Pular para o conteúdo principal

RÁDIOS COMERCIAIS "DE ROCK" VIVEM DE TRANSTORNO BIPOLAR


O maior problema das rádios comerciais ditas "de rock" é que elas sofrem de transtorno bipolar.

Existem momentos que elas se aproximam do pop, e em outros que elas tentam ser mais roqueiras.

Tudo um grande fracasso.

Vamos combinar que a crise na cultura rock no Brasil não é porque as FMs tocam "coisa velha", como se houvesse um maniqueísmo fácil entre o velho e o novo.

É porque as rádios ditas "de rock", com toda a passagem de pano da crítica em geral - o último a passar o pano na 89 FM de São Paulo foi o jornalista Pedro Antunes, do UOL - , sempre atuaram pela canastrice.

Primeiro, essas rádios recrutavam locutores que parecem terem sido tirados de algum "lixo" das FMs pop mais convencionais, e, às vezes, de rádios popularescas chulas.

Daí que você ouve, na programação diária da maioria das emissoras que se autoproclamam "rádios rock", locutores falando igualzinho ao Emílio Surita ou ao Celso Portiolli ou locutoras que parecem estar apresentando um programa de TV para crianças.

Pouco importa se eles ficam mais presos aos textos do que seus congêneres das rádios poperó da vida.

Porque mesmo lendo notas que mais parecem extraídas das Kerrang! e New Musical Express da vida, o modo de dicção, a forma de entonação e as maneiras de falar e comentar as coisas são iguais aos de qualquer DJ bobalhão das Jovem Pan e Band FM da vida.

Estive num sebo de livros, para comprar um livro de Slavoj Zizek, e a loja estava transmitindo o programa "Duas da Tarde", da 89 FM. Parecia programa da Metropolitana FM, pela voz do seu enjoativo locutor.

Tem muito sabidão na Internet achando que "rádio rock" precisa "vender", "viabilizar a audiência" etc, mas os procedimentos que na prática fazem essas rádios virarem "rádios pop que só tocam rock", o que é um tiro nas veias do pé.

E aí vemos esse comportamento bipolar da quase totalidade das "rádios rock" que entrou no ar desde o final dos anos 1980, com toda a canastrice radiofônica mais abusiva.

Num momento, essas rádios se comportam como se estivessem prestes a aderir ao pop. Hits fáceis de um A-ha da vida, as breguices dos Mamonas Assassinas, e os locutores soltando a franga, metidos a cantar junto, fazendo voz operística caricata e falando gírias a torto e a direito.

No outro, querem forçar a barra na postura roqueira, jogando Angra e até King Diamond e Adolescents na programação normal, carregando no falso radicalismo que faz certos módulos musicais parecerem usinas de tantas guitarras distorcidas e barulhentas.

Foi esse transtorno bipolar que eu, ouvinte da Fluminense FM (Niterói) nos anos 1980, me enfurecer, ao longo dos anos, com as desventuras "roqueiras" da 96 FM (Salvador), 89 FM (São Paulo) e Rádio Cidade (Rio de Janeiro).

Encarar locutores poperó como Thiago Mastroianni (96 FM), Demmy Morales (Rádio Cidade) e Tatola e Zé Luís (ambos 89 FM), entre tantos outros "profissionais de rock", foi dose para leão. Aguentar tanta canastrice radiofônica em nome do "bom e velho rock'n'roll" foi terrível.

Eles até possuem uma boa pronúncia em inglês, mas além de não terem o estilo de locução próprio para o radialismo rock, eles não têm o conhecimento de causa nem passam a menor credibilidade para representar a cultura rock para o público.

E hoje o público mais jovem se acostumou mal com essas rádios comerciais "de rock" que o que era falso virou "autêntico".

Tem até cinquentão ouvindo, numa boa, esses "Celso Portiolli de jaqueta de couro" que se atrevem a anunciar AC/DC, Sepultura e Garotos Podres como se fossem os Backstreet Boys.

