As "esquerdas médias" são aquele setor da esquerda que mistura esquerdistas com menos firmeza para questionar problemas mais profundos e direitistas infiltrados que impõem seus conceitos neoliberais às esquerdas e depois juram que são "esquerdistas para valer".
É o caso de um Pedro Alexandre Sanches que, cria do tenebroso Projeto Folha, discípulo de Francis Fukuyama (Sanches desejava o "fim da História" para a cultura brasileira) e "esquerdista" por profissão.
Foi ele apunhalar as esquerdas pelas costas, esculhambar o Chico Buarque (que, apesar de ser de elite, sempre foi naturalmente solidário com as esquerdas) a ponto de endeusar ídolos da Rede Globo como Luan Santana e Thiaguinho, e abrir caminho para a "urubologia" de Lobão, Rodrigo Constantino e companhia, e Sanches foi premiado com um trabalho no movimento Jornalistas Livres.
E isso com um esquerdismo frouxo, em que Sanches reproduz feito papagaio jargões trazidos pelos ativistas realmente de esquerda. E, com seus (pre)conceitos tecnocráticos - o homem feito escravo da máquina digital - , brinca com as palavras transformando palavras-de-ordem e retrancas em hashtags, como se o ativismo social fosse uma questão de palavras unidas e puxadas por um sustenido.
E sob a influência dele, a intelectualidade "bacana" queria transformar a cultura popular brasileira num McDonald's, numa Disneylândia, com o "bom preconceito" contra pobres usado como desculpa para "romper os preconceitos". Como se pudesse justificar ideias de livre-mercado com falsas alegações de rebelião popular.
E quando todos imaginavam que a choradeira em torno do "funk" havia terminado e os funqueiros passaram a adormecer nas camas do baronato midiático, eis que a intelectualidade "bacana", já desacreditada por suas masturbações pseudo-etnográficas e pelo lixo acadêmico produzido nas universidades, voltou à tona mais uma vez.
EUROCÊNTRICOS?
Duas reportagens do portal da Carta Capital, "O machismo e o preconceito cultural mataram Amanda Bueno", e o texto do Farofafá intitulado "Proteger as crianças", já indicam que as lágrimas intelectualoides da "turminha simplória" cheia de diplomas e visibilidade, voltaram a escorrer. Peguemos nossos guarda-chuvas.
O primeiro texto chega a fazer acusações risíveis dos que criticam o "funk". Acusam o ritmo de ser vítima de uma campanha de uma "elite branca, eurocêntrica e colonizada". Em que planeta vive essa intelectualidade "bacana" e sua etnografia de botequim?
As pessoas que rejeitam o "funk" reivindicam o resgate do samba de raiz, que aos poucos vira patrimônio cultural da Zona Sul. Foi triste ver Paulinho da Viola fazer apresentação gratuita em Madureira, seu berço vital, e ser tratado como artista estrangeiro sobretudo pela imprensa "popular".
Que "eurocentrismo" representamos? Nenhum! Só por defendermos a cultura brasileira de raiz, em detrimento desse "popular de mercado" que aparentemente anima as periferias - e em boa parte patrocinada por fazendeiros e bicheiros que mandam matar trabalhadores - , somos vistos como "eurocêntricos e colonizados".
Como assim? Então até as manifestações culturais indígenas de 500 anos atrás são um subproduto da cultura europeia? Os índios só serão "brasileiros" se vestirem camiseta de time de basquete dos Estados Unidos e calçar tênis Nike?
Será que ser "transbrasileiro" - adaptação que Pedro Alexandre Sanches pegou do "transnacional" de Fernando Henrique Cardoso, colega de partido de Geraldo Alckmin, Beto Richa e Aécio Neves - é que é ser "o verdadeiro brasileiro"?
"FUNK" É QUE É COLONIZADO
E a própria autora do texto, Natália Lausch, que comete uma série de incoerências que mal conseguem caber nesta postagem, desconhece que o "funk" é que é colonizado, e, se não é "eurocêntrico", sofre a mais escancarada influência dos Estados Unidos da América, no seu mais explícito e evidente capitalismo consumista.
Vejamos, ela diz que "o Brasil é 'modificado' para ser vendido para fora e recebe, em troca, toda a bagagem que eles trazem consigo. Isso até lembra a nossa colonização: nos exploram, humilham e desculturalizam". E aí a autora faz sua choradeira dizendo que o "funk" é vítima da "colonização" e "desculturalização". Ahn?!
Ela não deve ter ouvido falar de miami bass, de mercado mafioso por trás daquele "funk" deturpado que não segue James Brown, nem Afrika Bambattaa nem coisa alguma, e que enriqueceu aqueles empresários que, dizem as más línguas, recolhem prostitutas para gravarem discos imitando a Madonna e ameaçam gerentes de FM com revólver para tocarem os sucessos do ritmo.
O "funk carioca" pegou o que havia de pior e mais abjeto do miami bass. O ritmo, que os intelectuais "bacaninhas" querem insistir ter brotado de raízes exclusivamente brasileiras, sempre foi uma reprodução escancarada do que se fazia na Flórida, E ainda não assumem que o "funk" sempre se valeu desse estereótipo da "periferia legal".
E todo esse discurso socializante, choroso, repetitivo e maçante, querendo criar polêmica num copo de água, desconhece que o "funk" é na verdade trabalhado por um empresariado feito de DJs e agenciadores de famosos bastante poderosos, com dinheiro para adquirir pelo menos três latifúndios, mas que a intelectualidade "bacana" os considera "tão pobres" quanto um engraxate de rua.
