Hoje, 12 de setembro, foi o dia do protesto da direita juvenil comandada pelos grupos Movimento Brasil Livre (aka Movimento Me Livre do Brasil) e Vem Pra Rua.
Foram protestos em algumas cidades e capitais, pedindo o impeachment de Jair Bolsonaro, mas também contrários às causas de esquerda.
As manifestações se tornaram, mesmo, minifestações, tanto pelo caráter anacrônico do protesto, quanto pela sua hipocrisia.
No primeiro caso, porque reativaram um antipetismo risível das marchas "coxinhas" de 2015-2016, segundo porque agora se voltam contra o Bolsonaro que ajudaram a fortalecer.
Astros como Kim Kataguiri, Renan Santos e Fernando Holiday nem sequer conseguiam ter algum brilho, ainda mais com o MBL acusado da corrupção que reprovava (e inventava) dos outros.
Houve também a patética campanha "BolsoLula" com um "pixuleco siamês" com caricaturas de Lula e Bolsonaro agarrados entre si.
Só Lula aparece com roupa de presidiário, o que mostra que o MBL se diz oposição a Bolsonaro, mas sempre acabam passando pano para quem é de direita, como é de praxe em movimentos "contra tudo que está aí".
Lula não é corrupto, mas, lamentavelmente, também não está triunfando como se imagina. E aí está, também, o grande fracasso que as esquerdas, perdidas no seu transe instagramiano, se recusam a perceber.
Lula se esqueceu do líder sindical que havia sido há cerca de 50 anos. Se limitou a fazer um discurso no 06 de setembro que nada teve de realista.
No discurso, Lula forjou um otimismo incompatível com os tempos de hoje, em vez de dizer o que deveria dizer, como "Vamos passar por momentos difíceis, vou me esforçar para recuperar o Brasil, mas teremos que enfrentar impasses, não será fácil e não iremos chegar ainda a dias melhores".
E Lula também não articula passeatas diárias das esquerdas, como elas mesmas se recusaram a fazer passeatas constantes.
As esquerdas não aguentam fazer protestos em sábados consecutivos. Mas Jair Bolsonaro é capaz de comparecer a dois protestos num mesmo dia, um de manhã e outro à tarde.
Para evitar constrangimentos, o Comitê Fora Bolsonaro uma data "intermediária" entre o Sete de Setembro e o Quinze de Novembro, o dia 02 de outubro. Deveriam realizar protestos no dia 12, porque pelo menos estaria de acordo com as esquerdas infantilizadas de hoje.
O Brasil não está socialmente bom, nem culturalmente bom, nem politicamente bom. Economicamente, está pior ainda. Aumentam os moradores de rua, as periferias são palco de violência com os pobres revoltados, enquanto, por outro lado, as elites rentistas levam suas fortunas para paraísos fiscais.
Lula está fazendo tudo errado na sua tentativa de levar vantagem nas eleições.
Faz alianças sem critérios, sob o pretexto de "defender a democracia", e se esquece que, com isso, ele está assumindo a conta que vai pagar ao fazer acordos com seus opositores moderados, mas ainda assim opositores.
Seu governo terá que ser mais próximo de um arremedo de "terceira via" do que do projeto político que o próprio Lula tem em mãos.
Sem possibilidade de agir com autonomia política, Lula poderá personificar a mesma história que vimos com João Goulart e Dilma Rousseff. Seu governo será inicialmente conservador para agradar o mercado e, quando avançar para causas sociais e trabalhistas, será golpeado pela direita.
As esquerdas estão fragilizadas porque não buscaram protagonismo.
Elas poderiam ter feito protestos no Doze de Setembro em outros lugares, mas a má vontade dos organizadores é notória.
Perderam tempo sem fazer manifestações que, constantes, poderiam ter pressionado o país para derrubar Jair Bolsonaro. Dias atrás, por muito pouco a democracia não foi extinta no nosso país.
É um erro estratégico grosseiro "segurar" Bolsonaro e aguentá-lo sob o pretexto de que ele "levará uma surra" nas urnas em 2022.
