ATENÇÃO: NOVO LIVRO DE RODRIGO FAOUR TEM ALERTA DE MUITA PASSAGEM DE PANO NA MEDIOCRIDADE CULTURAL.
A intelectualidade "bacana" contra-ataca. Estamos em 2002, conforme nos lembra as esquerdas deslumbradas que se esqueceram que o golpe político que as atingiu realmente existiu.
Paciência. O Brasil tem doenças muito mais graves que a Covid-19, a malária e o chikungunya, embora não provocasse efeitos de ordem física, mas podem causar, diante de efeitos psicológicos indiretos.
Boa parte dos brasileiros sofre da Síndrome de Dunning-Kruger, que é a mania de todo ignorante se achar mais inteligente do que quem é realmente inteligente. Acreditem, tem muita gente burra que fica se achando, mesmo, e ainda não gosta de ser contrariada.
Temos também a Espiral do Silêncio, que faz com que muita gente cética vire crédula para não ficar sozinha fora de uma festa, e vemos pessoas de visão coerente em muitas coisas aderirem a vergonhosas bobagens, tudo para ganhar amigos e ir para eventos legais.
Temos ainda o Efeito Forer, que é aquela mania de supor que duas coisas iguais são diferentes. É uma espécie de falta de discernimento pelo avesso, quando se vê diferença onde não existe.
É o caso, por exemplo quando se fala que dois locutores de rádio, Emílio Surita da Jovem Pan e Demmy Morales, da Rádio Cidade, tem exatamente o mesmíssimo estilo de locução, sem tirar nem pôr.
Mas muitos pensam que os dois têm "estilos diferentes" porque um anuncia músicas de BTS, Britney Spears e Rihanna e outro anuncia músicas de Nirvana, Metallica e Iron Maiden.
O Brasil atualmente vive o risco de uma catástrofe política, vivemos um processo de idiotização cultural crônica e o pessoal achando que "está tudo bem".
E ainda temos a supremacia, nas análises culturais, de intelectuais que variam entre o intelectual "bacana" que defende a bregalização cultural com ardor e o jornalista cultural "isentão" que é mais cauteloso, mas mesmo assim também dá suas passagens de pano.
Um ícone da intelectualidade "bacana", Rodrigo Faour, citado no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes..., lançou novo livro, com um título muito pretensioso.
O título é História da Música Popular Brasileira... Sem Preconceitos. O "sem preconceitos" é de embrulhar o estômago, porque é um alerta de muita passagem de pano e muito rasgo de seda em muita mediocridade musical.
Espera-se, por exemplo, que se dê o mesmo valor a um Belchior e aos Barões da Pisadinha, só para entender o drama. E o "funk", então, deve ter muita gente anunciada como a "salvação da humanidade".
O livro é uma garantia de que o joio e o trigo estarão "juntos e misturados" e Michael Sullivan, compositor medíocre e péssimo letrista, terá a glória de ser considerado "melhor do que Tom Jobim", esse compositor "americano" com sobrenome de Brasileiro.
Para quem tem estômago forte, pode ler o livro de Rodrigo Faour com o cuidado de não ir na onda das apologias dele, porque muita porcaria vai ser elogiada sob a desculpa do "combate ao preconceito", essa falácia que mais cria preconceitos do que combate.
Afinal, quando se aceita a bregalização, o que se aceita é a visão depreciativa de um povo pobre rebaixado, pela chamada "indústria cultural", a caricatura de si mesmo. Em outras palavras, a cultura popularesca já mostra o povo pobre de maneira muito, muito preconceituosa.
Não há como acreditar que aceitar a bregalização seja combater o preconceito de verdade.
Mas para quem quer mesmo ter uma visão realmente relevante de música brasileira, é melhor percorrer outras fontes.
Tem os livros de José Ramos Tinhorão, falecido há pouco tempo, que, descontado o problema da sua aversão a ritmos de influência estrangeira, são excelentes documentos historiográficos para conhecer e entender as raízes culturais brasileiras.
Música Popular: Um Tema em Debate é o ponto de partida na bibliografia de Tinhorão, e, embora o livro original seja de 1966, recomenda-se a edição de 1997 em diante, mais atualizada.
O livro Dias de Luta, de Ricardo Alexandre, é um excelente documento para entender o Rock Brasil, como ele surgiu e como ele fez sucesso e entrou em decadência.
Os livros de Mário de Andrade sobre música, incluindo o volume Pequena História da Música, são também fundamentais para conhecer a história musical através dos estudos do grande poeta e intelectual modernista.
Para quem quer entender a música rural de verdade, o ex-jornalista de Realidade, José Hamilton Ribeiro, também repórter do Globo Rural (Rede Globo), é autor do importante livro Música Caipira: as 270 Maiores Modas de Todos os Tempos.
E eu mesmo, modéstia à parte, tenho a segunda edição do Música Brasileira e Cultura Popular em Crise, que precisou de algumas atualizações e revisões, devido aos fatos que apareceram depois da publicação do livro.
Só com alguns desses livros, nem precisa se preocupar com a "provocatividade" de Rodrigo Faour.
Vamos aprender a ler livros melhores do que ficar enriquecendo autor de best seller. Ao menos devemos controlar um pouco os impulsos da Espiral do Silêncio e dar espaço a nossos desejos e necessidades.
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