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POR QUE A 89 FM E A RÁDIO CIDADE NÃO ROMPERAM O RECORDE DA FLUMINENSE FM DE LANÇAR UMA CENA DE ROCK BRASIL?


A realidade anda surreal e, o que é pior, não podemos reclamar dela sem irritar a "patrulha do estabelecido" (espécie de "Reinaldo Azevedo do amanhã") que toma conta das mídias sociais. Principalmente os pitbulls que defendem as rádios 89 FM e Rádio Cidade.

O que se observa nas duas rádios é que elas retomaram tudo o que elas tinham de pior em 2006 e que as "queimou" na opinião pública, com programas de piadinhas nada roqueiras, resenhas esportivas nada roqueiras e game shows nada roqueiros, e o hit-parade roqueiro ficou ainda mais fechado do que antes.

A 89 FM, paulista, retomou sua trajetória no final de 2012 e a Rádio Cidade, carioca, retomou no fim do primeiro trimestre de 2014, mas até agora elas não conseguiram sequer se aproximar do recorde que a Fluminense FM teve de lançar uma cena de Rock Brasil, consistente e visceral, com apenas seis meses de transmissão?

A 89 está há uns dois anos e meio, a Cidade há pouco mais de um ano, e tudo o que elas fazem é pegar carona num programa de reality show de uma grande corporação televisiva, a Rede Globo, para "lançar" as novas bandas.

Sim, porque os grupos que até agora constituem o "novo rock" tocado pelas duas rádios são de bandas que vieram do tal programa "global", o Superstar, uma mera competição na qual quase todos os "artistas" são na verdade ídolos amestrados que tem gestos calculados e trabalham artificialmente todo um aparato cênico e técnico que tira toda espontaneidade.

Malta, Suricato, Scalene, Supercombo ou mesmo Tianastácia - que já rolou nas duas "rádios rock" há cerca de uma década atrás - apenas revisitam tendências do pop-rock dos anos 1990, época sem muita criatividade, apesar do alto profissionalismo e da estrutura empresarial impecável envolvida.

O Malta é uma espécie de Nickelback tentando copiar o Sepultura no visual. O Suricato e Scalene seguem o rock noventista convencional, sendo o Scalene um grupo que, no visual, imita o Weezer, mas sonoramente parece um Foo Fighters piorado com aquele mesmo vocal que contamina o rock brasileiro de hoje, meio Supla, meio Rogério Flausino.

Já o Supercombo parece um sub-Los Hermanos tentando soar como o Coldplay, mas que pensa ser o Superchunk, se é que eles conhecem esse grupo de rock alternativo que os programadores das rádios-roque não têm a menor coragem de tocar, a não ser que o grupo tenha a sorte de ganhar um tema para o próximo filme da série Velozes e Furiosos.

Estou lendo o livro Memórias de um Legionário, que Dado Villa-Lobos escreveu junto com outros dois amigos (que ajudaram a transcrever alguns depoimentos do músico e ajudaram em pesquisas e revisão de texto), e vejo o quanto era visceral, orgânico e verdadeiro o cenário de Rock Brasil dos anos 80.

É triste ver que bandas aceitam fazer o jogo do mercado de competições musicais, em troca de uma visibilidade fácil, para compensar o talento mediano que têm, que não as fazem diferenciar do que se vê no som da moda. Infelizmente, tenho que admitir que a cena roqueira de hoje é quase toda dominada por músicos carneirinhos que aceitam fazer o jogo do mercado.

E por que a Rádio Cidade e a 89 FM recorrem a reality shows para lançar bandas novas e até hoje nem se esforçaram em se aproximar do recorde da Fluminense FM? Isso é muito grave, porque, num tempo sem Internet, sem instantaneidade de informação, sem facilidades tecnológicas etc, que foi o ano de 1982, a Flu FM, com seis meses de existência, já lançava uma boa cena de Rock Brasil.

E era uma cena visceral, orgânica, de gente que não era apenas bem informada das coisas, mas sabia processar as informações musicais com uma criatividade própria. Tecnicamente, eram mais rudimentares do que hoje, mas sua criatividade fez tanto diferencial que deixou marca até hoje. Vide Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso e Legião Urbana, que não deixam mentir.

E as bandas de hoje? Elas soam confusas, medíocres, parecem um bando de malabaristas culturais que "seguram" um máximo de referências e informações sem que pudessem assimilá-las com paixão e traduzi-las em estilo próprio. E isso não é só no rock. Tanto pode ser Gang da Eletro como Supercombo, é gente com muita informação e quase nenhuma criatividade.

E por que as rádios 89 e Cidade não lançam uma cena que preste? Porque suas equipes são feitas por gente que NÃO ENTENDE de rock. O que os bolsonarinhos que defendem a 89 e Cidade ignoram é que não entender nem gostar de um trabalho não é profissionalismo, mas o mais grosseiro antiprofissionalismo que, a longo prazo, sempre gera falência e crise.

Daí a incapacidade que os radialistas das duas emissoras mostram, a de perceberem o futuro do rock, através do som e não das colocações da Billboard ou das posições dos reality shows musicais. Eles não conseguem sacar o que é um novo movimento de rock, porque simplesmente esses radialistas são mera "sobra" do que a Jovem Pan ou Mix FM não contrataram por excesso de demanda.

Daí as duas rádios terem que se contentar em fazer o mais do mesmo, repetindo modismos, fórmulas, totens, esquemas. Esse "novo rock", que as duas rádios divulgam e estimulam com a transmissão de sua indigência cultural, soa tão estéril e postiço como o dos anos 1990, que, salvo exceções, foi uma das piores décadas para o Brasil, em praticamente todos os aspectos.

É um rock mais profissionalizado e melhor estruturado, só que falta o principal: criatividade. Afinal, rock não vive apenas de boas cifras financeiras e de um bom aparato técnico e empresarial, se falta aquela coisa própria dos neurônios, fibras, corações e mentes dos verdadeiros artistas que não vivem de se submeterem ao mercado. Renato Russo continua fazendo muita falta.

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