nos anos 1950, acham que podem entender os anos 1940.
Tente conversar com um deles. O médico tal, o empresário qual, ou o advogado e economista acolá, que tenha em torno de 61, 62 anos em média. Eles vão falar dos anos 1950 como se eles tivessem vivido a década na idade adulta, com todo o pedantismo de quem passou 30 anos em consultórios ou escritórios convivendo profissionalmente com os mais velhos.
Nem todo mundo consegue enxergar o mundo que veio antes de seus berços. Soa patético ver um empresário ou médico de seus 61, 62 anos falar dos referenciais dos anos 1950 com uma falsa intimidade, isso quando não tentam explicar os anos 1940 que mal conseguem entender.
É impossível que esses homens, por exemplo, tenham participado das rodas intelectuais que aconteciam em Ipanema, em 1958. Como meninotes de quatro ou cinco anos iriam entender o que nomes como Nelson Rodrigues, Sérgio Porto, Vinícius de Moraes, Otto Lara Rezende e outros conversavam nas mesas de bar?
O mais grave é que os hoje "senhores de idade", que eram novos para entender os movimentos juvenis de 1967-1968, se tornaram universitários no auge da ditadura e estavam ocupados demais em seus empregos para entender os manifestos juvenis pela redemocratização, sentem um surdo preconceito com a década de 1980 que animou a adolescência de suas esposas.
Isso é como um alemão que vive no Rio de Janeiro por causa da esposa carioca e se recusa a viver a rotina e o astral da cidade. Esse preconceito é tão constrangedor que vale como uma falta de educação que nem todo rigor de etiqueta que esses "senhores" seguem consegue reparar. Pelo contrário, até agrava mais as coisas.
Presos nas suas convicções de "bom gosto" e "maturidade", esses "senhores" vivem presos em seus tempos. Ainda resistem muito em adaptar-se aos novos tempos. Sempre vivem esperando pelo próximo evento de gala no qual possam usar, pela enésima vez, seus entediantes paletós e seus modorrentos sapatos de verniz bem engraxados.
E isso anos depois de Maneco Muller ter morrido, e os colunismos sociais de hoje mostram atores de Malhação se divertindo nas plateias do Lollapalooza. O tempo gira, mas esses homens grisalhos e suas esposas-gatinhas não conseguem ver as transformações do tempo, enquanto o passado que eles não viveram e tentam compreender lhes escapa de suas memórias.
Evidentemente, a meia-idade hoje está em crise. Quase não temos grandes pensadores no começo dos 60 anos de idade, e o que salva uma parcela de sessentões foi o constante convívio juvenil de grêmios estudantis, rádios de rock, poesia marginal, cinema udigrudi, teatro interativo e até mesmo comunidade hippie.
Já entre os chamados "cultos" e "refinados", a coisa virou um desastre. E é até constrangedor que alguns dos empresários e médicos que se casam com mulheres bem mais jovens que eles tentem parecer mais velhos do que realmente são. Presos nos tempos antigos, esses "coroas" já têm filhos crescidos, mas parecem entender muito menos o mundo do que estes.
Eles nasceram entre 1950 e 1955 e parecem ainda viver no tempo de Jacinto de Thormes. Para quem não sabe quem foi ele, um relato rápido: era o pseudônimo do jornalista Maneco Muller que se dedicava ao colunismo social nos anos 1950 e 1960, espécie de espaço jornalístico para mostrar a gente rica, conhecida como "gente bem" e que teve coluna na Última Hora.
Jacinto, no entanto, adotava uma cobertura ortodoxa, depois levemente rompida por Ibrahim Sued, que popularizou o termo "hi-so" (para high society, assim como hi-fi estava para high fidelity) no lugar da "gente bem".
Jacinto ainda por cima adotava o método machista de identificar as dez mulheres mais elegantes de cada semana com o nome do respectivo marido precedido pelo vocativo "Srª.". Por exemplo, se havia um empresário chamado Gumercindo Soares Elzebier (exemplo fictício, por favor), e sua esposa é Tereza dos Santos Elzebier, ela aparecia apenas como a Srª Gumercindo Soares Elzebier.
Vejo homens de cabelos brancos viciados em ternos e sapatos de verniz, que mesmo com suas esposas mais novas (com idades de terem vivido a adolescência ouvindo Rock Brasil e vendo programas de clipes pré-MTV Brasil) que pensam que, só por terem nascido nos anos 1950, acham que podem entender os anos 1940.
Tente conversar com um deles. O médico tal, o empresário qual, ou o advogado e economista acolá, que tenha em torno de 61, 62 anos em média. Eles vão falar dos anos 1950 como se eles tivessem vivido a década na idade adulta, com todo o pedantismo de quem passou 30 anos em consultórios ou escritórios convivendo profissionalmente com os mais velhos.
Nem todo mundo consegue enxergar o mundo que veio antes de seus berços. Soa patético ver um empresário ou médico de seus 61, 62 anos falar dos referenciais dos anos 1950 com uma falsa intimidade, isso quando não tentam explicar os anos 1940 que mal conseguem entender.
É impossível que esses homens, por exemplo, tenham participado das rodas intelectuais que aconteciam em Ipanema, em 1958. Como meninotes de quatro ou cinco anos iriam entender o que nomes como Nelson Rodrigues, Sérgio Porto, Vinícius de Moraes, Otto Lara Rezende e outros conversavam nas mesas de bar?
O mais grave é que os hoje "senhores de idade", que eram novos para entender os movimentos juvenis de 1967-1968, se tornaram universitários no auge da ditadura e estavam ocupados demais em seus empregos para entender os manifestos juvenis pela redemocratização, sentem um surdo preconceito com a década de 1980 que animou a adolescência de suas esposas.
Isso é como um alemão que vive no Rio de Janeiro por causa da esposa carioca e se recusa a viver a rotina e o astral da cidade. Esse preconceito é tão constrangedor que vale como uma falta de educação que nem todo rigor de etiqueta que esses "senhores" seguem consegue reparar. Pelo contrário, até agrava mais as coisas.
Presos nas suas convicções de "bom gosto" e "maturidade", esses "senhores" vivem presos em seus tempos. Ainda resistem muito em adaptar-se aos novos tempos. Sempre vivem esperando pelo próximo evento de gala no qual possam usar, pela enésima vez, seus entediantes paletós e seus modorrentos sapatos de verniz bem engraxados.
E isso anos depois de Maneco Muller ter morrido, e os colunismos sociais de hoje mostram atores de Malhação se divertindo nas plateias do Lollapalooza. O tempo gira, mas esses homens grisalhos e suas esposas-gatinhas não conseguem ver as transformações do tempo, enquanto o passado que eles não viveram e tentam compreender lhes escapa de suas memórias.
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