E aí foi vergonhoso ver a imprensa roqueira e musical séria, no Rio de Janeiro, passar pano na canastrice radiofônica da Rádio Cidade. 

Da Internacional Magazine aos órfãos da Maldita, todo mundo estava adotando postura complacente à Cidade, que nunca honrou sua história de rádio pop e foi surfar no prestígio da Flu FM, com claro propósito de apropriar e se promover com o legado e o carisma da extinta FM niteroiense.

Era uma vergonhosa Política da Boa Vizinhança, que acabou cobrando um preço muito caro, fazendo do Rio de Janeiro o túmulo da cultura rock, abrindo as porteiras para a "sofrência sertaneja" que, concorrendo com o "funk", faz das praias cariocas uma extensão dos currais de gado bovino.

Esse transtorno bipolar das "rádios rock" fez com que o público de rock, que antes tinha coragem para garimpar raridades, ficasse prisioneiro das zonas de conforto do hit-parade roqueiro, cada vez mais óbvio, previsível e perdido em clichês cada vez mais idiotas e banalizados.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

DENÚNCIA GRAVE: "MÉDIUM" TIDO COMO "SÍMBOLO DE AMOR E FRATERNIDADE" COLABOROU COM A DITADURA

O famoso "médium" que é conhecido como "símbolo maior de amor e fraternidade", que "viveu apenas pela dedicação ao próximo" e era tido como "lápis de Deus" foi um colaborador perigoso da ditadura militar. Não vou dizer o nome desse sujeito, para não trazer más energias. Mas ele era de Minas Gerais e foi conhecido por usar perucas e ternos cafonas, óculos escuros e por defender ideias ultraconservadoras calcadas no princípio de que "devemos aceitar os infortúnios e agradecer a Deus pela desgraça obtida". O pretexto era que, aceitando o sofrimento "sem queixumes", se obterá as prometidas "bênçãos divinas". Sádico, o "bondoso homem" - que muitos chegaram a enfiar a palavra "Amor" como um suposto sobrenome - dizia que as "bênçãos futuras" eram mais dificuldades, principalmente servidão, disciplina e adversidades cruéis. Fui espírita - isto é, nos padrões em que essa opção religi...

CRISE DA MPB ATINGE NÍVEIS CATASTRÓFICOS

INFELIZMENTE, O MESTRE MILTON NASCIMENTO, ALÉM DE SOFRER DE MAL DE PARKINSON, FOI DIAGNOSTICADO COM DEMÊNCIA. A MPB ainda respira, mas ela já carece de uma renovação real e com visibilidade. Novos artistas continuam surgindo, mas poucos conseguem ser artisticamente relevantes e a grande maioria ainda traduz clichês pós-tropicalistas para o contexto brega-identitário dos últimos tempos. Recentemente, o cantor Milton Nascimento, um dos maiores cantores e compositores da música brasileira e respeitadíssimo no exterior por conta de sua carreira íntegra, com influências que vão da Bossa Nova ao rock progressivo, foi diagnosticado com um tipo de demência, a demência de corpos de Lewy. Eu uma entrevista, o filho Augusto lamentou a rotina que passou a viver nos últimos anos , quando também foi diagnosticado o Mal de Parkinson, outra doença que atinge o cantor. Numa triste e lamentável curiosidade, Milton sofre tanto a doença do ator canadense Michael J. Fox, da franquia De Volta para o Futuro ...

BURGUESIA ILUSTRADA QUER “SUBSTITUIR” O POVO BRASILEIRO

O protagonismo que uma parcela de brasileiros que estão bem de vida vivenciam, desde que um Lula voltou ao poder entrosado com as classes dominantes, revela uma grande pegadinha para a opinião pública, coisa que poucos conseguem perceber com a necessária lucidez e um pouco de objetividade. A narrativa oficial é que as classes populares no Brasil integram uma revolução sem precedentes na História da Humanidade e que estão perto de conquistar o mundo, com o nosso país transformado em quinta maior economia do planeta e já integrando o banquete das nações desenvolvidas. Mas a gente vê, fora dessa bolha nas redes sociais, que a situação não é bem assim. Há muitas pessoas sofrendo, entre favelados, camponeses e sem-teto, e a "boa" sociedade nem está aí. Até porque uma narrativa dos tempos do Segundo Império retoma seu vigor, num novo contexto. Naquele tempo, "povo" brasileiro eram as pessoas bem de vida, de pele branca, geralmente de origem ibérica, ou seja, portuguesa ou...