Isso porque Bolsonaro cresce e, infelizmente, as outrora minifestações cresceram em público, independente de ter sido pago ou não. E olha que já não se tem mais um Sérgio Moro para apoiar e arrumar um fã-clube extra para as passeatas.
As esquerdas ficam em casa com sua memecracia e tricotando tuitaços e, isolada em casa e acovardada na sua zona de conforto, se passam por "vitoriosas" e ficam ridicularizando bolsonaristas e terceiro-viáveis na boa vida de suas casas.
A coisa está muito grave para os esquerdistas, que se comportam como o coelho do conto de fadas, que desiste da competição achando que sua vitória está antecipada.
Vejamos. Lula "desaparece" no Sete de Setembro, passa uns dias "fora" das agendas de esquerda, para depois retornar falando de assuntos fora de contexto, como o aborto.
As esquerdas não mencionaram suas próprias passeatas no Sete de Setembro, o que indica terem sido um fiasco - como no 24 de Julho, com 200 mil manifestantes a menos que o 03 de Julho - , e preferiram, através da Projeção Psicológica, atribuir fracasso aos bolsonaristas.
(Fracasso? Xi, esqueci que, para ser entendido, tenho que apelar para o portinglês, tendo que dizer que as manifestações das esquerdas "floparam" senão os milenials ficam sem saber o que é)
E aí os manifestantes reduzirão, e as esquerdas se perdem nessa falta de diálogo com o povo, acomodadas e conformadas com a memecracia.
Os protestos esquerdistas de Sete de Setembro não viraram notícia, Lula "sumiu" dos noticiários e até a mídia de esquerda deixou os protestos dos movimentos progressistas de lado.
Na boa, eles caíram no esquecimento. As esquerdas mostraram sua impotência e não assumem, mas há um clima de desânimo e incapacidade de derrubar Bolsonaro.
O Comitê Fora Bolsonaro se revela um desastre, e não consegue ser um movimento de verdade, porque, enquanto marca protestos com longos intervalos e, na última hora, têm que emendar protestos "intermediários" depois, Bolsonaro ganha tempo e o aproveita de maneira mais versátil.
É certo que as esquerdas são a única força possível para protestar contra Jair Bolsonaro. Mas o problema é que as esquerdas não querem pôr essa responsabilidade em prática.
Nem Lula, que se esqueceu que, nos anos 1970, atraía grandes demandas de trabalhadores para ouvi-lo nos protestos proletários do ABC paulista.
Consta-se que o próprio João Goulart, no fim da vida, estava começando a observar, esperançoso, aquele torneiro mecânico que, em pleno período do AI-5, liderava protestos de trabalhadores.
Cadê aquele Lula? O que hoje temos é distante do torneiro mecânico de outrora, um político que acha que está tudo bem no Brasil e que o bolsonarismo é apenas "uma marolinha".
Ele teve o tempo para agir comandando protestos de ruas com grandes multidões ocupado avenidas e praças, pedindo a queda de Bolsonaro. E teria forçado o Comitê Fora Bolsonaro a organizar passeatas mais constantes, até mesmo em dias úteis.
Tivemos maio, junho e julho para derrubar Bolsonaro, um período de férias e flexibilização dos cuidados com a pandemia, e poderíamos hoje estar sendo governados pelo general Antônio Hamilton Mourão ou pelo deputado Arthur Lira.
Em vez disso, as esquerdas se perdem na memecracia e começam a pagar o preço caro de sua acomodação, de seu "ativismo de sofá".
Enquanto as esquerdas riem da terceira via, ela começa a se articular. Acham que a terceira via é "ruim de voto", mas vai que o empresariado investe num candidato que vai dar uma rasteira em Lula.
As esquerdas estão decepcionantes e já se fala em uma "frente única contra a esquerda". E para quem acha que é um ressentido da direita que diz isso, se enganou. Quem fez esse alerta foi um ex-ministro de Dilma Rousseff, o experiente, lúcido e realmente progressista Eugênio Aragão.
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