"FEMINISMO" CONTRADITÓRIO
Quanto ao caráter machista, o "funk" é machista por DNA, seu receituário sempre foi machista e as mulheres sempre desempenharam um papel "sensual", de "mulheres-objeto", próprio do machismo. Sentimos muito pelo horrendo crime que vitimou a Amanda Bueno, mas ele é um efeito da ideologia machista que faz parte do gênero. Isso nada tem de feminismo.
A própria intelectualidade "bacana" não consegue se explicar. Se as mulheres "da periferia" (entenda-se "periferia legal") "sensualizam mais" do que as mulheres de classe média, elas usam a desculpa do "direito ao corpo" para atribuir falso feminismo. E isso vindo de ativistas mulheres que adotam visões contraditórias sobre direitos das mulheres.
Elas falam mal da imagem caricata das mulheres feita pelos comerciais de TV, mas não pensam um segundo sequer se a imagem da "mulher da periferia" de corpo siliconado e anabolizado e rosto plastificado não seria também caricata.
Da mesma maneira, essas mulheres reclamam o "Chega de Fiu-fiu" para as moças de classe média, mas ao mesmo tempo defendem a prostituição e o ato de "mostrar demais" às mulheres simbolicamente vinculadas ao pretexto do "popular", justamente quando essa "sensualidade" compulsiva é que estimula muito mais a ação de assediadores baratos, tarados e estupradores.
O machismo é que cria, nas periferias, as "popozudas" e os milicianos que, num dado momento, são unidos pelas circunstâncias. A intelectualidade "bacana" que só passou a conhecer o povo pobre do Brasil através de documentários britânicos é que não consegue ver a raiz machista do "funk", sobretudo de empresários que se tornam "descobridores" dessas "musas" siliconadas.
CRIANÇADA
Outra contradição se dá no artigo do Farofafá. feito pela antropóloga Adriana Facina. Embora evoque a "preocupação" da intelectualidade com a "sexualização precoce" das crianças, o texto tenta definir como um "mal menor" esse fenômeno, e tenta culpar somente a mídia pela sucessão de mensagens sexuais trazidas pela publicidade, filmes e programas de entretenimento.
O caso foi trazido pelo fato da funqueira mirim MC Melody, filha do também funqueiro MC Betinho, ter gravado números com letras claramente pornográficas, o que chamou a atenção do Ministério Público que está investigando o caso.
O texto menciona os casos de É O Tchan e Xuxa Meneghel, como exemplos de "adultização" das meninas. No caso de Xuxa, essa "adultização" eu já analisava nos meus 16 anos, em 1987. Mas a intelectualidade "bacana" parece creditar os dois casos, sobretudo o É O Tchan, como "casos passados".
Isso se deve porque os dois casos não permitem mais a blindagem intelectual, pelo fato de Xuxa ter sido durante anos estrela da Globo e pelo fato de que é impossível reabilitar com êxito o grupo baiano, hoje restrito ao relativo sucesso comercial na Bahia.
Mas a blindagem em torno do "funk" permite a "pérola" descrita por Adriana Facina: "Um dos grandes méritos do funk como arte e manifestação cultural é trazer essas contradições que ninguém quer ver e que nossa sociedade prefere enfrentar apoiando a redução da maioridade penal".
Quer dizer, a antropóloga alega que a pornografia do "funk" é "provocativa", feita para "criar debate". E empurra com a barriga a questão da sexualidade precoce das funqueiras - acho que pegou mal botar tudo na conta de Gregório de Matos, falecido há mais de 300 anos - , preferindo falar de maioridade penal para crimes cometidos por pessoas entre 16 e 17 anos.
A "URUBOLOGIA" AGRADECE
Essa intelectualidade "bacana", tida como "de esquerda" mas com clara formação neoliberal, que se diz "sem preconceitos" mas é muito preconceituosa na sua imagem espetacularizada e caricata das classes populares, não apresentou a menor coerência de ideias nesses artigos que só foram feitos para fazer publicidade do "funk", através do coitadismo de sempre.
É essa ação de intelectuais "admiráveis", que ocultam seu elitismo etnocêntrico se achando "mais povo do que o próprio povo", que permitiu a ascensão de intelectuais do outro lado, mais reacionários e que agora falam em "melhorias na educação", com uma "solidariedade" às classes populares fingida.
Sim, graças a Pedro Alexandre Sanches e companhia é que temos Rodrigo Constantino, Rachel Sheherazade, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Eliane Cantanhede, Lobão, Luiz Felipe Pondé, Marco Antônio Villa e até Olavo de Carvalho empolgando as massas descontentes e se passando por "progressistas" à sua maneira.
É graças a essa intelectualidade que defende a bregalização do país, que tenta salvar o "funk", que temos Beto Richa batendo em professores em greve, pessoas militando pelo "Fora Dilma" e "Fora PT" e por gente comemorando serenamente os 50 anos da Rede Globo, apoiada até por internautas que fingem odiarem a emissora.
A "urubologia" agradece alegremente aos intelectuais "bacanas" por permitir a ascensão da turma reacionária que finge estar "no lado do povo". O quilo de farinha "pra fazer farofa-fá" acaba se tornando um poderoso alimento para fortalecer e fazer crescerem os urubus da grande mídia.
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