A HIPOCRISIA DA ELITE DO BOM ATRASO

Quanta falsidade. Se levarmos em conta sobre o que se diz e o que se faz crer, o Brasil é um dos maiores países socialistas do mundo, mas que faz parte do Primeiro Mundo e tem uma das populações mais pobres do planeta, mas que tem dinheiro de sobra para viajar para Bariloche e Cancún como quem vai para a casa da titia e compra um carro para cada membro da família, além de criar, no mínimo, três cachorros. É uma equação maluca essa, daí não ser difícil notar essa falsidade que existe aos montes nas redes sociais. É tanto pobre cheio da grana que a gente desconfia, e tanto “neoliberal de esquerda” que tudo o que acaba acontecendo são as tretas que acontecem envolvendo o “esquerdismo de resultados” e a extrema-direita. A elite do bom atraso, aliás, se compôs com a volta dos pseudo-esquerdistas, discípulos da Era FHC que fingiram serem “de esquerda” nos tempos do Orkut, a se somar aos esquerdistas domesticados e economicamente remediados. Juntamente com a burguesia ilustrada e a pequena bu...

NEGACIONISTA FACTUAL E SUAS RAÍZES SOCIAIS

O NEGACIONISTA FACTUAL REPRESENTA O FILHO DA SOCIALITE DESCOLADA COM O CENSOR AUSTERO, NOS ANOS DE CHUMBO. O negacionista factual é o filho do casamento do desbunde com a censura e o protótipo ilustrativo desse “isentão” dos tempos atuais pode explicar as posturas desse cidadão ao mesmo tempo amante do hedonismo desenfreado e hostil ao pensamento crítico. O sujeito que simboliza o negacionista factual é um homem de cerca de 50 anos, nascido de uma mãe que havia sido, na época, uma ex-modelo e socialite que eventualmente se divertia, durante as viagens profissionais, nas festas descoladas do desbunde. Já o seu pai, uns dez anos mais velho que sua mãe, havia sido, na época da infância do garoto, um funcionário da Censura Federal, um homem sisudo com manias de ser cumpridor de deveres, com personalidade conservadora e moralista. O casal se divorciou com o menino tendo apenas oito anos de idade. Mas isso não impediu a coexistência da formação dúbia do negacionista factual, que assimilou as...

A IMPORTÂNCIA DE SABERMOS A LINHA DO TEMPO DO GOLPE DE 2016

Hoje o golpismo político que escandalizou o Brasil em 2016 anda muito subestimado. O legado do golpe está erroneamente atribuído exclusivamente a Jair Bolsonaro, quando sabemos que este, por mais nefasto e nocivo que seja, foi apenas um operador desse período, hoje ofuscado pelos episódios da reunião do plano de golpe em 2022 e a revolta de Oito de Janeiro em 2023. Mas há quem espalhe na Internet que Jair Bolsonaro, entre nove e trinta anos de idade no período ditatorial, criou o golpe de 1964 (!). De repente os lulistas trocaram a narrativa. Falam do golpe de 2016 como um fato nefasto, já que atingiu uma presidenta do PT. Mas falam de forma secundária e superficial. As negociações da direita moderada com Lula são a senha dessa postura bastante estranha que as esquerdas médias passaram a ter nos últimos quatro anos. A memória curta é um fenômeno muito comum no Brasil, pois ela corresponde ao esquecimento tendencioso dos erros passados, quando parte dos algozes ou pilantras do passado r...