Ainda estamos esperando por grandes bandas de Rock Brasil e, infelizmente, o que se vê é sempre a repetição daquelas mesmas perspectivas dos anos 1990, com muito profissionalismo e sem muita criatividade.
Mais uma vez se procuram bandas brasileiras que, como sempre, são anunciadas a toda semana ou todo mês como a "salvação do planeta", isso quando rádios de happy rock estão aí com o rótulo de "roqueiras", mas jogando mais piadas do que rock de verdade. A banda da vez é a brasiliense Scalene, uma das concorrentes do Super Star, da Rede Globo.
Nas minhas caminhadas pela Praia de Icaraí, um jovem vendedor de quiosque ignora que a avenida que corta a praia tem o nome do antigo dono do jornal O Fluminense, jornalista Alberto Francisco Torres (que investia na saudosa Flu FM) e sintoniza na Rádio Cidade com seus locutores engraçadinhos e seu repertório "roqueiro" água-com-açúcar.
Fico imaginando que "cultura rock" é essa com bandinhas inofensivas, com vocalistas cantando como se estivessem com sono (músicas mais leves) ou disenteria (músicas mais pesadas) e com músicas que parecem canções de ninar com guitarras, valsinhas de baile de debutante com arranjo metal, cantigas de roda com arranjo grunge, fora o que houver de emo gringo por aí.
É claro que a imprensa musical, atrelada a um jogo de interesses envolvendo promotores de eventos, empresários, publicitários, executivos de rádio e TV e coisa e tal, não vai falar mal das "rádios rock" nem das bandas que potencialmente tocariam em rádios do tipo.
Para todo efeito, o jornalista musical é forçado a acreditar, por exemplo, que o Morning Show da Rede TV! é apresentado por um roqueirão da pesada, motoqueiro malvadão que apenas tirou a jaqueta e a barba para enfrentar o calor tropical do Brasil varonil. Nenhum piu se ele tem a voz igualzinha ao de qualquer locutor da Jovem Pan. Façamos de conta que o estilo de dicção é outro.
Indo para o caso da banda Scalene, grupo brasiliense surgido em 2009, tentei ouvir as músicas do grupo e, embora a crítica veja alguma "contemporaneidade" no seu som, ele remete a 20 anos atrás, tempos em que a 89 FM e a Rádio Cidade tinham a blindagem dos grupos Folha e Abril e a Internet era muito incipiente para questionarmos a linguagem e mentalidade pop das duas emissoras.
O grupo, com músicas tipo "Danse Macabre", "Legado" e "Histeria", mais uma vez se lança num reality show musical, o Superstar da Rede Globo, o que queima muito a "façanha" da 89 e Cidade em "lançar" a banda, já que apenas tocam o que uma rede de TV já lançou antes, e dentro de uma competição musical, o que é bastante duvidoso.
Isso porque as duas rádios até agora não bateram o recorde da saudosa Flu FM que, com seis meses em 1982, já tinha lançado uma grande e boa cena roqueira, em época sem Internet, sem informação instantânea e com modismos ainda mais atrasados, já que, pelo menos, hoje, um modismo leva 10 anos para ser totalmente digerido no Brasil e, naquela época, levava uns 15 anos.
Hoje os intérpretes musicais brasileiros têm muita informação cultural, mas não conseguem expressar aquilo que assimilaram. Alguns dias atrás, eu ouvi uma dupla de "sertanejo universitário" que tentava tocar um reggae, e em outros tempos já ouvi falar de duplas usando cítara e "caprichando" na guitarra elétrica. Muita informação, mas nem por isso resultando numa melhor elaboração sonora.
A mesma coisa com Scalene e tantos outros. As gerações recentes tentam caprichar, mas soam confusas. É como o Dishwalla há 20 anos atrás, perdido entre guitarras pesadas, sons concretistas, vocais "confessionais" ou acordes "sarados". Tudo parecendo sofisticado e arrojado na teoria, mas na prática soando indigesto, confuso e, acima de tudo, medíocre.
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