Ainda não apareceu um intelectual cultural verdadeiramente de esquerda, que unisse visibilidade e causas realmente progressistas. Infelizmente, ainda prevalece uma intelectualidade de centro-direita que, por razão das conveniências, ocupa espaços de expressão esquerdistas.
No exterior, tivemos intelectuais que faziam seus questionamentos quanto ao show business e suas ilusões. Os falecidos Jean Baudrillard e Guy Debord são exemplos, como é o ainda vivo e atuante Umberto Eco. Mas, mesmo enfatizando os assuntos políticos Noam Chomsky e o também saudoso Eric Hobsbawm também nunca manifestaram ilusões pseudo-ativistas ao showbiz.
Só que aqui tudo é festa e até tivemos intelectuais culturais de esquerda, como Carlos Estevam Martins, já falecido, e José Ramos Tinhorão, aposentado. Mas, depois disso, veio um vácuo, que apenas é formalmente preenchido por intelectuais de centro-direita que apenas fazem algumas diferenças pontuais na retórica e em alguns posicionamentos sociais genéricos.
Por exemplo, os intelectuais "bacanas" que querem a bregalização do país evitam fazer o discurso "zangado" dos direitistas como Rodrigo Constantino, Reinaldo Azevedo e Rachel Sheherazade. Tentam fazer um discurso positivista, num quadro surreal de uma esquerda cordeirinha e de uma direita loba, não por acaso contando com o roqueiro Lobão como um dos porta-vozes.
Os intelectuais "bacanas", assim definidos por serem uma elite de cientistas sociais, acadêmicos, ativistas e cineastas, entre outros, que se valem da visibilidade e de uma inclinação populista, têm o mesmo apetite de livre-mercado que os "revoltados" e "zangados" da direita intelectual.
No entanto, os "bacanas" se diferem dos "zangados" porque embarcam em causas sociais que, aparentemente avançadas, são voltadas para seus interesses pessoais, como o aborto, a prostituição, a causa LGBT, a maconha, entre outras coisas.
No vácuo de um intelectual cultural de esquerda, o mainstream esquerdista comete o erro de criar um falso paradigma de intelectual esquerdista na figura de jornalistas como Pedro Alexandre Sanches ou dos cineastas que fazem documentários sobre "funk" e coisas similares.
Sanches é uma cria do Projeto Folha, o que poucos conseguem perceber. O Projeto Folha é aquele projeto da Folha de São Paulo marcado por textos curtos, cobertura asséptica (aparentemente neutra) e uma lógica neoliberal. E, segundo José Arbex Jr., um projeto que amputou a influência da esquerda no periódico paulista, quando muito exilada no antigo suplemento Mais!.
Como é que um jornalista que aprendeu todas as regras do jogo na fase neoliberal da FSP, que aprendeu ideias de Francis Fukuyama, Auguste Comte e Fernando Henrique Cardoso e fala em cultura "transbrasileira" ("transnacional"? entreguista?) vai ser considerado um paradigma de intelectual cultural de esquerda? Nem em sonhos!
Dizer não é fazer e o que há de "esquerdista" com QI de extrema-direita nas mídias sociais é surpreendente. Se bem que, passada a euforia do teatrinho "marxcartista" (falso esquerdismo com QI macartista) dos encrenqueiros da comunidade "Eu Odeio Acordar Cedo" do Orkut, essa "galera irada" ficou com a cara maior que a máscara e pede golpe militar junto aos "Revoltados On Line".
Por mais que se faça ataques forçados de tão repetidos contra a Rede Globo e qualquer astro direitista do momento - seja a Veja, seja Eduardo Cunha, Aécio Neves, Silas Malafaia etc - ou embarque em causas como combater a redução da maioridade penal, a defesa do livre-mercado da bregalização musical já o alinha ao lado de seus algozes.
Uma das aberrações dessa postura intelectual é que esses "pensadores" da cultura continuam exaltando os funqueiros, que fingem admirar as esquerdas, mas as apunhalam pelas costas e vão comemorar seus louros abraçados aos barões da grande mídia, Globo, Folha e Caras incluídas.
Enquanto isso, esses "intelectuais de esquerda" que despejam suas lágrimas na Carta Capital, Fórum e Caros Amigos, ou outro espaço similar, esculhambam Chico Buarque, xingado pelo esquerdista-profissional Pedro Alexandre Sanches de "coronel da Fazenda Modelo", só porque ele é de uma família aristocrática.
Mas, com toda a sua formação elitista, Chico Buarque sempre foi solidário às esquerdas nos momentos mais difíceis, do contrário que os funqueiros que em dado momento metem o facão nas esquerdas e vão festejar seu sucesso na Rede Globo ou beijando na boca dos hidrófobos da Folha de São Paulo e da Veja, que esculhamba todo mundo mas põe, feliz da vida, MC Guimê na capa.
Essa intelectualidade que despeja sua choradeira em espaços como o Farofafá - blogue em que o espírito de Francis Fukuyama aparece fantasiado de pierrô bolivariano - não consegue explicar suas contradições, preferindo o silêncio para que suas reações não sejam confundidas com as da "massa cheirosa" à qual não querem se misturar.
Afinal, já é muito que a pregação sorridente-chorosa dos intelectuais pró-brega tenha aberto caminho para os Constantinos, Azevedos, Sheherazades e outros "revoltados", além das pregações reaças do Lobão de hoje. Rodrigo Constantino deve muito a Pedro Alexandre Sanches que, sem querer, emprestou seu microfone aberto para ele, embora o "filho da Folha" tentasse bajular o Rodrigo errado.
CAMISA-DE-FORÇA DOS SUCESSOS RADIOFÔNICOS-TELEVISIVOS
A turminha pró-brega que acha que vai mudar o mundo com um hashtag "maneiro" está ocupando um espaço que deveria ser para pensadores que analisassem o futuro da cultura brasileira sem a camisa-de-força dos sucessos radiofônicos-televisivos nem a ilusão de que plateias lotadas expressem necessariamente a vontade popular.
Isso porque os intelectuais culturais que se autoproclamam de "esquerda", na verdade, defendem formas e estereótipos nada esquerdistas relacionados às classes populares, achando que o povo pobre só é "melhor" quando associado às suas piores qualidades e condições. daí esse engodo teórico chamado "cultura do mau gosto", que intelectuais paternalistas acham "bacana" e "libertário".
O alarme que eles deixaram ligar foi quando os ídolos que eles apoiaram, seja o falecido Waldick Soriano, seja nomes como Zezé di Camargo & Luciano, Banda Calypso, MC Guimê e outros, passaram de alguma forma a serem associados ao direitismo midiático.
Daí ter sido patético eles articularem toda a esquerda, obrigando-a a "aceitar" Zezé di Camargo & Luciano - e isso apesar da blindagem reacionária dos "coxinhas", que patrulhavam quem criticava a dupla nas mídias sociais - , para depois eles manifestarem seu apreço pelo PSDB.
Outro caso foi o choque ao ver que Joelma do Calypso adotou postura homofóbica digna de um Marco Feliciano, criando um clima de impasse na intelligentzia, já que ela procura surfar na corrente dos que apoiam a causa LGBT e não o contrário.
Aliás, é completamente ridículo acreditar que a bregalização cultural traria a "revolução bolivariana" para as classes populares. Essa visão risível fez fortalecer o outro lado, com Rodrigo Constantino e Rachel Sheherazade puxando o coro dos "revoltados" e fingindo-se solidários às classes populares com seu reacionarismo ideológico histérico.
Daí que o velho fantasma dos "luzias" e "saquaremas" do Segundo Império volta, com o liberalismo restivo dos "luzias" que querem um Brasil mais brega cada vez mais parecido com o reacionarismo "liberal" dos "saquaremas" que desejam um Brasil mais ianque.
Só que a cultura "transbrasileira" de Pedro Alexandre Sanches e companhia também aposta no livre-mercado, no subemprego, na degradação cultural. Isso também não é "americanizar"? Como disse Holanda Cavancânti, "nada mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder". Os "revoltados" também comem farofafá.
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